Ao contrário de muitas histórias de ficção, que falam de um apocalipse zombie, “The Last of Us” segue um caminho diferente. Na série da HBO, que já se tornou um fenómeno da cultura pop, a audiência é apresentada a um mundo devastado por uma pandemia fúngica. Fora deste universo apocalíptico, os fungos retratados são reais — e podem manipular outros seres vivos.
Na adaptação do videojogo de sucesso, lançado em 2013 com o mesmo nome, a infeção é capaz de transformar humanos em criaturas irreconhecíveis. Logo na cena inicial, um debate sobre pandemias coloca um especialista a defender o perigo dos fungos, enquanto o outro investigador se opõe à teoria: “Infeções desse tipo são reais, mas não em humanos”, é dito.
Fora do ecrã, os fungos retratados na produção, do género Cordyceps, já são estudados desde 1818, quando o investigador sueco E.M. Fries os batizou. Os parasitas existem em florestas um pouco por todo o mundo e, embora não afetem seres humanos, têm a capacidade de alterar o comportamento de outros insetos.
Para criarem o videojogo, Neil Druckmann e Bruce Straley inspiraram-se num episódio da série “Planeta Terra”, da “BBC”, que usou as formigas como exemplo. No documentário, o parasita levava o animal a mover-se para locais onde se pode proliferar. Acabavam por surgir esporos e tentáculos nas chamadas “formigas zombie”. A morte do animal dá-se alguns dias após a infeção.
Apesar de existirem mais de 400 espécies de Cordyceps, que atingem espécies diferentes, todas têm uma necessidade em comum. Precisam de certas condições de temperatura e de humidade para se alastrar — o que não encontram na temperatura corporal elevada dos seres humanos.
Ainda assim, a teoria apresentada pelo investigador na série parece muito realista: “É verdade que os fungos parasíticos não sobrevivem se a temperatura do hóspede estiver acima dos 34 graus e, atualmente, não existe nenhum motivo que leve a que os fungos evoluam no sentido de resistirem a temperaturas mais altas. Mas e se isso mudasse? E se, porventura, o mundo começasse a aquecer?”
Embora a comunidade científica reconheça o flagelo do aquecimento global, os especialistas afirmam que a evolução é improvável. De acordo com a microbióloga Charissa de Bekker, citada pela “BBC”, “o sistema nervoso dos insetos é mais simples do que o nosso, pelo que é muito mais fácil sequestrar o cérebro de um inseto do que um cérebro muito mais complexo, como o de um ser humano”.
Eis que surge, então, outra preocupação. É certo que o fungo não nos pode transformar em zombies, mas os fungos continuam a estar na origem de várias doenças devastadoras. Existem milhões de espécies destes parasitas no mundo, o que torna a ameaça de uma pandemia real devido “ao volume de fungos no meio ambiente”, diz o médico Neil Stone à “BBC”. “Não estamos preparados para lidar com uma pandemia fúngica.”