“Decidi emprestar a minha vida às pessoas”, começa por dizer Clerson Pacheco, de 54 anos, fundador e diretor artístico da Soul Alegria, uma organização brasileira que leva a alegria às unidades hospitalares e que, em 2025, promete chegar a Portugal.
“Criei este projeto em 2011 quando estava a passar por uma fase difícil. Comecei a fazer visitas em hospitais públicos de São Paulo que apoiam pessoas carenciadas. Queria dar-lhes um bocadinho de alento e felicidade”, justifica. Natural de Porto Alegre, fez uma formação para se tornar palhaço profissional, apesar de já fazer parte de um grupo antes de surgir a Soul. “Na altura trabalhava numa multinacional, mas decidi sair e dedicar a minha vida a isto.”
A maioria dos grupos semelhantes têm como alvo as crianças. Não é o caso. A Soul Alegria quer focar-se precisamente nos adultos. “Quando a organização nasceu, havia muitos grupos dedicadas aos mais jovens e ninguém olhava para os mais velhos. Nós quisemos fazer algo diferente. Além de levarmos animação aos pacientes, também brincamos com as equipas de médicos, enfermeiros, pessoal da limpeza. Basicamente, todos os que se cruzarem no nosso caminho.”
O nome é um trocadilho entre “eu sou alegria” com “alegria com alma”. “Quando a mente está feliz, o corpo fica bem, por isso eu quis entregar alguma para as pessoas que estão a passar por momentos delicados de saúde”, explica.
No inicio da organização começou a integrar o Hospital do Servidor Público Municipal, a Santa Casa da Misericórdia e um espaço privado. Apenas no ano seguinte, em 2012, se uniram mais três pessoas ao grupo e que por lá permanecem.
Cada um tem uma personagem. Clerson interpreta o Dr. Miojo, Bruno Basso é o Dr. Gracinha, Paulo Everson é o Dr. Jão e Michelle Marques encarna a Drª. Mimi Bananais.

Apesar de serem apenas quatro palhaços profissionais, a equipa já foi composta por cerca de 100 voluntários durante a pandemia da Covid-19. Habitualmente atuam em duplas e ficam nas unidades durante cerca de quatro horas. “Quando chegamos procuramos saber com os profissionais de saúde quem são as pessoas que estão a precisar mais de um visita nossa e é por elas que começamos”, explica.
Apesar de terem criado vários jogos, adivinhas e até uma diversão com cartas, Clerson refere que há quem prefira desabafar apenas sobre o que está a passar e que as visitas são o que a pessoa quiser. “O nosso objetivo é descontrair o ambiente, mas deixamos que seja o paciente a escolher a forma de o fazer.”
O mundo empresarial também começou a ser uma aposta da Soul durante a pandemia. “As empresas começaram a pedir os nossos serviços porque sentiam que os colaboradores estavam fragilizados.”
Numa primeira abordagem faziam sessões online, mas rapidamente evoluiu para outros serviços como ginástica, workshops e um curso de comunicação lúdica. Os pedidos são vários, desde uma simples sessão de exercícios com elementos de animação, como invasões de reuniões para tornar o ambiente menos sério e stressante.
Estes serviços podem ser adquiridos no nosso País, em formato online. Uma visita especial com os Drs. Palhaço dura 20 minutos e tem o custo de, aproximadamente, 149€. Uma sessão de ginástica LaborClown tem até 20 minutos e pode ser comprada por cerca de 74€, por semana ou quinzenalmente.
A vinda para território português é um sonho antigo do fundador. “Sempre quis levar a Soul para fora do Brasil. Em 2020 fizemos várias sessões com a Alzheimer Portugal e correu muito bem, por isso decidi avançar.”
Neste momento estão em negociações com várias empresas e unidades hospitalares para se instalarem de vez e trazer alegria a todos os pacientes.
Para o futuro, Clerson quer apenas que seja dada mais atenção aos adultos e às suas necessidades. “Ao contrário das crianças, as pessoas mais velhas pensam muito na finitude. É preciso ajudá-los a olhar para o lado bom e é isso que tentamos fazer como palhaços: levar alegria e leveza a quem está a passar por um momento menos positivo.”