“Num dos momentos mais complicados da minha vida, perdi a vontade de viver e cheguei a considerar acabar com tudo.” A luta contra a obesidade que acompanha Tomás Carvalho desde a adolescência levou-o a atravessar uma das fases mais sombrias da sua existência. Com apenas 22 anos, já passou por vários internamentos hospitalares devido ao excesso de peso e a episódios de depressão.
“Até aos 10 anos era normal, mas os meus avós, que eram alentejanos e sempre foram gordinhos, influenciaram a minha alimentação. Cresci com eles, e a boa comida sempre estava presente à mesa. Isso, aliado a maus hábitos alimentares e à falta de conhecimento sobre o que era ou não saudável, fez com que ganhasse peso a mais”, começa por contar o jovem natural do Barreiro à NiT.
Tomás aponta o diagnóstico de obesidade como um marco importante na sua jornada, quando dores de cabeça severas o levaram ao hospital. Aos 15 anos já pesava 118 quilos e apresentava picos de hipertensão e pré-diabetes. Este diagnóstico foi “um choque” e decidiu que era hora de mudar de vida. Começou a adotar uma alimentação mais equilibrada e a caminhar 10 quilómetros diariamente e conseguiu perder 25 quilos sem apoio profissional.
Em 2021, Tomás frequentou um curso de cozinha e pastelaria na Escola Técnica e Profissional da Moita. Assim que se formou, começou a trabalhar na área da hotelaria e, posteriormente, na cozinha. “Conciliar uma alimentação saudável com os horários de trabalho era complicado e acabei por me descontrolar. Deixei de ir ao ginásio e de me preocupar com o que comia e acabei por recuperar 10 quilos”, recorda.
O facto de se ter dedicado profissionalmente ao mundo da restauração representa um desafio ainda maior. “A reeducação alimentar não se resume a evitar doces ou salgados. Tenho de me esforçar para contornar esta dificuldade e adapto pratos mais calóricos a opções mais saudáveis.” Nesse período da sua vida, em menos de um ano, perdeu vários membros da família e passou por um processo de luto profundo. “Entrei em depressão e ganhei 40 quilos em menos de seis meses, atingi os 150. Aí decidi procurar ajuda psicológica.”
Entre o final de 2022 e 2023, os problemas de saúde agravaram-se devido à obesidade, incluindo dificuldades respiratórias. Tomás começou a equacionar submeter-se a uma cirurgia bariátrica e decidiu investigar a fundo todo o processo. “Optei pelo privado porque, se fosse pelo sistema público, teria de esperar quatro anos. Fui avaliado por uma equipa médica e realizei a cirurgia a 3 de abril de 2024.”
Quando se submeteu ao procedimento pesava 171 quilos. O custo médio de uma cirurgia bariátrica ronda os 8000€, mas Tomás optou por suportar todos os gastos. “Assim que acordei da operação, perguntei-me se tinha tomado a decisão certa, porque sentia muitas dores. Contudo, foi a primeira e última vez que pensei dessa forma. Convenci-me de que precisava estar preparado para receber tudo de bom que estava por vir.”
O período de recuperação varia de 15 dias a um mês, mas devido à natureza física do seu trabalho, levou cerca de um mês e meio. Assim que teve alta, Tomás começou a caminhar 10 minutos por dia, aumentando gradualmente o tempo. No primeiro mês, perdeu 20 quilos e, no segundo, mais 16.
“É uma sensação incrível, porque estou a realizar o maior sonho da minha vida. Lutei muito por isto e sinto que era a chave para sair do buraco. Todos os dias tenho um motivo para sorrir, mesmo que seja apenas porque as calças estão mais largas ou porque consigo sentar-me numa cadeira.”
No terceiro mês após a cirurgia, começou a frequentar o ginásio para aumentar a massa muscular e evitar a flacidez. Atualmente, pesa 118 quilos, treina até cinco vezes por semana e é acompanhado por um nutricionista especializado em pós-operatórios. O seu plano alimentar é restrito, limitando-se a um máximo de 1200 calorias diárias, com o objetivo final de atingir 100 quilos.
“Perdi muito peso em pouco tempo, por isso sei que preciso respeitar o meu corpo e dar-lhe tempo para alcançar o que pretendo”, confessa. “Querer mudar é fundamental”, sublinha. “Se não o fizermos, tudo voltará à estaca zero.”
Entretanto, Tomás criou uma página no Instagram onde conta a sua história, que utiliza como uma ferramenta para alcançar outros jovens que estejam a passar pela mesma situação. “Poucas pessoas da minha idade sabem que realizar este tipo de cirurgia é uma possibilidade.”
Quanto ao futuro, os seus planos incluem continuar a trabalhar até alcançar o corpo dos seus sonhos. “Estou a pensar em fazer um curso de coaching para poder ajudar a mudar a vida de outras pessoas”, acrescenta.
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