Segundo as últimas atualizações, nos países em que o vírus Monkeypox não é endémico, já se registaram mais de 200 infeções — em Portugal, o número de casos confirmados de varíola de macacos encontra-se nos 49. Não surpreende, portanto, que a busca por soluções para combater o surto esteja a todo o vapor.
A Moderna, por exemplo, encontra-se a testar potenciais vacinas contra a doença em estudos pré-clínicos. Enquanto isso, um estudo publicado esta terça-feira, 24 de maio, na revista científica “The Lancet Infectious Diseases”, relata o primeiro uso de antivirais contra a doença.
A pesquisa, conduzida por uma equipa de investigadores britânicos, “analisou, retrospetivamente, quatro pacientes diagnosticados com este vírus de 2018 a 2021”, refere o “Público”. A estes foram dados um de dois antivirais: tecovirimat e brincidofovir.
As conclusões apontam para a existência de poucos ou nenhuns benefícios no uso destes medicamentos. Ainda assim, o tecovirimat, testado em apenas um paciente, foi o que mostrou ser mais promissor, ao diminuir o período de contágios e de sintomas. O grupo ressalva, contudo, que nenhum resultado pode ser considerado definitivo, uma vez que a amostra é bastante reduzida.
“Isto não foi um ensaio clínico, mas uma observação num paciente, portanto são necessários mais estudos. Mas é um resultado importante no atual surto, quando vemos mais casos a cada dia e os médicos poderão ter de tomar decisões rápidas sobre tratamento sem uma base robusta de evidência”, explica Hugh Adler, do Hospital Universitário de Liverpool, um dos autores do artigo agora divulgado.
Já o brincidofovir, administrado sete dias após o aparecimento de erupções cutâneas, não apresentou benefícios em nenhum dos três pacientes. Os dois fármacos são indicados para o tratamento da varíola humana.
Ao “Público”, Adler contou que o artigo já estava preparado. “Nós já queríamos partilhar este conhecimento com a comunidade científica. Acaba por ser uma feliz coincidência que seja publicado a tempo de informar os médicos a gerir todos estes casos de VMPX no mundo”.
Varíola dos macacos: que doença é esta?
A varíola dos macacos, como é conhecida, é uma patologia viral, geralmente transmitida pelo toque ou mordida de animais selvagens portadores do vírus Monkeypox, como macacos e roedores na África Ocidental e Central. O período de incubação da doença é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar entre 5 e 21.
A Direção-Geral da Saúde alerta que “os indivíduos que apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço, devem procurar aconselhamento clínico”.
Na presença de sintomas, é importante “abster-se de contacto físico direto com outras pessoas e de partilhar vestuário, toalhas, lençóis e objetos pessoais enquanto estiverem presentes as lesões cutâneas, em qualquer estadio, ou outros sintomas”, acrescenta. Aos contactos de risco recomenda-se o isolamento por 21 dias.
Esta enfermidade é, em muitos aspetos, semelhante à varíola humana erradicada em 1979 — mas menos transmissível e menos mortal. Por isso, o risco para a saúde pública é considerado baixo, mas, em alguns casos, a doença pode evoluir para sintomas mais graves.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta a interrupção da vacinação contra a varíola humana em 1980 como um dos motivos que justificam o surto de infeções que se tem vindo a registar em muitos países.
Leia também sobre a descoberta, feita em Portugal, que pode ser fundamental para perceber a origem do surto e as causas da rápida disseminação da doença.