Dizem que é o novo “método milagroso” para perder peso rapidamente sem passar fome ou treinar durante horas no ginásio. Mas, como qualquer atalho, também tem algumas desvantagens — que, infelizmente, muitas das pessoas que recorrem ao medicamento parecem negligenciar. Além dos riscos desnecessários para a saúde, há um efeito secundário bem mais grave: o uso indevido do Semaglutido está a condicionar o acesso aos pacientes que realmente precisam do fármaco nas suas terapêuticas.
O Ozempic — o nome comercial para o Semaglutido em Portugal — consegue mimetizar as hormonas que regulam a sensação de saciedade, podendo promover perdas de peso de cerca de 15 por cento. Mas, por cá, é utilizado para combater uma das condições mais prevalentes no País: a diabetes. O fármaco ajuda a desacelerar o processo de progressão da doença. Seja para controlar a patologia crónica, ou para ajudar a emagrecer, o medicamento da Novo Nordisk tem mudado a vida de muitas pessoas que vivem com excesso de peso.
O facto de potenciar a perda de peso tem levado a uma corrida desenfreada atrás deste injetável, vendido em caixas com quatro doses. Porém, nem todos têm reagido bem ao medicamento. Vertigens, vómitos, dores insuportáveis ou episódios psíquicos são algumas das queixas associadas à toma do Ozempic. Os efeitos secundários têm deixado os profissionais de saúde em alerta.
Investigadores da Universidade de Jeddah e de Tripoli, na Arábia Saudita e Líbia identificaram uma potencial ramificação rara destes medicamentos, que põe em causa a segurança dos semaglutidos. As conclusões foram publicadas no jornal científico “International Journal of Clinical Pharmacy” a 24 de janeiro, e revelam que várias pessoas que utilizaram o medicamento acabaram com episódios psíquicos graves e raros.
“Qualquer medicamento tem os aspetos positivos e negativos, ou efeitos adversos”, avança à NiT Miguel Afonso, gastroenterologista da Gastroclinic. “O uso de forma indiscriminada, sem controlo e de forma expressiva traz riscos. O surgimento destes fármacos que são realmente eficazes no controlo do peso e supressão de apetite não são exceções”, acrescenta.
O especialista em gastroenterologia admite que estes medicamentos têm efeitos adversos e que, por isso, é necessário um acompanhamento rigoroso por parte de profissionais. No caso do excesso de peso, Miguel Afonso sublinha que o Ozempic só é eficaz quando acompanhado de uma reeducação alimentar e a implementação de hábitos saudáveis. Se não for assim, quando deixar de tomar o fármaco o paciente pode recuperar o peso perdido, ou, mais grave, ganhar ainda mais do que tinha inicialmente.
“Temos verificado, assim como vários estudos, que quando alguns pacientes suspendem o medicamento ganham apetite e voltam a engordar.” Há também quem desenvolva problemas crónicos, como a gastroparesia. Uma condição que se assemelha a uma “paragem de digestão”, mas para sempre. Ou seja, as pessoas ficam com vómitos e náuseas crónicos.
O aumento da procura pelo Ozempic levou a uma escassez do medicamento. As farmácias têm longas listas de espera e a farmacêutica que o produz — a dinamarquesa Novo Nordisk — até se viu obrigada a racionar as doses do fármaco na Europa. Esta condição levou a que muitos pacientes deixassem de o tomar sem o desmame devido. E, como consequência, muitos experimentaram episódios psíquicos graves, desde desejo de automutilação e pensamentos suicidas, como revelam os investigadores do recente estudo. A relação está ainda a ser estudada, mas os profissionais pedem cautela no uso deste injetável.
“É preciso ter um uso criterioso deste tipo de fármacos. Estão indicados para quem tem obesidade e diabetes tipo 2, ou eventualmente que estão em elevado risco de desenvolver a doença. Não é para todo o tipo de pessoas com excesso de peso, muito menos para quem não tem qualquer problema de saúde. É fundamental haver um acompanhamento médico”, sublinha Miguel Afonso.
O Ozempic revelou-se uma aposta de sucesso da farmacêutica dinamarquesa que, em 2022, conseguiu duplicar as receitas e tornar-se na segunda empresa mais valiosa da Europa. A Novo Nordisk é também responsável pela comercialização do Wegovy, semelhante ao Ozempic. Os dois fármacos juntos correspondem a 43 por cento das receitas totais da empresa.
Aproveite e leia o artigo da NiT sobre os casos de Nuno e Maria que embora tenham objetivos semelhantes, tomam o Ozempic por razões distintas. Enquanto Maria estava determinada em emagrecer, Nuno precisava de controlar a progressão da diabetes. Ambos tiveram perdas de peso drásticas.