Para muitos, a chegada da primavera não é apenas sinónimo de dias mais quentes e jardins floridos. É também época de espirros, nariz entupido, olhos irritados e comichão na garganta, por exemplo. O aumento do pólen no ar é uma das principais causas das alergias sazonais que afetam milhares de pessoas. Luís Enrique, treinador do clube de futebol Paris Saint-Germain, é uma delas. No entanto, conseguiu ver-se livre destes sintomas, de uma forma curiosa.
O ex-jogador afirmou, no documentário “You Have no Fucking Idea”, que conseguiu acabar com as alergias depois de começar a praticar “earthing” — ato de andar descalço, em contacto direto com a terra. Na missérie documental sobre a sua carreira, que pode ser vista na Prime Video, Luís Enrique, de 54 anos, é filmado a andar descalço num campo de futebol, enquanto chove.
O técnico revela que este é um hábito que o ajuda a sentir-se mais conectado com a natureza, mas também é uma forma de combater os sintomas das alergias respiratórias de que sofria, anualmente.
“Há mais de um ano que faço earthing/grounding”, começa por revelar. “Tinha alergias todas as primaveras. Tive de deixar de andar de bicicleta. Desde que o faço, desapareceram”, afirma e acrescenta: “Gosto muito da conexão com a natureza”.
A esta prática são apontados benefícios como a redução da ansiedade e do stress e a melhoria qualidade do sono. Talvez isso explique a reação de Luís Campos, diretor desportivo do clube parisiense, no seguimento das declarações do treinador: “Não sabia que podia existir um ser humano com tanta energia como o Luís. É incrível”.
“Grounding” é caracterizada como uma forma de terapia alternativa. Tem, assim, por base andar com pés descalços em superfícies naturais, como relva, areia ou terra, pretendendo que este contacto direto com a natureza equilibre a carga elétrica do corpo, trazendo benefícios para a saúde.
A prática é também conhecida por “Earthing” (com raízes na palavra “Earth”, que significa Terra), graças a Clint Ober, um eletricista que, em 1990, que usou este termo, baseando-se nos princípios utilizados pelos eletricistas para estabilizar a energia.
A partir dos anos 2000, a prática popularizou-se entre entusiastas de terapias de saúde alternativa e de bem-estar holístico, mas trata-se de uma crença ancestral — várias culturas antigas acreditavam que todos os seres vivos estavam conectados às energias da Terra.
Hoje em dia, os benefícios apontados são: redução do stress e da ansiedade; redução da inflamação, graças à neutralização de radicais livres (moléculas instáveis e reativas que se formam no corpo devido a fatores como poluição, radiação UV, tabagismo e stress); melhorias no sono, ao manter o ritmo circadiano; melhor circulação sanguínea; e redução do risco de doenças cardiovasculares.
Além disso, andar descalço frequentemente pode ser uma forma de melhorar a postura e fortalecer os músculos dos pés, como explica à NiT o personal trainer Pedro Faria. “Quando os pés estão em contacto direto com o chão, as terminações nervosas enviam informações ao cérebro sobre o ambiente e o nosso organismo: como é o terreno (plano, irregular, macio, duro ou arenoso), se o peso do corpo está bem distribuído, se a postura está ajustada e outras sensações ligadas diretamente à perceção corporal”.
Passar tempo na natureza é um exercício recomendado por médicos, com efeitos positivos comprovados. Contudo, andar descalço em ambientes naturais ainda não alcançou um consenso científico no que toca à sua eficácia. Não existem ainda investigações científicas que confirmem a convicção do técnico espanhol.
Os estudos existentes são limitados, e produzidos por grupos ligados à prática. Em fevereiro deste ano, o jornal “The Guardian” destacou que os especialistas não comprovam os alegados benefícios.