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Edifícios abandonados: o palácio na Arrábida onde Jackie Kennedy viveu e que está à venda por 45 milhões

É uma das propriedades mais incríveis do País, com uma história riquíssima, mas está ao abandono e ninguém a quer comprar.

Em outubro de 1962, em plena crise dos mísseis cubanos, as mulheres dos políticos e generais norte-americanos foram aconselhadas a deixar temporariamente os maridos. Quase todas concordaram — era mais seguro assim. Só houve uma esposa que se recusou: Jacqueline Kennedy. “Mesmo que não haja espaço no abrigo anti-bombas da Casa Branca, eu só quero ficar contigo e morrer contigo. E as crianças também”, disse-lhe na altura a primeira dama, segundo recorda o livro “Jacqueline Kennedy: Historic Conversations on Life with John F. Kennedy”.

Jackie construiu uma personagem ao lado de J. F. Kennedy. Fosse ou não uma farsa, ela aparentava ser a mulher guerreira, aquela que se debatia contra os médicos, políticos e jornalistas, às vezes até contra aqueles do seu próprio círculo. Pelo marido, ela era capaz de fazer tudo — ou pelo menos achava que sim. Na biografia sobre a antiga primeira dama norte-americana, publicada em 2014, a autora Barbara Leaming afirma que Jacqueline se responsabilizou pela morte do marido até ao fim. Se ao menos ela tivesse ouvido aquele primeiro disparo.

Pela propriedade com 600 hectares, é frequente encontrar-se casais ou grupos de amigos a explorar o local

Foi uma mulher frágil e de luto que chegou ao Palácio da Comenda, na Serra da Arrábida, em Setúbal, logo após o assassinato do marido, em 1963. Jacqueline Kennedy veio para Portugal com os dois filhos pequenos, Caroline e John, a convite dos condes D’Armand — ao que parece, os franceses eram muito amigos dos Kennedy. E é isto: estas duas frases que acabámos de escrever resumem tudo o que se sabe sobre a alegada estadia de Jackie em Setúbal — o que leva alguns especialistas a acreditarem que a história até possa nem ser bem assim. Não há mais certezas.

É impossível passar perto do Palácio da Comenda e não ser atraído pela sua beleza. No topo de um pequeno monte banhado pelo rio Sado, o edifício está ao abandono desde a morte do empresário António Xavier de Lima, em 2009. Pela propriedade, com 600 hectares, é frequente encontrar-se casais ou grupos de amigos a explorar o local. A grande maioria não se fica apenas pelos terrenos e jardins, e percorrem depois os cinco pisos que compõem o edifício.

Entre portas e janelas partidas, os azulejos (a grande maioria partidos) estão lado a lado com os graffities. Há algumas frases mórbidas, como “I see dead people” (eu vejo pessoas mortas), mas também desenhos mais artísticos como o do rapaz de caracóis, calções e ar aborrecido ou a rapariga cujo corpo é uma enorme bola onde se lê “de barriga cheia”.

Há zonas em muito mau estado dentro do Palácio. Algumas das escadarias de madeira parecem prestes a ceder, e nos últimos pisos há áreas em que o telhado já abateu. Ainda assim, no meio de toda a destruição e atos de vandalismo, há uma sala onde ainda resta uma parede de azulejos com a imagem de dois marqueses. E assim tão de repente, esquecemos o caos dos vidros partidos e do entulho, e somos transportados para os outros tempos do Palácio da Comenda — aqueles onde com ou sem Jacqueline Kennedy, o Palácio da Comenda estava no máximo do seu esplendor.

O Palácio da Comenda ainda pertence à família Xavier de Lima e está há vários anos à venda. Na página da imobiliária SCI, a propriedade está avaliada em 45 milhões de euros.

Carregue na imagem acima para saber mais sobre a história do Palácio da Comenda.

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