Foi entre críticas e aplausos que chegou o anúncio da nova creche de Braga, o Clube dos Pequenos. Tudo porque o espaço aposta em horários fora do comum para este tipo de estabelecimentos. Por lá, os miúdos podem chegar a partir das 6h30 e o horário de saída mais tardio é as 00h30. Mais: está aberta todos os dias do ano.
Naturalmente, a aposta gerou discussões entre os que veem neste modelo uma forma de apoio aos pais sem alternativas e que enfrentam trabalhos por turnos a horários não convencionais, e os que consideram que serve para abrir portas a um modelo disfuncional de família, no qual a separação entre pais e filhos é cada vez mais normalizada em nome do trabalho.
“Não passam de críticas infundadas”, responde Jorge Pereira presidente do Centro Social Vale do Homem (CSVH), a instituição responsável pela criação do Clube dos Pequenos. “Estamos abertos das 6h30 à 00h30, mas os bebés não podem permanecer mais do que 11 horas na creche, tal como está estabelecido na lei pela Segurança Social”, sublinha à NiT o responsável.
Além desta limitação diária, existe também o limite de permanência de apenas 11 meses por ano, reitera Jorge Pereira. “Desde que haja respeito pela criança, esta é uma solução para resolver os problemas de quem trabalha com horários alargados. Não acontece só nos hospitais, quem trabalha num lar, por exemplo, também tem turnos noturnos.”
Para lá da limitação de permanência, subsistem preocupações sobre as “vantagens e desvantagens” deste tipo de estabelecimentos, conforme explicava à NiT a psicóloga familiar Rute Agulhas. “Os bebés precisam do convívio e interação frequente com as suas figuras cuidadoras”, sublinha. “Na primeira infância, para assegurar um desenvolvimento saudável, é fundamentar que se sintam envolvidos na presença dos adultos com quem vão estabelecer uma relação de vinculação segura, securizante.” Algo que só acontece, segundo a especialista, se existir “tempo de interação, com qualidade”.
O principal objetivo do Clube dos Pequenos, que abre já no próximo dia 16 de dezembro, segunda-feira, é apoiar os pais da zona que trabalham com horários alargados. “É uma forma de dar resposta aos colaboradores da Universidade do Minho e do Hospital de Braga, e não só, que muitas vezes têm turnos maiores e trabalham à noite”, realça.
Certo é que a procura parece não faltar. Desde o início das inscrições, abertas em janeiro, o espaço recebeu, até ao momento, 444 pedidos. A maioria ficará sem resposta, já que o Clube dos Pequenos tem apenas capacidade para 92 bebés com idades dos zero aos três anos.
Os critérios de seleção são os mesmos associados à Creche Feliz, a rede de creches gratuitas que têm acordo com a Segurança Social: os desempregados, por exemplo, têm prioridade neste momento. Outros fatores, como a área de residência, a profissão dos pais e a avaliação social e económica da família também influenciam a decisão.
A aposta do Centro Social Vale do Homem, explica o presidente, passa por criar precisamente um “lugar seguro e flexível”, “sem restrições de horário e que permita “uma maior conciliação da vida profissional e familiar”.
Cada bebé, explica o responsável, terá uma rotina específica de acordo com os horários praticados no seio familiar. “Se a criança jantar às 20h, aqui vai jantar também a essa hora. Tentamos dar a mesma qualidade de vida no seu a dia.” A partir de janeiro de 2025, a creche irá disponibilizar serviços de babysitting.
Com abertura marcada para 16 de dezembro, a creche terá no seu espaço seis salas, duas para cada ano (dos zero aos 12 meses, dos 12 aos 24 meses e dos 24 aos 36 meses), além de contar com 24 trabalhadores que trabalharão por turnos e que são especializados nas mais diversas áreas, desde terapia ocupacional ou musicoterapia.
A creche é também totalmente gratuita, exceção feita a possíveis atividades extracurriculares. “Numa fase inicial estamos a assumir por nossa conta e risco, mas estamos a trabalhar por fazer parte da Creche Feliz, a rede de creches gratuitas da Segurança Social”, adiantam os responsáveis.
Em março deste ano, existiam em Portugal apenas cinco creches a funcionar à noite ou ao fim de semana, segundo os dados recolhidos junto do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social pelo “Diário de Notícias”. O Clube dos Pequenos, em Braga, vem assim juntar-se às que já se encontram em funcionamento noutras regiões do País: duas em Lisboa, uma no Porto, uma Coimbra e outra em Portalegre.
A construção da nova creche, situada na Rua Caixas de Águas, em Gualtar, exigiu um investimento de 2,3 milhões de euros, com 875 mil euros obtidos através do Plano de Recuperação e Resiliência, PRR.
