Em Portugal, estima-se que a Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) afete cerca de 60 mil pessoas, segundo os dados disponibilizados pela Associação de Apoio e Inclusão ao Autista. Em todo o mundo, é um fenómeno que atinge cerca de 15 por cento da população de forma direta e cerca de 30 por cento de forma indireta, considerando os familiares dos cuidadoras. Ainda assim, são poucas as ofertas turísticas especialmente dirigidas às suas necessidades. É precisamente essa lacuna que o Azores All in Blue procura corrigir.
Este projeto de turismo inclusivo (com uma componente de investigação) nasceu nos Açores, em plena pandemia, com um objetivo simples: melhorar a qualidade de vida dos miúdos que sofrem deste distúrbio. Porquê? Porque todos têm o direito de viajar e ter momentos de lazer, sem terem de ficar hospedados em hotéis que não estão preparados para os receber.
“Não é difícil compreender que as famílias com crianças com PEA possam ter necessidade de férias e períodos de lazer, no sentido de diminuir a sobrecarga a que estão expostos. Contudo, não poucas vezes, acabam por desistir de uma qualquer viagem por não encontrarem ofertas turísticas especialmente dirigidas às suas necessidades”, sublinha Carlos Rodrigues, diretor-geral da Açoreana DMC, empresa promotora do Azores All in Blue.
Tendo em conta que os Açores são um destino turístico seguro, “com características naturais ímpares e sustentável” e reúne um “conjunto de potencialidades que lhe permite proporcionar experiências de lazer, plenas de tranquilidade e bem-estar”, o projeto pretende ajudar os agentes turísticos do arquipélago a criarem as condições necessárias para possibilitarem experiências iguais para todos e sem os “constrangimentos que levam os pais das crianças com PEA a excluírem-se de atividades de lazer”.
Mas, então, como é que se pode resolver esta lacuna? Após os resultados das investigações realizadas, o Azores All in Blue conseguiu perceber as ações mais relevantes para a criação de programas acessíveis — e as empresas nem precisam de gastar muito dinheiro nem de fazer emgrandes alterações estruturais. Adaptar os contextos às sensibilidades sensoriais dos miúdos, dotar o alojamento de uma atmosfera mais reservada ou de maior privacidade, criar check-in e acessos prioritários, disponibilizar atividades diversificadas e adaptadas que incluam uma componente terapêutica e qualificar os profissionais nos vários serviços através de formação específica em turismo inclusivo dirigido a pessoas com PEA são algumas das mudanças que podem fazer toda a diferença.
Ao longo destes dois anos têm feito vários estudos para perceberem como isto poderá ser implementado nos Açores. Começaram por avaliar as necessidades e preferências dos cuidadores e o interesse e conhecimento dos operadores turísticos no arquipélago. Depois, desenvolveram medidas e respostas concretas para essas necessidades. Atualmente, o Azores All in Blue está a preparar-se para receber famílias com miúdos autistas e proceder à avaliação da sua experiência turística nos Açores.
“Procuramos identificar e descrever a avaliação que as famílias vão fazer das suas experiências turísticas e, especificamente, do impacto da experiência que percecionam nos mais novos, sobretudo, ao nível do seu bem-estar”, sublinha. Esta última fase do projeto servirá para aperfeiçoarem as respostas e os produtos turísticos já definidos, para que possam tornar os Açores um destino de referência a nível internacional para pessoas que sofrem com este distúrbio.
O projeto Azores ‒ All in Blue é gerido pela Fundação Gaspar Frutuoso, que conta com uma equipa de investigadores da Universidade dos Açores, e resulta do empenho do Centro de Desenvolvimento Infanto-Juvenil dos Açores (CDIJA) e a Agência Açoreana de Viagens do Grupo Bensaude (Açoreana DMC). Em dezembro de 2022, venceram o Prémio Nacional de Turismo na categoria Turismo Inclusivo.
“Encaramos a atribuição desta distinção como uma importante validação do nosso projeto e um enorme incentivo para continuarmos a desenvolver o trabalho que temos feito. Vamos continuar a diligenciar no sentido de realizar os sonhos de todos os que quiserem vir passar férias aos Açores, mesmo daqueles que julgaram um dia isso ser impossível”, afirma Carlos Rodrigues.