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Edifícios abandonados: este palácio em Lisboa está em ruínas

Recebeu o rei de Portugal, esteve no centro de uma batalha legal que durou 73 anos e hoje está abandonado há mais meio século.

A vegetação começou a engolir a casa, a porta principal foi vandalizada por um graffiti, a tinta estalou das paredes e a humidade tomou conta do palácio. A custo, sobrevivem alguns painéis de azulejos, embora só em 2006 tenham sido saqueadas 930 peças.

É esta a triste história da Quinta das Águias, uma propriedade que, nos seus tempos áureos, chegou a receber o rei de Portugal. Abandonada há mais de meio século, a propriedade com mais de 300 anos está à venda no Idealista por 17,5 milhões de euros. O site da imobiliária diz que há um projeto para reconverter o espaço num hotel de charme de cinco estrelas. É um T42: tem 32 quartos, dez suites e, de bónus, um amplo jardim. 

 

Escondida por trás da movimentada Rua da Junqueira, a história do Palácio das Águias, ou Quinta das Águias, remonta a 1713. Foi nesse ano que Manuel Lopes Bicudo, advogado da Casa da Suplicação (nome dado ao tribunal supremo de Portugal), decidiu aproveitar um dos seus terrenos para construir uma quinta para viver com a mulher.

Em 1731, Bicudo vendeu a propriedade a Diogo de Mendonça Corte-Real, Secretário de Estado durante o reinado de João V. Tinha 55 anos.

A quinta sofreu várias modificações nesta altura: para além da nova organização dos jardins, ganhou uma capela que continha, sobre o altar, uma pintura da Anunciação. A obra ficou a cargo do artista francês Pierre-Antoine Quillard, pintor da corte de D. João V. Pouco se sabe sobre este trabalho, pelo que se calcula que tenha ficado destruída no terramoto de 1755.

Àquela casa, Corte-Real dedicou os seus últimos cinco anos de vida (faleceu em 1736), e organizou grandes bailes e galas. Entre os convidados de algumas destas festas esteve o próprio rei de Portugal, D. João V.

A batalha legal pela Quinta das Águias durou 73 anos. Quem ganhou a casa, vendeu imediatamente a casa, claro. Tinham um advogado com mais de sete década de honorários por receber.

A casa foi herdada pelo filho, Diogo de Mendonça (tinham exatamente o mesmo nome), que também serviu o rei — não D. João V, que faleceria em 1750, mas o filho que lhe sucedeu, D. José I. No início foi nomeado, em pompa e circunstância, Secretário de Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos. Só que a relação não durou muito: D. José I ficou tão insatisfeito com o trabalho do “júnior” que, seis anos depois, obrigou Diogo de Mendonça a sair de Lisboa.

Durante os primeiros anos de exílio, a quinta ficou aos cuidados de uma governanta francesa, Maria Josefa Catherine du Pressieux. Em 1758, Diogo de Mendonça arrendou a casa à filha, Maria Francisca, e ao marido, D. José Manuel — que, já agora, também era irmão de Diogo de Mendonça mais novo. Eram outros tempos.

Diz-se que Diogo de Mendonça queria deixar a casa à filha quando morresse, porém Maria Francisca não soube cuidar daquela que seria a sua futura herança. A quinta ficou em mau-estado, e Diogo de Mendonça recuou na vontade de lhe dar a propriedade. Estávamos em 1764. Nesse mesmo ano, a mulher foi exilada para Angola — ninguém sabe bem porquê — e começaram as disputas entre a família.

A batalha legal pela Quinta das Águias durou 73 anos. A justiça acabou a decidir em favor da Santa Casa da Misericórdia, o conselho que representava uma parte da família. E o que é que eles fizeram? Venderam imediatamente a casa, claro. Tinham um advogado com 73 anos de honorários por receber. Assim foi.

Nas décadas seguintes, o palácio foi passando de proprietário em proprietário. Em 1890, foi adquirido pelo médico e professor Fausto Lopo Patrício de Carvalho, que efetuou obras profundas na casa e nos jardins. O projeto de restauro contou com a colaboração dos arquitetos Vasco Regaleira e Jorge Segurado.

O nome Quinta das Águias já vinha desde os tempos de Diogo de Mendonça Corte-Real (o pai), mas foi nesta altura que foram construídas águias de pedra, incluíndo em ambos os lados do portão principal. A propriedade fez parte do legado da família Carvalho até 1990 e, desde então, ninguém sabe ao certo o que aconteceu. A quinta caiu nas mãos dos bancos, e pertence atualmente a um fundo do BES.

Abandonada há quase meio século, a Quinta das Águias está à venda desde 2010. À época, o valor rondava os 20 milhões de euros. Agora desceu para 17,5 milhões.

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