Algures nos anos 70, as irmãs Marília, Manuela e Olga estavam a regressar do trabalho de bicicleta, por uma estrada de terra batida, cheia de poças de água, quando Marília caiu. Nem Manuela nem Olga, que vinham logo atrás, tiveram tempo de travar e poucos segundos depois, estavam as três no chão, completamente molhadas.
“Ó, bezerras, porquê é que quiseram vir por aqui?”, disse Marília na altura. No início, as irmãs ficaram chateadas com a situação, mas o momento tornou-se numa recordação engraçada que ainda hoje as faz rir — e que fez surgir a alcunha pela qual se chamam até hoje: “bezerrinhas.”
“Tínhamos regressado a casa à hora de almoço, porque vivíamos perto do trabalho”, recorda à NiT Manuela, de 78 anos, que prefere ter o apelido reservado publicamente. “Quando regressámos à empresa, depois de termos caído, comecei a chamar bezerrinhas a todas e ficou até hoje. É um nome carinhoso.”
O que não esperavam era que, quase 40 anos mais tarde, o nome se tornasse viral nas redes sociais. Manuela e Marília, de 80, ainda se estão a habituar às atenções que têm recebido desde que um vídeo seu a conversar se tornou viral na página de Instagram de Andreia Pinelas, de 33 anos, neta de Marília e comissária de bordo.
A publicação, feita a 18 de fevereiro, juntou quase três milhões de visualizações e mostra as duas irmãs (que são também vizinhas) a terem uma conversa engraçada sobre uma das maiores discussões de sempre — Manuela prefere os hambúrgueres do McDonald’s e Marília, os do Burguer King.
“O vídeo foi completamente espontâneo”, confessa à NiT Andreia. “Como sou tripulante de cabine, passo muito tempo fora e quando estou cá com a minha avó, tento sempre levá-la a fazer coisas que ela nunca tenha feito na vida. Naquele dia, fomos experimentar o Burger King e quando vínhamos a chegar a casa, encontrámos a minha tia Manuela na rua e decidi gravar.”
A conversa genuína entre as duas irmãs conquistou milhões de utilizadores, entre eles o cantor Diogo Piçarra, que chegou a comentar a publicação, a dizer que também preferia o “Barbaquim”, como Marília chama ao restaurante de fast food. Andreia confessa que não estava à espera que o vídeo chamasse tanto a atenção, até porque já tinha partilhado outros que não tiveram o mesmo alcance.
“Acho que as pessoas, no fundo, ficaram um bocado saudosistas, porque a minha avó e a minha tia representam um Portugal rural e genuíno, que já está a ficar um pouco esquecido”, partilha. “Sentiram um aconchego no coração ao ver estas duas senhoras a ter uma conversa completamente banal, mas tão rica e espontânea. Depois tem um caráter humorístico, porque elas são super engraçadas.”
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As duas irmãs vivem atualmente na Margem Sul, mas cresceram no norte do País. Ambas trabalharam durante mais de 40 anos numa estufa de flores e estiveram sempre ligadas à terra. Ainda hoje, já reformadas, dedicam-se à plantação e à jardinagem, sublinhando que é no campo, no meio das árvores, onde se sentem mais felizes.
Manuela costuma ser mais tímida, já Marília está sempre pronta para partir numa nova aventura. “A minha irmã ficou um pouco nervosa [com toda a atenção], mas é também danada para a pangalhada”, conta Marília, entre risos. “Está sempre a brincar que agora somos muito famosas.”
Recentemente, Andreia levou a avó pela primeira vez a um hotel e a um spa, tendo partilhado alguns momentos no Instagram. “Poder ajudá-la a viver tudo isto para mim é uma sensação de coração cheio”, sublinha. “Nunca vou conseguir pagar tudo o que a minha avó fez por mim, desde que era pequenina até à minha idade atual.”
A tripulante de cabine acrescentou: “Conhecendo a vida de trabalho e de sacrifício que ela teve até aos dias de hoje, para mim faz todo o sentido proporcionar momentos que façam valer a pena. Nunca é tarde para viver e para aproveitar a vida. Ela teve uma vida de muito sacrifício e trabalho, devia ter aproveitado mais.”
Para Marília, cada momento que passa a aproveitar a vida com Andreia é uma alegria. Hoje, tem alguns problemas de mobilidade por causa da idade, mas nunca deixa que isso a afete. “Se a minha netinha me levar, eu não vou dizer que não”, brinca. A única coisa que ainda não teve coragem de experimentar, por causa do medo que sente, é viajar de avião. No entanto, a família está a incentivá-la a ir.
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