Na cidade

A curiosa história das jacarandás, as árvores que pintam Lisboa todas as primaveras

São lindas e capazes de alegrar as ruas de qualquer cidade. Mas também têm piolhos, cheiram mal e libertam um líquido que nos cola ao chão.
Aparecem na primavera.

São originárias do Brasil e entraram em Portugal por escolha do Jardim Botânico, devido à sua beleza e características particulares. Anunciam o final a chegada da primavera e quando as folhas caem deixam um manto roxo que se tornou conhecido como “Purple Rain”, numa alusão à famosa música de Prince. Em Portugal, só sobrevivem em zonas abaixo de Lisboa, já que o seu ADN tropical não tolera o frio. Estamos, claro, a falar das lindas, famosas e fotogénicas jacarandás. 

São motivo de encanto para muitos que as consideram um verdadeiro quadro vivo e um forte símbolo da capital. Afinal, criam um cenário visual deslumbrante, pintando de roxo as ruas desde a primavera até ao final do verão. No Parque das Nações existe até um Jardim de Jacarandás que está aberto durante todo o ano.

Apesar de assistir ao espetáculo natural, todos os anos, poucos lisboetas conhecem realmente a história destas árvores. As jacarandás vieram para Lisboa no início do século XIX, por ordem do Jardim Botânico da Ajuda, por serem bonitas e diferentes de tudo o que existia no País naquela altura.

Quando chegaram, os botânicos tinham sérias dúvidas de que elas se adaptassem ao clima da cidade — spoiler alert, adaptaram. No entanto, por ser uma árvore tropical, anda em contra ritmo de outras espécies. Dá as primeiras flores quando as restantes já estão cobertas.

Segundo a Câmara Municipal de Lisboa, a época de floração dos “Jacaranda mimosifolia” depende das condições meteorológicas, mas começa normalmente em meados de maio. Por vezes, apresentam uma segunda floração em setembro, “embora seja mais raro e nunca tão exuberante como a de primavera/verão”.

A sua beleza, no entanto, não convence quem detesta ver os carros e os pavimentos com as flores caídas, sujando vidros e colando as solas dos sapatos ao chão. Nas zonas mais movimentadas, como as Avenidas Novas, o mau cheiro é também um enorme motivo de desconforto para os clientes que ficam nas esplanadas.

Há ainda outro fator que irrita alguns lisboetas: as folhas dos jacarandás são um verdadeiro pesadelo para quem sofre de doenças respiratórias, como rinite alérgica. E, sim, há várias queixas na Câmara Municipal de Lisboa por causa dos jacarandás. “As reclamações chegam sobretudo na época de floração quando a flor começa a cair e torna os pavimentos muito sujos e com um cheiro eventualmente desagradável”, diz a autarquia.

São também uma preocupação para os seus defensores, já que os jacarandás podem ser atacados por piolhos na primavera, e se isso acontecer em árvores muito jovens pode conduzir ao enfraquecimento geral, pois dizimam as folhas rapidamente e os exemplares jovens demoram a recuperar.

As localizações mais emblemáticas desta espécie em Lisboa, sobretudo por terem muitos exemplares adultos, são a Avenida Dom Carlos I, início da Alameda Edgar Cardoso (do Marquês para cima), Campo Pequeno (no jardim, destacam-se dos plátanos fazendo um efeito muito bonito), Avenida da Torre de Belém, Avenida do Restelo, Avenida das Descobertas, Avenida 5 de Outubro e Avenida 24 de Julho.

Por ser, precisamente, um símbolo da cidade, os lisboetas ficaram surpreendidos com o anúncio da Câmara Municipal de Lisboa, deste domingo, 23 de março. O aviso era claro: dezenas de árvores da Avenida 5 de Outubro, entre elas jacarandás, serão abatidas para criar um parque de estacionamento subterrâneo. No local, foi colocado um aviso em cada árvore, onde se lê que o abate será feito “por razões de urbanismo”.

Rapidamente, começaram a surgiu reações de indignação nas redes sociais, num movimento lançado por um grupo de moradores daquela avenida. Afirmam que as árvores são fundamentais para climatizar as ruas e que são um marco da história da cidade. Leia toda a polémica neste artigo da NiT.

A chamada “Purple Rain”.

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