Na cidade

A mudança lenta nas cidades está em destaque no Open House de 2024

A 13.ª edição do evento acontece a 11 e 12 de maio, com 48 novos espaços para visitar em Lisboa.
O Teatro Thalia é um dos locais a não perder.

Em ano de celebração dos 50 anos do 25 de Abril, o tema da Open House Lisboa podia assentar na Revolução. No entanto, além de os comissários desta edição procurarem mais abrangência, “Os híbridos das Transições” pareceu-lhes um tema mais apropriado e que demonstra como o processo de mudança nas habitações, ou cidades em geral, é lento. Muito lento.

“Numa revolução, a mudança faz-se de um dia para o outro. Mas as mudanças, em geral, são compostas por um processo de transição lento, com elementos de um tempo anterior e de um tempo posterior e, muitas vezes, muito contraditórios”, explica Sandra Marques Pereira, a socióloga e uma das comissárias da 13.ª edição da Open House Lisboa, que acontece no fim de semana de 11 e 12 de maio.

Num trabalho conjunto com o irmão, o arquiteto Alexandre Marques Pereira, o objetivo deste ano foi criar uma ligação entre a arquitetura e o lado mais social da habitação. E é aqui que entra o conhecimento de Sandra, que durante quase dez anos lecionou a disciplina de Sociedade e Arquitetura a alunos no ISCTE. A par desta visão, a dupla quis “apresentar o maior número possível de espaços novos”.

São 48 estreias, num total de 74 espaços — muito deles privados no resto do ano — que podem ser visitados neste fim de semana. Há ainda cinco passeios por diferentes bairros, onde destacamos o percurso com Félix Esteves, que fotografou o 25 de Abril e levará os participantes por uma jornada histórica de Lisboa. Já o percurso sonoro deste ano demonstra a vertente de análise social que os comissários procuraram. É feito pela antropóloga Filomena Silvano, que vai levar o público numa viagem multicultural pelo Martim Moniz, Anjos e Praça do Chile, sob o tema “Coisas e Pessoas de Muitos Sítios do Mundo”.

A variedade dos espaços não poderia ser maior — de habitações privadas a palácios, passando por mercados, espaços culturais ou religiosos e escolas.

“Na habitação tentámos escolher tendências emergentes. Por exemplo, as casas de porteira que se transformam em casas para pessoas e que, no fundo, têm que ver com o crescente desaparecimento desta figura da porteira e a crescente pressão sobre a habitação. Há também lojas ou armazéns que foram transformadas em habitação, mas que mantêm traços ainda do que foram”, conta a socióloga.

É o caso do Loft nas Avenidas Novas, que era uma antiga tipografia em espaço de loja. Aqui, o espaço pobre em luz e ventilação justificou a intervenção com o propósito de iluminá-lo de forma natural, eliminando uma casa de banho no meio-piso térreo e abrindo um enorme rasgo no piso inferior.

“Nunca será uma habitação muito tradicional, porque a morfologia da loja tem as suas especificidades. Às vezes é cega atrás, tem só uma parte de frente. E, portanto, é interessante explorar a diversidade morfológica de como é que estas lojas se estão a transformar em habitação”, adianta a socióloga.

Numa perspetiva diferente, a comissária dá-nos o exemplo do SAAL — bairro das Fonsecas e Calçada, em Telheiras. Este é um projeto do pós 25 de Abril do Serviço de Apoio Ambulatório Local para realojamento da população de bairros degradados. Apesar de só ter sido construído cerca de um terço do projeto original, este destaca-se pelo “desenho urbano assentar em duas decisões partilhadas com habitantes: a tipologia de quarteirão e a altura média do edificado”.

A título pessoal, Sandra Marques Pereira destaca ainda as visitas a edifícios como a antiga Caixa Geral de Depósitos ou o Convento dos Dominicanos. Mas acima de tudo ressalva a importância deste evento para todos.

“A Open House é uma oportunidade única para ver espaços extraordinários, quer do ponto de vista da vivência que eles têm, quer do ponto de vista da beleza. Esta é uma iniciativa muito importante de investimento na literacia arquitetónica do povo”, acrescenta.

A visão inclusiva volta a ser reforçada este ano, com programas especificamente pensados para determinados públicos. O Júnior conta com leituras, oficinas e no qual se estreiam duas visitas feitas por jovens no Centro Ismaili e na Escola do Castelo, e há também visitas adaptadas para pessoas com mobilidade reduzida e outras visitas sensoriais para pessoas cegas, com baixa visão ou deficiências cognitivas.

São ainda 12 os eventos Plus que se realizam em vários espaços, aliando diversos formatos que enriquecem a experiência: um documentário, dois concertos, dois workshops e sete exposições. O programa completo pode ser consultado no site da Open House Lisboa.

A edição deste ano coincide com a sua replicação simultânea nas cidades de Málaga, em Espanha, e Rosário, na Argentina. O conceito nasceu em 1992, por Victoria Thornton, a arquiteta que criou a primeira Open House em Londres, na altura com apenas 20 espaços para visitar. Hoje, o evento acontece em mais de 60 cidades espalhadas pelo mundo com centenas de edifícios e outros espaços abertos a todos.

Carregue na galeria para conhecer os cinco espaços que a organização destaca na edição de 2024.

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Este artigo foi escrito em parceria com a Trienal de Arquitetura de Lisboa.

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