Os vilafranquenses nunca se vão esquecer daquela tarde de 19 de novembro de 1994, quando foi inaugurado o Vila Franco Centro, o maior shopping do Ribatejo. Mal sabiam eles que, passado quase três décadas, estaria abandonado, destruído e vandalizado. Por lá ficaram esquecidos terminais de multibanco, máquinas de exercício físico, impressoras, televisões e máquinas registadoras. Sem lojistas há mais de oito anos, o centro comercial fantasma de Vila Franca de Xira ficou parado no tempo — e é uma autêntica viagem ao passado.
Nos anos 90, o shopping construído pelo arquiteto Arsénio Espinosa era um dos maiores em Portugal, com quatro pisos, 180 lojas, três salas de cinema, bowling e dois parques de estacionamento. Nasceu no lugar da antiga Estalagem Lezíria e do Cinema de Vila Franca e, com ele, chegou também uma novidade única em Portugal: a construção da primeira sala de cinema IMAX do País, com 300 lugares disponíveis e um ecrã de 17 metros.
Naquela época, as famílias deslocavam-se de propósito até ao centro comercial da moda. Os restaurantes enchiam-se com os empresários e trabalhadores de empresas à hora de almoço e até os bancos, que estavam no interior do complexo, tinham filas intermináveis. Tinha tudo para ser épico. E foi, durante uns tempos.
“O início do declínio foi quando retiraram o supermercado de dentro do centro, isso trazia muitas pessoas ao centro. Posteriormente, acabaram com o cinema que tinha duas salas ainda no tempo do Lusomundo, depois veio a crise mundial de 2002 e a partir daí muitas lojas fecharam”, explica David Teimão, um urban explorer que visitou o espaço recentemente e explorou todos os pisos.
Se no início toda a gente o visitava, com o tempo foi perdendo a popularidade. A falta de afluência por parte da população e as rendas elevadas que começaram a ser praticadas levou ao declínio do espaço. Segundo a administração do centro, “na altura os horários de funcionamento não eram cumpridos devido ao facto de serem proprietários das suas lojas, o que levava à ideia que poderiam fazer tudo o que desejavam”.
Das centenas de lojas que existiam no interior do edifício, apenas 23 estavam em funcionamento quando o centro comercial fechou, a 31 de outubro de 2013. Um dos poucos restaurantes que se aguentou até ao fim foi o McDonald’s.
Dois anos depois de fechar, o Vila Franco Centro começou a ser alvo de furtos e atos de vandalismo: as portas de vidro que davam acesso ao shopping foram partidas e, durante alguns dias, entravam e saíam no interior do edifício sempre que queriam. Esta invasão à propriedade fez com que fosse colocada uma vedação para impedir o acesso ao imóvel, que se transformou numa cidade fantasma.
Apesar disso, ainda há quem consiga arranjar forma de lá entrar, seja para vandalizar ou apenas tirar fotografias do local que marcou para sempre os habitantes de Vila Franca de Xira — e os sinais de degradação e vandalismo são evidentes. Lá dentro, ficou apenas aquilo que não valia dinheiro ou que era demasiado pesado para levar, como o caso das máquinas de musculação, bicicletas elípticas ou uma banheira de hidromassagem. O urban explorer David Teimão conseguiu comprovar que as máquinas ainda funcionam, apesar de já não serem utilizadas há anos. Junto dos equipamentos, existe ainda um solário e um spa. Das lojas de roupa, ficaram para trás os manequins e as máquinas registadoras. Também é possível encontrar o que resta de um cabeleireiro e de uma loja de oftalmologia.
Andar pelos corredores deste enorme centro comercial, sujo, sem luz e com o barulho dos pombos que se apropriaram do imóvel, pode ser bastante assustador. Transformou-se num verdadeiro centro comercial fantasma e não se vislumbra nenhum futuro para aquele edifício abandonado e devoluto no meio da cidade de Vila Franca de Xira.
Em 2017, um banco chegou a fazer uma proposta à empresa Circuitos, do Grupo Obriverca (proprietária do edifício) para adquirir o centro por 2.5 milhões de euros, mas a empresa proprietária negou a oferta, visto que o preço base do leilão era de 2,9 milhões.
Dois anos depois, a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira conseguiu adquirir o parque de estacionamento do shopping por 200 mil euros, após algumas negociações com a empresa. Com a pandemia, toda a reabilitação do parque acabou por ficar adiada e, até ao momento, ainda nada foi feito.
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