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Abandonados: o designer apaixonado pelos locais que ninguém quer — e que venceu o Blog do Ano
Entrevistámos André Ramalho, o vencedor surpresa do Blog do Ano, com uma página iniciada há um ano por amor à fotografia e a espaços devolutos. Conheça os incríveis Abandonados que mais o impressionaram.
O autor do blog tem 28 anos.
Tudo começou em 2014, quando André Ramalho, originário das Caldas da Rainha, então com 24 anos, visitou uma antiga discoteca perto da zona onde vivia, por pura curiosidade de ver o estado em que estava. A curiosidade que o movia não desapareceu, só cresceu, e tornou-se um hobby. O hobby cresceu para um blog e o blog, Abandonados, é o grande vencedor-sensação de Melhor do Ano, na edição de 2018 dos prémios da Media Capital.
André foi à gala desta segunda-feira, 13 de novembro, mas não estava à espera de ganhar o grande prémio. “Tinha alguma esperança de ganhar dentro da categoria “Viagens”, mas ganhar o maior prémio da noite, não. Sinceramente nem estava a acreditar que escolheram um pequeno blog como vencedor, em comparação aos gigantes que estavam nomeados. Julgo que isto mostra a imparcialidade do evento”, explica com modéstia à NiT.
E tudo é mais incrível porque o blog tem pouco mais de um ano, quase nenhum esforço de divulgação e é totalmente feito nas horas livres, nos fins de semana e pouco tempo que sobra ao jovem — agora com 28 anos e a viver em Leiria — depois da sua atividade principal: designer de Interfaces, Sites e Aplicações.
O blog, suportado além da página principal por Facebook e Instagram, começou com o objetivo de partilhar fotos e histórias sobre os vários locais abandonados de Portugal, mais especificamente uma atividade conhecida como Urbex ou Urban Exploring: visita a locais que se encontram ao abandono e respetivo registo, em fotografia documental.
Na sua página, André tem de um lado os Abandonados e de outro os Recuperados. De espaços devolutos já lá tem um mundo de locais, mas nesta última categoria, Recuperados, só tem um.
Na prática, explica André no blog, a sua procura consiste em manter o mais intacto possível o espaço que visita, mas tal não impede que, algumas vezes se tenham que trespassar propriedades alheias.
Até porque o designer tanto visita monumentos como fábricas, piscinas como casas. Divulgar a localização é evitado, por causa de riscos como de vandalismo, e há perigos inerentes à própria prática, que o jovem corre e que já lhe deram até alguns sustos.
O designer nasceu nas Caldas da Rainha mas mora em Leiria.
De todo o processo de encontrar e procurar lugares, incluindo pesquisa que acarreta, passando pelos perigos, e pelas regras que André faz questão de seguir, o blogger explica tudo à NiT. E ainda revela os espaços que mais o marcaram.
Qual a sua ligação à fotografia, é só um hobby? Há quanto tempo?
A fotografia para mim é só um hobby, mas já pensei várias vezes em investir mais nesse ramo porque é algo que gosto bastante de fazer. O fascínio pela fotografia começou em 2012, quando frequentei uma licenciatura em Design Gráfico e Multimédia na ESAD (Escola Superior de Design), que tinha uma disciplina de fotografia. Nessa altura, comprei uma máquina e comecei a experimentar e aprender. Gosto de tirar fotos a tudo, mas sobretudo aos locais abandonados. Mas o processo fotográfico é sempre de evolução e ainda tenho muito espaço para crescer e tornar-me melhor fotógrafo.
Quando decidiu fazer o blog?
Decidi fazer o blog em junho de 2017 e lancei-o nesse mesmo mês. Como trabalho na área do webdesign, foi fácil para mim criar o blog. O meu objetivo é o de divulgar estes locais e a beleza dos mesmos às pessoas que os acham interessantes, como eu acho. Em alguns casos, até chamar à atenção para certos locais, no sentido de os reaproveitar, porque é uma pena ficarem assim. Tento mostrar esses sítios da forma mais respeitosa possível e tento deixar tudo da mesma forma que encontrei, porque tenho noção que todos os locais têm um dono, queira ele saber ou não dele.
Como descobre os locais?
A descoberta de lugares abandonados pode ser feita de várias formas, inicialmente por uma busca no google maps e depois indo ao local confirmar se está abandonado ou não. Também pode acontecer através de uma sugestão de alguém ou mesmo falando com outras pessoas que já tenham visitado o local e que possam transmitir alguma informação. É normal andar pelo País. Sou da zona centro, mas por todo o lado, existem locais abandonados. Normalmente, aproveito os fins de semana quando posso e para além de visitar alguns locais abandonados, visito também a zona envolvente e fico a conhecer um pouco mais o nosso belo País.
Faz tudo isto nas horas vagas?
Faço tudo nas horas vagas, sim. Vou publicando à medida que posso. Nem sempre é fácil ter tempo para o blog, porque é preciso muito tempo para visitar os locais, fotografar, editar as fotos e texto, para depois publicar.
Quais os desafios e os riscos?
Os desafios são muitos. Este género de locais, por norma não estão em bom estado. São locais perigosos, não só por isso, mas também porque nunca sabemos quem vamos encontrar lá dentro. Este género de lugares estão em constante mudança, é comum visitar um sitio e voltar mais tarde e descobrir que o sítio foi roubado ou vandalizado.
Porque escolhe não divulgar a localização, na maioria das vezes, para evitar o vandalismo?
Sim, por isso oculto nomes reais dos locais e a localização e evito colocar fotos exteriores de alguns deles.
Quando são sítios mais conhecidos do público geral, que podem ser encontrados com facilidade numa busca pela internet, por norma revelo, porque não faz sentido esconder.
Quais os locais que mais o impressionaram até agora e porquê?
São casas com todo o conteúdo lá dentro e também dois palácios que visitei recentemente e têm uma arquitetura espetacular. Os locais a que me refiro, mencionando-os pelos títulos das publicações no meu blog, são Palácio Ribeira Grande e Palácio Silva Amado. Podem encontrar as histórias desses locais e muitos outros no blog..
Carregue nas fotos para conhecer os registos — e locais devolutos em Portugal — preferidos do autor do blog Abandonados: