João Amorim já viajou pela América Latina, foi guia de viagens da Landescape e até já passou quatro dias com uma tribo indígena nas ilhas Mentawai, na Indonésia. Embora tenha conhecido meio mundo, o viajante português de 31 anos ainda tinha um sonho por cumprir: abrir um turismo rural em Portugal.
No verão de 2022, quando fez o Caminho de Santiago, decidiu fazer uma paragem na aldeia de Castro Laboreiro, em Varziela, e contou a um amigo, Paulo, a sua vontade. Ele brincou e disse-lhe que ainda ia comprar ali uma casa. E foi mesmo o que aconteceu. Não só comprou uma casa, mas meia aldeia: cerca de 12 habitações.
Volvidos dois anos, o Fundo da Aldeia — o nome do futuro turismo rural, que vai abrir no Parque Nacional Peneda-Gerês — tem ainda mais casas, revelou João na página de Instagram Follow the Sun que conta com mais de 120 mil seguidores e onde partilha todas as aventuras desde então. No final, em vez da capacidade para receber 50 pessoas, vão poder receber cerca de uma centena.
“Já não temos só meia aldeia”, afirma no vídeo, onde mostra várias das novas construções e terrenos que vão ser ocupados. “A nossa ambição é ser um dos melhores alojamentos de Portugal, dar emprego a muita gente e contribuir para o desenvolvimento da economia local.”
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A primeira casa foi comprada quando João voltou ao Parque Nacional da Peneda-Gerês para passar o Ano Novo com os primos, passou por Varziela e viu uma casa à venda. “Liguei logo à senhora, que me disse que a compra incluía quatro currais de vacas, e eu marquei logo um dia para falarmos sobre o negócio”, contou na altura à NiT o viajante.
“Sempre tive aquela sensação de que a casa ficava muito longe para estar a abrir um alojamento, não justificava. A ideia era comprar mais alguma coisa, por isso começámos a dar uma volta à aldeia e vimos mais uma casa à venda”, recorda. Quando ligou à imobiliária, descobriu que não estavam a vender apenas uma habitação.
A história da aldeia de Varziela
Apesar de já não ter moradores, nem sempre foi assim na aldeia de Varziela. Há mais de 50 anos, Castro Laboreiro era uma “daquelas zonas em que as pessoas viviam em duas aldeias diferentes”. Por mais pobres que fossem, todas as famílias da freguesia tinham duas casas e, duas vezes por ano, toda a população e animais mudavam de habitação.
Durante o verão, passavam os dias nas brandas, pequenas povoações em terras elevadas e soalheiras, onde havia mais pasto para as vacas. “Nesta zona das brandas nevava imenso e, às vezes, a neve ficava até julho. Isso fazia com que as vacas deixassem de ter pasto”, explicou João Amorim. A falta de pasto obrigava as famílias a mudarem-se, nos meses de inverno, para as inverneiras, aldeias em vales mais abrigados.
Com o aquecimento global, o inverno deixou de ser tão intenso e as famílias deixaram de sentir necessidade de ter as duas habitações. A maior parte delas mudou-se definitivamente para as brandas e Varziela foi ficando sem habitantes.
“Muitas aldeias ficaram abandonadas e uma das coisas que mais me preocupava quando fizemos a compra era que as pessoas ficassem desconfiadas. Mas os proprietários queriam vender porque queriam ver as casas recuperadas, continuam a ter um carinho muito grande por aquele lugar”, diz. Quando lhes contou que queria construir ali o turismo rural Fundo da Aldeia, “ficaram todos entusiasmados”.
Carregue na galeria para conhecer a meia aldeia da Varziela, que vai abrir como turismo rural.