Há quem diga que é o Bansky português — e não é difícil perceber porquê. As obras de Superlinox aparecem misteriosamente em pontos estratégicos de Lisboa ou de Setúbal e servem para chamar a atenção para temas específicos da sociedade. O mais recente exemplo chama-se Alice, uma miúda verde que surgiu no viaduto de Carcavelos.
“Esta Alice não vem do ‘País das Maravilhas’. Esta Alice vem do futuro — de um futuro onde o nosso planeta morreu de doença. A sua grande aventura é fazer-nos ver que a doença que está a destruir o mundo somos nós”, começa por escrever o artista anónimo no Instagram, onde denuncia a intenção clara da escultura.
A estátua verde está de olhos postos num pinhal gigante que recebeu agora autorização para dar lugar a um empreendimento de luxo. No centro da polémica está um empreendimento previsto para o terreno conhecido como Quinta dos Ingleses, mesmo em frente à praia de Carcavelos, aprovado em maio de 2014 na Assembleia Municipal de Cascais. O plano possibilita a construção em cerca de 33 dos 54 hectares. Estão previstos para o espaço vários prédios de habitação, espaços comerciais e uma unidade hoteleira.
“Se nos andamos a matar uns aos outros num planeta habitável, imaginem o que nos espera no dia em que o planeta sucumbir. Uma árvore precisa de décadas para crescer, mas abate-se em segundos. Em vez de continuarmos a cortar árvores, talvez devêssemos começar a abraçá-las.”
A boneca chama ainda atenção para a emergência climática, com uma máscara de gás colocada na cara e, pelo facto, de estar toda pintada de verde.
Superlinox, o artista misterioso
Tudo começou com a instalação de uma máquina de lavar roupa cor-de-rosa no telhado de um prédio abandonado perto da autoestrada, em Setúbal, no final de setembro de 2020. O aparecimento repentino do eletrodoméstico colorido despertou a curiosidade de muitos e começaram a ser partilhadas imagens e mensagens de espanto nas redes sociais. O mistério ficou (quase) resolvido quando o artista, Superlinox, criou a sua página no Instagram.
Revelado o nome artístico, todas as outras informações pessoais são mantidas em segredo. Até ao momento, sabemos que nasceu em Setúbal e cresceu no universo do graffiti e da arte urbana. Tirou o curso de Artes na Escola Secundária Dom Manuel Martins e continuou os estudos na licenciatura em Belas Artes, na vertente de Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Quando começou a pensar no projeto, soube desde o início que não poderia assinar as obras com o nome verdadeiro, mas sim com um pseudónimo que conseguisse expressar a sua identidade enquanto artista anónimo. “Costumava jogar consola online com um amigo e fazíamos imensas noitadas. A certa altura, não sei muito bem porquê, ele começou a chamar-me Linox. Achei que era demasiado abstrato e, por isso, juntei-lhe uma carga conceptual porque na verdade quero ser um super artista”, revela.
As primeiras obras foram instaladas na cidade onde nasceu, como a estátua do Joel nas letras junto à rotunda do Centro Comercial Alegro Setúbal ou o Ricardo na Escola Secundária Dom Manuel Martins. Um estendal azul com roupa estendida, uma cama no meio da Praça do Bocage e uma menina cor-de-rosa em cima do canhão da Sétima Bataria do Outão foram outros dos objetos coloridos que não passaram despercebidos na cidade.
Recentemente, estas obras que aparecem sem que ninguém dê por isso também começaram a ser espalhadas por Lisboa. Porém, a maioria das obras não duram muito tempo nos locais onde são instaladas.
De seguida, carregue na galeria para conhecer outras criações deste artista misterioso.