“Não posso falar neste momento. Levo Jesus na mão”, foi apenas um dos muitos memes que nasceram com esta edição da Jornada Mundial da Juventude. A frase memorável foi dita, em direto, na SIC, por uma peregrina na sessão de abertura do evento, que arrancou a 1 de agosto — mas Jesus não foi o único a ser levado ao colo nestes últimos dias.
As peregrinas Pierina Monte Riso e Paulina Biaciotti, de 35 e 19 anos, respetivamente, vieram da Argentina, o país natal do Papa Francisco, com a imagem da Virgem Maria nas mãos. E, durante todo o evento, nunca a largaram, chamando a atenção de muitos outros fiéis, curiosos por conhecer a história destas duas mulheres.
“Fazemos parte de um movimento Mariano e queremos andar com Maria nas mãos para que as pessoas a vejam. Vem connosco para todos os lugares, nós somos os pés dela”, começam por explicar à NiT.
Deram-lhe o nome de Mãe Peregrina e, mesmo sem pés, vai caminhando por todo o lado, por vezes nas mãos de Pierina, outras nas de Paulina. As duas mulheres dizem que é graças a Maria que conseguem encontrar o caminho de Jesus.
Contudo, esta não é uma imagem qualquer: seja qual for o lugar, se mais para a direita ou mais para a esquerda, qualquer pessoa que olhe para a figura vai sentir que Nossa Senhora está a olhar diretamente para si. “Essa é a ideia que queremos passar. Maria sabe que estás aqui, ela olha por ti e cuida de todos nós. É a nossa mãe”.
As duas argentinas, embora não se vistam com um traje próprio, como as freiras, estão entregues a Deus e a “única família que têm é a igreja”. Ao contrário de tantas outras mulheres católicas que dedicam a sua vida à religião, as argentinas podem exercer qualquer cargo: desde médica a professora. Tudo porque fazem parte do Schoenstatt, um movimento mariano que vive o evangelho de Jesus Cristo, onde todos, segundo a sua escolha vocacional, servem a igreja.
“Estou entregue a Deus como se fosse um monge, mas não sou. Posso vestir-me de qualquer forma e ter a profissão que quiser, mas não vou casar nem ter outra família sem ser a igreja”, explica Pierina, professora de teologia.
O Movimento Apostólico Internacional de Schoenstatt é relativamente recente, tendo sido fundado na Alemanha pelo padre José Kentenich, no ano em que começou a Primeira Guerra Mundial: 1914. Tudo começou no dia 18 de outubro, quando o padre alemão selou, com a Mãe de Deus, um pacto que viria a chamar aliança de amor. Estava profundamente convencido do amor de Maria por todos os homens,
Kentenich passou vários anos no campo de concentração de Dachau, onde o seu amor pela igreja foi duramente provado. Dos 12 mil presos, 2.600 eram sacerdotes — e foi aí que o padre começou a espalhar os seus ideais.
“Costumamos dizer que somos filhos da guerra. Os jovens, entre os 15 e os 17 anos, participaram na guerra quando ainda eram muito novos. Alguns não voltaram, e outros regressaram com uma nova chama. Contaram que o que lhes deu força foi essa aliança com a Virgem Maria”, conta.
Já na Segunda Guerra Mundial, novamente em campos de concentração, a mensagem começou a ser passada de boca em boca e “espalhou-se pelo mundo”. Atualmente, existem cerca de 200 santuários em vários países — sendo que quatro deles estão em Portugal.
A argentina Pierina Monte Riso tinha 12 anos quando ficou a conhecer o movimento mariano, constituído por religiosos e fiéis que se empenham em viver uma vida de consagração ao coração imaculado de Maria. “A minha família estava afastada de Deus, mas eu gostava de ir à missa. Foi lá que ouvi sobre uma missão de Schoenstatt e decidi juntar-me”, recorda.
Aos 12 anos, viveu cerca de um mês com 120 jovens numa paróquia, numa zona rural muito pobre na Argentina. Passou os dias a ajudar as pessoas e conversar com elas, até que ficou contagiada pela “alegria com que eles falavam de Deus”. “Esse encontro com os jovens mudou-me e nunca mais fui a mesma. Hoje em dia sou consagrada a Deus, entreguei-me a ele”, diz.
Já a jovem Paulina Biacotti cresceu numa família que pertencia ao movimento há alguns anos. Desde miúda que estava em contacto com esta realidade, mas só com 14 anos é que decidiu dar entrar na comunidade. “Chamou-me muito a atenção este vínculo de ligação com a família. É mais do que um movimento, é um estilo de vida que seguimos todos os dias. O objetivo é encontrar-nos com Deus”, refere.
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