Na cidade

Bairro Alto vai sofrer revolução com 45 novos apartamentos para renda acessível

Jovens e famílias vão poder morar no coração de Lisboa por preços comportáveis. Um quarteirão vai ser todo remodelado.
Projeto da CML.

“Já foi um bairro popular, queremos que volte a ser um bairro habitado”. Foi assim que a vereadora do desenvolvimento local e habitação na Câmara de Lisboa, Paula Marques, iniciou a apresentação daquilo que será uma verdadeira revolução que um dos quarteirões mais emblemáticos, históricos e agora degradados do Bairro Alto — para não dizer de Lisboa — vai sofrer.

É uma das áreas onde o metro quadrado é à partida mais caro em Lisboa pela localização, mas num futuro próximo vai poder ser ocupado por jovens ou famílias, a preços comportáveis. Serão 45 apartamentos, entre T0, T1 e T2 que vão ficar disponíveis nos próximos anos, graças ao projeto agora apresentado pela autarquia — 20 anos depois, como esta refere, de sete edifícios lhe chegarem às mãos.

O projeto arquitetónico de recuperação do quarteirão entre a Rua do Diário de Notícias e Rua do Norte, no Bairro Alto, vai consistir na prática na criação de 45 fogos que a CML irá recuperar e colocar no programa de renda acessível, atraindo e fixando jovens famílias no coração da cidade.

Um dos edifícios envolvidos (património classificado) serviu até 1940 como sede e redação do jornal Diário de Notícias. Respeitando a memória histórica do Bairro Alto como bairro dos jornais e do jornalismo, a CML vai ceder o espaço comercial (térreo) destes edifícios para projetos independentes e associativos, na área do jornalismo e conteúdos. 

Segundo a arquiteta Sílvia Nereu, da equipa responsável pelo projeto na apresentação desta quarta-feira, 18 de novembro, todos os edifícios envolvidos são históricos e emblemáticos. “Alguns foram reabilitados mas outros continuam devolutos, degradados, à espera de uma nova vida”, adiantou. E é essa nova vida um dos objetivos deste programa.

Tratam-se assim de sete prédios, construídos para função habitacional entre os séculos XVIII e XIX “mas que ao longo dos tempos têm sido utilizados para outros usos e por isso sofrido alterações a nível espacial e estrutural”. Por aqui passaram o Diário de Noticias, a extinta A Capital e uma equipa de teatro, entre outros.

Vem aí uma revolução.

Segundo a arquiteta, tratando-se de uma área sensível da cidade a equipa optou por uma intervenção pouco invasiva, procurando manter as características existentes. “Uma intervenção individualizada edifício a edifício”, com aposta na manutenção da fachadas, frisou.

No final, haverá uma diminuição do numero total de edifícios, para permitir a criação de um pátio interior: “no total temos atualmente sete edifícios; passaremos a ter cinco”, explicou Sílvia Nereu, A nível do interior do quarteirão, é proposta a demolição de construções existentes para melhorar a ventilação e iluminação; e a nível de interiores, pretende-se minimizar áreas comuns de acesso para maximizar tipologias.

Quanto ao uso dos cinco prédios remodelados no quarteirão, será habitacional nos níveis superiores e no piso térreo terá espaços multiusos, alusivos à historia dos jornais e da zona da cidade. No interior do quarteirão, surge então um novo pátio: zona de estar, de comunicação e circulação entre os apartamentos.

No final estarão os 45 fogos, essencialmente T0 e T1, alguns T2 numa intervenção com uma área superior a 4.600 metros quadrados. Segundo o presidente da autarquia, Fernando Medina, na apresentação, “este é um dia muito especial para todos nós em Lisboa”.

Este conjunto de edifícios, frisou, veio à posse da Câmara “há quase 20 anos”, período durante o qual terão sido desenvolvidas várias ideias mas os projetos nunca avançaram.

Agora, vai dar-se vida de novo a estes prédios e mais, diz o autarca; este será um “projeto emblemático da cidade de Lisboa, porque o que conseguimos fazer é mobilizar património municipal, reabilitar edifícios que estão abandonados e inseri-los numa estratégia de requalificação e revitalização da zona”. 

As rendas serão acessíveis, no máximo um terço do rendimento líquido dos candidatos, permitindo trazer famílias e honrar a história dos edifícios diz Medina; e, ao mesmo tempo, “criando uma nova valência no Bairro Alto, um novo espaço uma nova atração que não é de diversão noturna, da restauração, mas uma valência diferente que traga pessoas a horas diferentes do dia”. Não foram avançadas datas para a conclusão do projeto.

Recorde-se que, ainda em agosto deste ano, a CML lançou uma nova fase deste programa de rendas mais baratas. Na ocasião, foram disponibilizadas três dezenas de habitações, com tipologias de T1 até T4, com rendas que entre os 150€ e os 800€. 

Normalmente, para se candidatar a uma destas casas tem de ter pelo menos 18 anos de idade, título de residência válido em território nacional e não pode ser proprietário de nenhum outro imóvel na Área Metropolitana de Lisboa. A legislação em vigor especifica os valores mínimos e máximos aplicáveis ao programa. As rendas não podem ultrapassar 30% do rendimento líquido dos agregados familiares. Não é ainda conhecida a data do concurso que vai lançar estas casas, agora em fase final de obras nos antigos edifícios da Segurança Social.

O sorteio do terceiro concurso do Programa Renda Acessível da Câmara Municipal de Lisboa atribuiu, já em novembro deste ano, mais 75 habitações.

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