Na cidade

Brianda Pereira: a mulher que lutou para salvar os Açores no século XVI

Durante a invasão dos espanhóis, em 1581, conduziu uma revolta popular que contou com a ajuda de animais de grande porte.
Uma história incrível.

A 25 de julho de 1581, dava-se a Batalha da Salga, um momento da História da ilha Terceira em que a população (e os touros) — liderados por uma mulher — tiveram um papel essencial na defesa do arquipélago e até mesmo na independência de Portugal.

Angra do Heroísmo, a mais antiga cidade açoriana, localizada na ilha Terceira (um território de 400 quilómetros quadrados a 900 milhas marítimas do Continente), foi — por duas vezes — capital de Portugal.

A primeira sucedeu quando o País soçobrou ao domínio filipino. Todo o País? Não. Um cantinho lusitano aguentou irredutível durante mais de dois anos. Da primeira vez que a armada espanhola tentou tomar a ilha Terceira, centro administrativo do arquipélago, uma heroína nasceu, entre a realidade e o mito.

Brianda Pereira — segundo as crónicas, uma mulher formosa e de classe alta —, em desespero por ver a sua casa incendiada e o marido feito prisioneiro pelos espanhóis, sublevou-se e conduziu uma revolta popular que contou com a ajuda de animais de grande porte e provocou centenas de vítimas entre os invasores, bem como a sua consequente retirada.

Ao longo dos séculos, vários relatos de diversos autores ajudaram a mitificar a figura de Brianda, cujos feitos contribuíram decerto para aquele que se tornou o lema/divisa da Região Autónoma dos Açores: “Antes Morrer Livres do que em Paz Sujeitos”, ou mesmo o acrescento proposto por Almeida Garrett ao nome da cidade — que era somente Angra, e passou a ser também “do Heroísmo”.

Hoje restam documentos, as ruínas da casa de Brianda e da sua família, arquivos, selos, monumentos, uma cerveja artesanal, filarmónicas com o seu nome e celebrações avulsas na cultura popular açoriana (aqui e além-mar, via comunidades emigrantes). Esta, mais de quatro séculos depois, é a sua extraordinária história.

O País caíra numa crise sucessória após o desaparecimento de D. Sebastião em Álcacer-Quibir. E os partidários do aspirante ao trono D. António Prior do Crato concentraram-se na Terceira. A 25 de julho de 1581, uma esquadra espanhola comandada por Pedro de Valdés, tentou a conquista da ilha açoriana — o centro administrativo e político do arquipélago. A esquadra castelhana, composta por dez navios com 1.000 soldados, desembarcou na baía da Salga e, surpreendendo os locais, conseguiu vencer as primeiras resistências.

Brianda Pereira distinguiu-se nesta fase dos combates. As searas e as casas existentes nas imediações foram incendiadas pelas tropas espanholas e também foram aprisionados homens. Bartolomeu Lourenço, marido de Brianda, encontrava-se entre os prisioneiros, ferido. Brianda Pereira liderou uma revolta, demonstrando força e garra, o que permitiu motivar os terceirenses a lutarem. O religioso Agostinho Frei Pedra foi importante num momento em que a batalha endureceu, pois lembrou-se de usar gado bravo como forma de se opor ao exército espanhol.

Reuniu cerca de um milhar de bovinos e, com a ajuda de gritos e tiros de mosquete, lançou-os em fúria contra o exército espanhol. Uma estratégia que permitiu aos populares prepararem nova defesa da ilha. Na versão lendária deste evento também se diz que Brianda, com a ajuda da criadagem, colocou aguarrás no rabo dos touros. A fuga do gado bravo fez com que centenas de castelhanos tivessem morrido, fosse nos combates ou afogados, enquanto 50 espanhóis terão regressado para os navios (entre eles, nada mais nada menos do que nomes míticos como Cervantes e Lope de Vega). Foi naturalmente uma estratégia que enfraqueceu os espanhóis, derrotados de forma humilhante.

Brianda Pereira continuou a liderar os locais, incentivando-os a lutar até ao fim. Por isso, Brianda tornou-se numa heroína da batalha dos portugueses contra os espanhóis. O povo local não desistirá de lutar nos dois anos seguintes.

And now, for something completely different

Comecei a produzir aos 41 anos, e descobri com algum espanto de que não só era capaz disso como talvez só o consiga devido a essa extraordinária cenoura defronte do nariz que é a gratificação final de saber que algo só ganhou existência porque se esteve lá em cada passo da necessária maratona. Plantas a semente, regas, proteges, aparas os ramos, fazes a planta crescer. Mas chega de metáforas. Os cerca de 21 minutos seguintes enchem-me de orgulho a cada segundo. Bebam por favor as palavras (e os risos) da maravilhosa Margarida de Bem Madruga, arquiteta e pintora, cidadã do Faial (e seguramente do mundo).

Através do riso somos eternos e atingimos o milagre de interromper os ponteiros do relógio. Margarida Madruga recebe-nos de braços abertos e coração corajosamente desprotegido, de tempo suspenso, convicta de que é o Continente que deveria aprender com os Açores e segura dos valores absolutos (e sublimes) da amizade e da beleza. Uma eterna jovem.

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