Só para convidados. Pode parecer uma apresentação elitista, mas não é. É apenas a estratégia que tem ajudado a Clubhouse a tornar-se na app mais pretendida do momento. É o fruto proibido que já levou milhares de convites ao mercado negro. Para saber o que se passa por lá, terá que pagar entre 20 a 50 euros.
A popularidade crescente da aplicação deve-se também muito à influência de alguns dos famosos que fizeram questão de anunciar a sua chegada. No topo da lista está Elon Musk, o recém-coroado homem mais rico do mundo, que foi anfitrião de uma espécie de conferência com o CEO da Robinhood, app no turbilhão da recente polémica das ações da Gamestop.
Apesar de a Clubhouse já existir desde março de 2020, tinha apenas 1.500 utilizadores em maio. No final do ano, já eram mais de 600 mil. E depois do aval do chefe da Tesla, a popularidade disparou e, num ápice, a empresa criada por Paul Davidson e Rohan Seth juntou próximo de seis milhões de utilizadores, revelam as últimas estimativas — mesmo com a limitação de inscrições, restritas a convidados.
No mercado negro, os convites começaram a ser vendidos a curiosos que estavam desejosos de perceber o que por lá se passava. Afinal, o mercado tinha encontrado o seu novo unicórnio: o nome dado a uma startup privada com avaliação acima dos mil milhões de euros. A Clubhouse entrava assim no restrito grupo de negócios como o AirBnb ou Uber. Foi um salto gigante, até porque a avaliação, em dezembro, era apenas de 100 milhões.
Musk não é o único famoso a rondar a Clubhouse. Entre a elite está Oprah Winfrey, Jared Leto, Mark Cuban, Chris Rock ou Drake. Mas afinal para que serve esta app que é já descrita como a “next big thing”?
É uma espécie de rede social, com a particularidade de dispensar quaisquer mensagens escritas. Cada utilizador tem direito ao seu perfil, claro, mas que serve apenas para o apresentar nas diversas salas de conversação.
A verdade é que tudo isto já pode ser feito noutras aplicações de mensagens. A Clubhouse, contudo, tornou-se um campo fértil para algo mais sério. É, no fundo, uma espécie de híbrido entre a variedade de tópicos dos podcasts, a interação dos painéis de discussão e a informalidade de uma aplicação de mensagens.
Um exemplo: as salas podem ser públicas, sociais ou privadas. É provável que no calendário da aplicação encontre um evento organizado por famosos, ilustres conhecidos ou especialistas de determinada área. Se se tratar de um evento público ou social, qualquer um pode entrar e assistir. Mas é aí que entra o bónus.
Qualquer utilizador pode solicitar uma pergunta por escrito e, se for aceite, os moderadores dar-lhe-ão a palavra. E é bom que esteja preparado para ligar o microfone e colocar a pergunta com eloquência. Pode até tornar-se parte da discussão.
As formas de a usar são ilimitadas, como provou a organização do musical Hamilton, que criou um evento público com estrelas do elenco britânico e convidou os fãs a arriscarem soltar uns versos em direto. O melhor, ganharia dois bilhetes para a peça em cena no West End.
Esta interação tem algumas particularidades. Nenhum evento é gravado: quando termina, também os seus registos e intervenções dos utilizadores são apagados. A política da Clubhouse é igualmente estrita: é proibido registar o som das conversas, sob pena de expulsão dos utilizadores que infrinjam a regra.
Antes da recente explosão de popularidade, veio a polémica. No verão do ano passado, muitos meios norte-americanos sublinhavam a total falta de moderação nos painéis criados na aplicação, sobretudo depois de uma discussão que pretendia debater “o antissemitismo na comunidade negra” ter culminado numa discussão de grupo sobre “porque é que é aceitável odiar judeus”, revelou a CEO da Winnie, Sara Mauskopf.
Complicado será também a forma como, a ser implementada, poderá funcionar a moderação. Isto porque tudo é feito em áudio não gravado — e a própria Clubhouse pede que nada fique registado pelos utilizadores.
O sucesso e a inovação da aplicação não passou ao lado de Mark Zuckerberg, cujo Facebook estará já a trabalhar num serviço semelhante e que funcionará, claro, apenas com áudio. De acordo com o “The New York Times”, recebeu o nome interno de Fireside e poderá ser a grande rival da Clubhouse — isto se a procura por este tipo de aplicações continuar a aumentar.
Por enquanto fechada ao público, o CEO Paul Davison garante que as inscrições serão abertas “o mais rapidamente possível”, apesar de existir apenas uma versão para o sistema operativos dos iPhone, o iOS. A versão Android estará para breve, mas também sem data definida.
“O nosso foco está em criar diálogos e ligações humanas autênticas, ao invés de likes e de follows — e tudo é feito com a nossa voz”, explica. Relativamente à polémica proliferação de discursos racistas e de ódio, Davison frisa que é “uma prioridade”, como “deve ser em qualquer rede social”.