Os mais de 170 milhões de utilizadores do TikTok nos Estados Unidos ficaram impossibilitados de aceder à plataforma durante 14 horas. Antes da aplicação ser retirada do ar, no domingo, 19 de janeiro, muitos aproveitaram para partilhar vídeos de despedida, sem saber que a rede social voltaria a estar disponível pouco depois.
A proibição da popular rede social de vídeos curtos ocorreu após a aprovação de uma lei federal dos EUA que forçou a Apple e a Google a removerem a aplicação das suas lojas digitais. A decisão foi motivada por preocupações de segurança nacional, relacionadas com as origens chinesas da ByteDance, empresa-mãe da TikTok.
Os Estados Unidos temem que a China possa utilizar os dados dos milhões de utilizadores americanos para fins de espionagem, apesar da ByteDance ter sempre negado tais alegações. O Supremo Tribunal dos EUA confirmou a legislação por unanimidade, na passada sexta-feira, 17 de janeiro, decidindo que os riscos à segurança nacional superavam as preocupações sobre a restrição da liberdade de expressão dos 170 milhões de utilizadores norte-americanos.
A lei, aprovada em abril de 2024 sob a administração do então presidente Joe Biden, exigia que a empresa cortasse laços com as operadoras da plataforma nos EUA até 19 de janeiro deste ano, — a menos que fosse alcançado um acordo para a venda a um investidor americano, ou o Supremo Tribunal interviesse.
Embora tal acordo ainda não tenha sido formalizado, a aplicação voltou a estar acessível aos utilizadores norte-americanos devido a uma promessa de Donald Trump, que assume a presidência dos EUA esta segunda-feira, 20 de janeiro. Trump anunciou que iria assinar uma ordem executiva para conceder à empresa chinesa mais tempo para encontrar um comprador nos Estados Unidos.
Durante o seu primeiro mandato, Trump liderou esforços para banir o TikTok, considerando-o uma ameaça à segurança nacional. Na véspera do seu regresso à Casa Branca, passou a ser visto como o “salvador” da plataforma.
“Estou a pedir às empresas para não deixarem o TikTok no escuro. Vou emitir uma ordem executiva na segunda-feira para prolongar o prazo, antes que as proibições da lei entrem em vigor, para ser possível negociar e proteger a segurança nacional”, escreveu na sua conta da Truth Social, no domingo, 19 de janeiro.
A ordem executiva, segundo afirmou, “garantirá que não haverá responsabilidade para nenhuma empresa que ajudou a evitar que o TikTok desaparecesse antes da minha ordem”. A legislação confere ao presidente dos EUA a autoridade para conceder uma extensão de 90 dias, caso um acordo viável esteja em curso.
No entanto, a ByteDance já havia sublinhado anteriormente que a venda da plataforma não estava em discussão. Trump, por sua vez, sugeriu um novo acordo: “Gostaria que os EUA tivessem uma participação de 50 por cento numa joint venture. Assim, salvamos o TikTok e mantemos a plataforma em boas mãos. Sem a aprovação dos EUA, não há TikTok”, enfatizou.

Horas antes da sua tomada de posse, o acesso à aplicação foi restabelecido de forma inesperada, e os utilizadores começaram a receber uma mensagem padrão: “Como resultado dos esforços do presidente Trump, o TikTok está de volta aos EUA”, escreveu a empresa.
A plataforma, numa publicação nas redes sociais, anunciou que iria colaborar com o atual presidente dos EUA para encontrar uma “solução a longo prazo” que assegure a permanência da rede social no país. A proposta de Trump implica que 50 por cento do TikTok seja controlado por acionistas norte-americanos.
Entretanto, surgiram várias ofertas de compra, incluindo uma da Perplexity AI e outra de um consórcio de investidores liderado pela estrela de “Shark Tank”, Kevin O’Leary. Nos últimos dias, começou a circular a especulação de que Elon Musk poderia ser um dos investidores, mas a plataforma já desmentiu que tal seja verdadeiro, considerando-o “pura ficção”.
Outro nome que tem sido referido é o de Jimmy Donaldson, conhecido como MrBeast, o youtuber com o maior número de seguidores do mundo. O criador de conteúdos surpreendeu os seus fãs com uma mensagem no X: “Ok, tudo bem, vou comprar o TikTok para que ele não seja banido.”
A publicação rapidamente se tornou viral, gerando uma onda de rumores. Pouco depois, MrBeast fez uma nova publicação: “Agora sem ironia: muitos multimilionários entraram em contacto comigo desde que publiquei isto. Vamos ver se conseguimos”, escreveu.
Apesar das declarações de MrBeast, vários especialistas consideram improvável que o youtuber, cuja fortuna é estimada em 54 milhões de euros, tenha recursos suficientes para adquirir a plataforma. Assim, o futuro do TikTok nos EUA permanece incerto. A decisão legislativa marca a primeira vez na história que os EUA impõem a proibição do funcionamento de uma rede social em território norte-americano.