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Do luxo às ruínas: o hotel abandonado na Margem Sul que muitos dizem estar assombrado

A primeira piscina olímpica de Portugal foi construída neste empreendimento, inaugurado nos anos 50.
A primeira piscina olímpica portuguesa. Foto: Rita Constantino

Portugal possui um dos maiores patrimónios abandonados do mundo, com locais cheios de história que, por variados motivos, foram deixados para trás e ficaram parados no tempo. Desde palácios grandiosos a empreendimentos turísticos que, em tempos, eram sinónimos de luxo. É o caso do Hotel do Muxito, que se afirmou como um dos símbolos da Margem Sul e agora está ao abandono.

Inaugurado em 1956, sendo nessa altura propriedade da empresa Lino & Zimbarra, o Muxito foi um hotel luxuoso entre as décadas de 50 e 60, começa por explicar Rita Constantino, que tem andado a explorar locais abandonados nos últimos três anos, em Portugal e lá fora. Diz-se que era neste empreendimento turístico, situado na freguesia de Amora, no Seixal, que as pessoas ricas gastavam parte das suas fortunas. Afinal, era muito mais do que um simples hotel.

O complexo era composto por 13 moradias, um motel, uma discoteca, campos de ténis, um restaurante, lagos artificiais e uma pequena praça de touros. O terreno era tão grande que podiam caber lá dentro 100 campos de futebol. 

O Hotel do Muxito tinha igualmente uma piscina, que foi a primeira de dimensões olímpicas a ser construída em território nacional. Tinha 50 metros de comprimento e uma prancha com 10 metros de altura. O complexo contava também com uma zona arborizada com vários hectares, onde os hóspedes podiam circular em motas disponibilizados pelo próprio hotel. 

Para a época era, sem dúvida, um empreendimento fora do comum. Com uma localização privilegiada, junto à Estrada Nacional 10, que ligava Lisboa ao Alentejo e Algarve, era o local de eleição para alojar as equipas de futebol nacionais e internacionais que tinham jogos na Margem Sul. 

Depois da popularidade, seguiu-se um período de expansão, que incluiu a construção de um hotel com 60 quartos e outras estruturas. O acesso à praia da Fonte da Telha, por exemplo, foi alargado pelos proprietários do hotel para que os hóspedes chegassem ao areal mais facilmente.

Quem via de fora, acreditava que este era um caso de sucesso no setor do turismo, mas nem a popularidade foi suficiente para salvar o hotel da desgraça. Devido a problemas financeiros e à morte de Zimbarra, em 1973, a empresa proprietária entrou em falência e o Muxito foi vendido, em leilão, a uma cadeira hoteleira dirigida pela jugoslava Gordana Bayloni, uma milionária que se refugiou em Portugal na Segunda Guerra Mundial.

Com uma nova gestão, o Muxito sofreu algumas obras e foram criados grandes planos — demasiado sonhadores, até — para ampliar o complexo, com plano do arquiteto francês Jacques Couëlle. O novo projeto de expansão incluía a construção de outro hotel, mais vivendas e até mesmo um centro comercial, que poderia ter sido único em Portugal, na altura.

Mesmo com toda a ambição e esforços, o empreendimento continuou em declínio. Desde a inauguração da autoestrada da Ponte sobre o Tejo, em 1966, que a procura começou a ser cada vez menor e tudo ficou pior no pós 25 de Abril. “O hotel foi ocupado por um grupo de revolucionários e todo o seu recheio foi roubado. Em 1999, a proprietária morreu e desde então que não existe financiamento para recuperar o local”, conta a urban explorer.

Apesar de terem existido ideias e planos para rentabilizar as moradias, nunca se vieram a concretizar — e ainda não existe qualquer projeto para a zona. A antiga propriedade do Hotel do Muxito, que antes estava escondida pela paisagem, foi cortada parcialmente com a construção da A2, que ocupou o antigo local dos campos de ténis. Os edifícios, que se destacavam pelo estilo arquitetónico, já não são nada mais do que ruínas.

Desde que foi abandonado, já chegou a ser utilizado como infantário e, por vezes, é local de eleição para alguns praticantes de paintball, que aproveitam as ruínas para construir um campo de batalha. As paredes servem de tela para graffitis e o hotel abandonado até já serviu de cenário de filmes, como a produção portuguesa de ficção científica, “RPG”, lançado em 2013.

“Há muitos anos apareceu um casal norte-americano morto dentro de uma das vivendas. Conta-se que estariam envolvidos com agências de espionagem internacionais. Também há rumores de que morreram várias pessoas dentro da piscina olímpica”, conta Rita. São muitas as histórias infelizes que se contam sobre este espaço que fazem com que muitos acreditem que o local está assombrado.

Carregue na galeria para ver as fotografias de Rita Constantino quando visitou o antigo hotel.

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