Na cidade

Durante o apagão, Tiago ficou preso no elevador durante horas sem saber o que se passava

“Não entendi logo a dimensão". Quando foi socorrido pelos bombeiros, não sabia o que se estava a passar. Garante que, durante uns dias, só vai utilizar escadas.

Quando, por volta das 11h30 da manhã desta segunda-feira, 28 de abril, Portugal foi atingido por uma falha de eletricidade, Tiago Braz teve o azar de estar no interior de um elevador. “Foi uma questão de segundos”, conta à NiT. “Tinha acabado de sair de casa de uma amiga e, de repente, apagou-se tudo.”

A primeira reação do sociólogo, de 28 anos, foi de pânico. “O prédio era bem alto, estava no oitavo piso e nem sequer sabia se estava entre andares”, recorda. De seguida, apercebeu-se que o telemóvel não tinha rede e que estava incomunicável. “Comecei a sentir uns suores.”

Perante o desespero, Tiago decidiu acionar o botão de emergência do elevador, embora sem grande sucesso. Quando carregou, recebeu uma mensagem gravada sobre não existir saldo suficiente para estabelecer a ligação. “Dizia para fazer o carregamento no Multibanco. Não sabia se devia rir ou chorar.”

A segunda opção foi bater, com força, na porta do elevador, na esperança que alguém o ouvisse. Foi nesse momento em que uma jovem saiu do apartamento, ouviu o seu pedido de ajuda e disse que ia ligar para os bombeiros. Demorou 20 minutos até ter uma resposta dos socorristas.

“Só comecei a ficar mais tranquilo quando me disse que estavam a vir. Percebi que não ia ficar preso para sempre”, continua Tiago. Decidiu sentar-se, ler um livro e fazer alguns vídeos sobre o que estava a acontecer. “Nos primeiros [vídeos] que gravei, nem sabia se os bombeiros iam vir. Foi uma forma de não pensar muito na situação.”

Com o passar do tempo, explica, percebeu “que o melhor era poupar bateria, porque tinha apenas a lanterna do telemóvel”. “Tinha comida na minha mochila e estava com bastante fome, mas pensei que seria melhor guardá-la para mais tarde. Não sabia quanto tempo ia ficar ali.”

Tiago partilhou tudo nas redes sociais.

Enquanto Tiago aguardava, foi mantendo contacto também com o porteiro do prédio, que tentou abrir a porta com algumas ferramentas. A jovem que deu pela situação também se manteve por perto, voltando algumas vezes para saber se o jovem precisava de ajuda para alguma coisa.

Ao todo, o sociólogo esteve preso durante mais de duas horas à espera dos bombeiros. Já passava das 13h30 quando conseguiu sair do elevador. “Foi fácil, ninguém precisou de me puxar. Conseguiram abrir a porta e tinha um espaço grande, quase como se fosse precisosó pisar um degrau para sair dali”, continua.

Durante todo o processo, Tiago achou que o elevador estava estragado, desconhecendo a situação que se passava em todo o País. “Mais tarde, a menina disse-me que tinha acontecido na rua inteira, mas não a conseguia ouvir muito bem. Não tinha entendido a dimensão.”

Essas informações chegaram através da amiga que tinha visitado, que só se viria a aperceber do incidente quando foi abordada pela jovem que se manteve com Tiago durante toda a manhã. Quando desceu, no mesmo minuto em que os bombeiros chegaram, começaram a ligar todas as peças. “Teria sido bem pior se estivesse a par da situação.”

“Fiquei mais calmo do que achei que ficaria. Sinceramente, tudo o que me passou pela cabeça é que não sei se vai acontecer outro apagão”, confessa. “Então, acho que vou evitar elevadores durante alguns dias. É o único efeito daquilo que aconteceu, não quero ficar preso novamente”, conclui.