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Eight: nesta app de encontros em vídeo tem 8 minutos para perceber se há química

Todos os dias, este projeto português "abre as portas" das 20 às 21 horas. "Funciona como na vida real, as pessoas têm que se conhecer a conversar".

Entrar num bar e achar graça a alguém, sorrir para um desconhecido num café, trocar olhares ou meter conversa numa festa, parecem estratégias ancestrais quando o assunto é conhecer pessoas novas. O mundo dos chats online, as redes sociais e, mais recentemente, as aplicações de encontros vieram alterar a forma como nos relacionamos. Baseamos a primeira impressão numa fotografia e em poucas palavras trocadas, sem conhecer o tom de voz ou as expressões faciais do outro, indicadores infalíveis de interesse mútuo. E se lhe disséssemos que, afinal, bastam oito minutos para criar uma ligação mesmo através de um ecrã? 

Pelo menos é essa a proposta da Eight, aplicação lançada em maio deste ano, que chegou ao mercado das plataformas de encontros online com um conceito que se quer diferenciar da concorrência. Ali, é como entrar num bar que todos os dias só abre durante uma hora. Caso ache alguém interessante — todos os utilizadores têm um vídeo de apresentação de 30 segundos no perfil —, pode enviar-lhe um “sorriso”.

“Tal como na vida real, se vejo uma rapariga gira no bar sorrio-lhe. Quisemos replicar isso na app”, conta Miguel Moreira da Cruz, de 27 anos, cofundador da aplicação, ao lado do amigo Afonso Simão, um ano mais velho.

Se essa pessoa “sorrir” de volta, os dois são automaticamente transportados para uma sala à parte. Isto é, uma chamada de vídeo que dura oito minutos exatos.

“Na app não há fotografias, não há swipes [referência a plataformas concorrentes em que se deslizar a fotografia da pessoa para a direita se gostou, ou para a esquerda, caso não tenha interesse] e não dá para mandar mensagens escritas. Funciona como na vida real, as pessoas têm que se conhecer a conversar“, conta à NiT  “Existe esta falha nas dating apps que temos no mercado. Não são o melhor formato para pessoas que estão mesmo à procura de um relacionamento”. 

Todos os dias, a sala de encontros está aberta das 20 às 21 horas. Só é possível ver os utilizadores que estão presentes à mesma hora, no mesmo local. “É uma plataforma que ajuda pessoas solteiras a conhecer outras pessoas reais e não perfis”, refere. “Fazemos com que as pessoas tenham conversas cara a cara e assim também tentamos contornar o problema da Inteligência Artificial. Hoje em dia nunca sabemos com quem estamos a falar”.

Cada pessoa que se inscreve terá de gravar um vídeo curto de apresentação, com meio minuto, que tenha algumas informações básicas sobre si. “Aconselhamos a dizerem o nome, de onde são, que hobbies têm, qual a ocupação, podem falar dos interesses, revelar como é que os amigos o descrevem, contar como é um dia na vida. É um olá geral”, refere o empreendedor. 

Seguem-se os encontros que duram apenas oito minutos, daí o nome da aplicação, que é oito em inglês. Mas como chegaram a este número?

“Há várias razões. Primeiro, porque admiramos o Simon Sinek [autor, com várias TED Talks realizadas], que fala do poder dos oito minutos e de como, neste tempo, podemos mudar o humor de uma pessoa e ajudá-la a sentir-se menos sozinha. Depois porque oito minutos é o tempo perfeito para que as pessoas não sintam muita pressão, nem é muito nem é pouco”, explica Miguel Moreira da Cruz.

Ainda assim, o responsável ressalva: “A pessoa pode terminar a chamada a qualquer momento. Mas, se estiver a correr mal, são só oito minutos, passa rápido. Se estiver a correr bem, parecem 30 segundos. É um dos indicadores de que se conheceu alguém com quem se teve bastante química”. 

Para os fundadores, a Eight é uma uma forma prática de conhecer pessoas num primeiro momento, e que permite criar uma ligação mais próxima antes de dar o passo seguinte, ao contrários de outras apps do género. “Em algumas delas, passamos semanas a trocar mensagens com alguém que depois não dão em nada, é uma perda de tempo, combinamos encontros que correm mal e tens que estar duas horas a aturar a pessoa num jantar. Aqui é simples, em pouco tempo, sem sair de casa, percebes se achas aquela pessoa interessante”. 

Miguel e Afonso, os fundadores.

Uma ideia original (mas com vários bugs)

A Eight começou a ser desenhada em outubro de 2024, partindo precisamente da frustração que Miguel e Afonso sentiam. Ambos solteiros, na altura, perceberam que as dating apps não correspondiam ao que procuravam. “Apesar de termos perfis com boas conversões, ou seja, com muitos matches [quando ambas as pessoas ‘gostam uma da outra’], reparámos que a Inteligência Artificial, os perfis falsos, as conversas e tempo gasto que não se materializavam num date e até o ghosting, não nos agradavam. Tivemos amigas com histórias chatas de catfishing [técnica em que uma pessoa usa uma identidade falsa para enganar outra], ou seja, quando conheciam a pessoa não era nada do que elas achavam”. 

Depois de conseguirem o investimento necessário, tanto a nível financeiro (o arranque foi feito com 155 mil euros) como tecnológico, demoraram três meses até lançar a aplicação. Pelo meio, testaram o conceito. Colocaram numa casa 10 homens e 10 mulheres, sem se cruzarem. Todos gravaram um vídeo de 30 segundos, que foi colocado no Google Drive, e as raparigas escolhiam com quem se queriam encontrar.

“Depois, enviávamos os links de Google Meet e as pessoas que fizeram match entravam na chamada, em salas separadas. Correu muito bem e tivemos um ótimo feedback”, conta Miguel à NiT. 

Entre fevereiro e maio de 2025, a aplicação atravessou um período de testes. Em maio, foi oficialmente lançada em iOS e, em julho, em Android. Nos dois casos, a plataforma é de utilização gratuita.

“Queríamos criar uma comunidade, por isso é que continua a ser gratuita. Estamos a tentar criar um projeto que as pessoas adorem, que se torne uma tribo, queremos que os users gostem dela”. 

Os dois sócios acrescentam: “No início, foi mais complicado do que estávamos à espera, porque muita gente tem uma terrível percepção de dating apps. Há um estigma à volta delas. Uma conotação negativa. Foi difícil ganhar credibilidade numa app que nunca ouviram falar, com poucos users. A verdade é que, normalmente, quem tem aplicações de encontros no telemóvel prefere esconder, nunca admitem que usam“.

Por isso mesmo, foi também difícil encontrar a forma certa para promover o conceito. “Arranjar influencers dispostas a promover uma dating app não é fácil. Não é um produto neutro”. 

O primeiro mês de vida ficou aquém das expetativas: só tiveram cerca de 50 inscrições. “Estávamos a ter muitos bugs na app, foram meses difíceis”. No entanto, esta semana, a 27 de outubro, ultrapassaram finalmente os mil utilizadores. “Temos 250 pessoas por semana a usar a app”.

Qualquer pessoa pode experimentar a plataforma, desde que tenha mais de 18 anos. Miguel explica: “Diria que a média está nos trinta e poucos, porque temos muitas pessoas nos vintes e muitas nos quarentas. É um bom alcance”. 

O objetivo da Eight agora é ultrapassar os 10 mil utilizadores e, nos próximos seis meses, chegar aos 50 mil. Por enquanto, a app só está disponível em Portugal, mas já existem planos de expansão para o Reino Unido e vontade de chegar aos Estados Unidos. “Tem potencial”, conclui o fundador.

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