Na cidade

Embaixada Açores: “A minha cidade foi duas vezes capital, e a tua?”

Na nova crónica de Luís Filipe Borges, o realizador dá algumas dicas de locais a não perder em Angra do Heroísmo.
Tem uma beleza indescritível.

Angra do Heroísmo, sede do município homónimo, com 34 mil habitantes e 19 freguesias. Seis quilómetros quadrados de centro histórico e quase 500 anos de vida, da Idade Média à contemporaneidade, passando pelos Descobrimentos e Renascimento. Seis quilómetros quadrados no epicentro da primeira cidade europeia do Atlântico, a urbe que começou por se tornar vila ainda no século XV, a pólis que resistiu ao domínio filipino, que foi decisiva nas lutas liberais, que lutou contra piratas, resistiu ao isolamento, à intempérie e até a um terramoto de 7,2 na escala de Richter — que matou largas dezenas e destruiu 80 por cento do seu património.

Volvidos apenas três anos, a “mui nobre, sempre leal e constante” cidade de Angra do Heroísmo era elevada a Património Mundial da Humanidade – a primeira cidade portuguesa a obter esse reconhecimento por parte da UNESCO. Seis quilómetros quadrados, curiosamente a mesmíssima área do Principado do Mónaco, mais do que merecedores da distinção devida:

“(…) a preservação e a valorização de um local marcante da história portuguesa — desde a resistência a Filipe II à Restauração, desde as campanhas da liberdade aos novos rumos atlânticos de Portugal — que conservou nas ruas, nas pedras, nas casas, nas igrejas, nas muralhas, um sentido de nobreza e de afirmação que é bom recordar, senão revelar, aos portugueses de hoje e de amanhã”.

Uma cidade em todas as rotas, Brasil, África, Índias, e o verdadeiro polo atlântico — pelo menos entre os séculos XVI e XIX, carregada de conventos, palácios, igrejas, fortes e solares; rica em azulejaria, talha, pintura, cerâmica, armas; que vibrou numa dialética entre franciscanos e jesuítas e criou o que se tornou lema dos Açores: “antes morrer livres do que em paz sujeitos”.

Uma ode à terra natal, cidade de braços abertos ao mundo, com a alma de sempre.

Para viajar de clique em clique

Entre os edifícios e locais do Património Mundial: Porto das Pipas, Reserva do Monte Brasil, Alto das Covas (e as feridas do Terramoto de 80), Forte de São Sebastião, Castelo de São João Baptista, parque municipal do Relvão, Mosteiro de São Gonçalo, antigo hospital militar da Boa Nova, Praça Velha e Rua Direita, Igreja da Misericórdia, Pátio da Alfândega, Igreja do Colégio, Palácio dos Capitães Generais, Teatro Angrense, Jardim Duque da Terceira, Alto da Memória, Igreja da Sé, Paços do Concelho, Convento de São Francisco, Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Palácio Bettencourt, Palacete Silveira e Paulo, Solar e Capela da Nossa Senhora dos Remédios, Solar da Madre de Deus.

Dica da semana

O Pico da Vigia é um oásis, verdadeira ilha na ilha Terceira, localizado em Santa Bárbara, concelho de Angra do Heroísmo. Abriu em 2016 e tem duas faces: uma turística e outra agrícola. Apresenta 6 casas inspiradas, no exterior, pelos tradicionais palheiros de pedra.

O interior é elegante, conjugando mobiliário antigo restaurado com peças de mobiliário moderno da autoria de Siza Vieira. Nas palavras da (magnífica) gerente, Sofia Couto, “o espaço caracteriza-se também pelo invisível, ou seja, por pormenores que não se notam, mas que fazem diferença no sentir, do que pode ser exemplo a ausência de estruturas aéreas, em postes. A luz e rede de comunicações vem toda subterrânea, por não se querer adulterar a paisagem rústica mais do que o estritamente necessário”.

Depois, outros pormenores como o isolamento térmico das casas, a janela para a entrega do pão, as esplendorosas banheiras de pedra escavadas no chão com vista para São Jorge, e outros pormenores como estes marcam a identidade do sublime Pico da Vigia. Já lá filmei, já hospedei membros de equipas técnicas em rodagem e confesso haver apenas uma grande dificuldade: convencê-los a sair de lá.

O Pico da Vigia valoriza o sossego, a privacidade, o conforto, a exclusividade. Cada casa tem cerca de mil metros quadrados de área reservada, com estacionamento privado. A limpeza das casas é diária, equivalente à hotelaria, não se incomodando os hóspedes quando estes permanecem em casa. A quinta tem ainda uma piscina comum às seis casas, com vista para o mar e para as ilhas vizinhas de São Jorge e Pico. A primeira pode, nos (muitos) dias bons, ser vista em toda a sua extensão – quase 60 quilómetros.

Instalado num terreno com cerca de 53 mil metros quadrados, o Pico da Vigia inclui ainda uma vasta área arborizada, em parte com cerca de mil pés de árvores de frutos, uma estufa com 1500 metros quadrados e uma área afeta à cultura de próteas. Resumindo: duas horas de avião entre o continente e a Terceira, aterrar nas Lajes, alugar carro, conhecer Angra do Heroísmo, habitar no Pico da Vigia, agradecer-me depois.

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Tem dicas sobre spots açorianos que merecem atenção? Vistas deslumbrantes e menos conhecidas? Pessoas que vale a pena conhecer? Gostava de sugerir uma história à Embaixada dos Açores ou contar um episódio hilariante sobre malta de fora que tentou apanhar o metro, achou que tinha de nadar até à próxima caixa multibanco ou estava convencida de existir um rio em São Miguel? Envia um e-mail para embaixadadosacores@nullnit.pt

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