Na cidade

A odisseia fotográfica que celebra a nudez e mostra a EN2 como nunca ninguém a viu

O projeto “N2 NU” é assinado pelo fotógrafo Eddie D Stafford. As modelos aparecem nuas ou quase sem roupa.
Uma das fotografias.

Há quem percorra a mítica Estrada Nacional 2 de carro, autocaravana ou até mesmo de trator. Já o fotógrafo Eddie D Stafford aventurou-se por este percurso que liga Chaves e Faro com uma máquina fotográfica na mão e revela a EN2 como nunca ninguém a viu. Sem pudores e tabus, eterniza com a lente a beleza do País e das pessoas que cá vivem. 

A N2 NU é “uma odisseia fotográfica libertadora da estrada aberta” que celebra a nudez e a sensualidade feminina e masculina. Enquanto artista, a busca pela beleza sempre fez parte da sua natureza e, na maioria dos seus trabalhos artísticos, existe uma tendência sensual. Este projeto não foi exceção. 

À frente da câmara não posam modelos, mas sim homens e mulheres comuns, com idades entre os 25 e 75 anos, que expressam a sensação de liberdade que é estar despido. Com as roupas de lado, são as personagens principais destas telas a preto e branco que revelam o coração e a alma de Portugal. 

O responsável por dar vida a esta odisseia fotográfica é o norte-americano Eddie D Stafford, que se formou em Arte, Fotografia e Design Gráfico na Universidade do Texas. Foi ainda o fundador da OneGroup Creative, uma empresa de comunicação gráfica onde utilização as habilidades criativas para publicidade e marketing para diversas marcas internacionais.

Em 2016, decidiu que estava na altura de uma mudança. Deixou Dallas e a empresa para trás e escolheu Portugal para começar uma nova vida, juntamente com a sua esposa Leah. Agora, está a viver em Vila Nova de Cerveira, no distrito de Viana do Castelo, numa casa que fica a 500 metros do marco do quilómetro 266 da EN2, que diz ser a Route 66 portuguesa.

A NiT falou com o fotógrafo Eddie D Stafford sobre esta odisseia fotográfica provocadora por vários locais do País, que começou há cerca de um ano e tem ganho cada vez mais visibilidade.

Porque decidiu mudar-se para Portugal?
Depois de tantos anos na arte comercial, quis redescobrir e reinventar quem sou como artista. Este é o meu lema enquanto artista: “Na vida humana, a arte pode surgir praticamente de qualquer atividade e, quando isso acontece, é lançada por um longo caminho de exploração, invenção, liberdade até aos limites da extravagância, interferência até chegar ao ponto da frustração, e finalmente disciplina, o controlo constante da mudança e crescimento”, uma frase de Susanne Katherine Langer. Alimentada por constantes mudanças e crescimento, a minha prática criativa levou-me a várias direções ao longo dos anos. A minha recente chegada a Portugal despertou em mim o desejo de explorar e expandir novas fronteiras criativas outra vez.

Como surgiu a ideia de fazer uma odisseia fotográfica pela EN2?
Sempre me inspirei nas minhas viagens e na compreensão de “sinais” estranhos e inusitados. Por sorte, a minha nova casa fica a meio quilómetro do marco 266 da N2 – Route 66 de Portugal. Nos EUA, fiquei fascinado com a mística da estrada aberta e a sensação de liberdade que a Route 66 evoca para o viajante aventureiro. Fui levado a criar algo único a partir dessa estranha coincidência. A Estrada Nacional 2 é um terreno fértil para a minha imaginação e aproveitei-o para novas descobertas e explorações. Cada marca, cada saliência, curva e troço da EN2 dá origem a uma visão que se tornou no projeto N2|NU. Com mais de 700 quilómetros de liberdade, a N2|NU é uma odisseia espontânea, sedutora e fortuita com vida própria. É uma revelação, literalmente um passeio por uma vasta paisagem que é o coração e a alma de Portugal.

Qual é o objetivo deste projeto?
No início foi desafiar-me a criar imagens interessantes que eu pudesse usar para criar alguns processos fotográficos alternativos para fazer arte, como Gum Prints ou Cyanotypes. Eu queria pintar com a minha câmara. Ainda pretendo fazer isso, mas agora acho que também vale a pena fazer um livro de fotos. Acredito que a série N2 NU está a levar-me a pensar de forma mais criativa.

Como é que descreve esta odisseia fotográfica?
De forma geral, acho que é sobre liberdade e voltar às minhas raízes criativas. A minha obsessão por viagens de carro começou quando era criança, quando o meu pai reunia a família para um passeio de fim de semana para explorar os prazeres simples da vida. Um passeio espontâneo para nenhum lugar em particular. Enquanto eu estava sentado, os meus olhos ficavam vidrados na janela à procura de novos pontos turísticos, enquanto o meu pai dirigia por estradas secundárias. O final da viagem pode ser um parque, rios, floresta, um museu ou até mesmo uma pista de aviões. Era sempre uma descoberta nova. Continuo perplexo com o meu desejo de percorrer a estrada menos percorrida. A minha coisa favorita do mundo é ir a lugares onde nunca estive. É como se eu tivesse ganhado asas.

Neste projeto, a maior parte dos modelos aparecem nuas ou com pouca roupa. Esta parte erótica das fotografias faz parte da sua identidade enquanto fotógrafo?
Neste caso, o nome N2 NU fala por si. Sempre houve uma tendência sensual na maioria dos meus trabalhos artísticos. A busca pela beleza sempre fez parte da minha natureza artística.

Como escolheu as modelos? São portuguesas?
Na verdade, nenhuma das pessoas nas minhas fotos são modelos. São amigas, amigas de amigos ou pessoas que ouviram falar do meu projeto e querem fazer parte. Eu gosto da sensação natural que é criada por nenhum deles estar familiarizado com este mundo do modelismo. Alguns deles eu só conheci na EN2 depois de ter escolhido um local e criado um cenário para os colocar. Primeiro, costumo enviar esboços e conversamos sobre aquilo que eu espero alcançar. Tenho homens e mulheres, com idades compreendidas entre os 25 e os 75 anos. Muitos são portugueses e todos vivem em Portugal. Independentemente das origens, todos expressaram a sensação de liberdade enquanto eu estou a encaminhá-los ao longo do processo.

Porquê as fotografias a preto e branco?
Porque retratam um mundo que não é real. Acredito que o realismo da cor seria uma distração desnecessária.

Desde o início desta odisseia, em 2021, em que lugares já tirou fotografias?
Estou sempre a procurar locais que sejam artisticamente interessantes enquanto viajo na EN2. Já percorri a estrada de Chaves a Faro algumas vezes. Fotografei muito entre Vila Real e Montemor-o-Novo e particularmente entre Penacova e Pedrógão Grande, porque estão apenas a uma hora de distância da minha casa. Atualmente estou focado em fotografar mais a parte norte da estrada.

Como tem sido esta aventura?
É uma das experiências mais gratificantes que já tive enquanto criador de arte. Os lugares por onde viajo e as pessoas que encontro ao longo do caminho fazem com que seja uma aventura emocionante e alegre. Acredito que as imagens transmitem uma sensação de liberdade desinibida.

Já teve alguns momentos mais marcantes, bons ou maus?
Já tive vários momentos de gargalhada ao longo desta jornada. Muitas envolvem as reações de pessoas que passam por lá inesperadamente. Uma, em particular, estava numa rotunda onde eu estava a fotografar uma jovem a imitar a estátua nua da fonte. Era de manhã e um camião cheio de trabalhadores passou pela rotunda duas vezes e expressaram alegremente que aprovavam a situação.

Como tem sido o feedback?
Apesar da natureza provocativa do trabalho, o feedback tem sido extremamente positivo. Tanto Góis como Pedrógão Grande pediram para expor as fotografias da odisseia nos próximos eventos.

De seguida, carregue na galeria para ver algumas fotografias desta odisseia libertadora.

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