A primeira vez que João Primaz entrou numa escola abandonada em Mem Martins, concelho de Sintra, em 2020, mal podia acreditar. Na altura, o espaço tinha sido abandonado cerca de dois anos antes, mas ainda tinha vestígios das histórias de alguns alunos que por lá passaram.
“Aquilo agora está completamente destruído mesmo e com cenas partidas”, começa por contar à NiT o jovem de 19 anos. “Quando lá fui pela primeira vez, tinha absolutamente tudo, incluindo fichas dos alunos com nomes e moradas.”
O espaço terá sido inaugurado em 1962, tendo recebido alunos do primeiro ciclo até ao ensino secundário. Em 2018, fechou e foi deixado ao abandonado com todos os pertencentes, entre móveis, quadros, mesas, cadeiras, documentos e até um teatro todo equipado.
João descobriu a escola através de um vídeo partilhado por um conhecido com interesse pelo urbex (exploração de estruturas abandonadas). Entrou em contacto com o jovem e decidiram explorar o edifício. Era tão grande que passaram cerca de cinco horas a andar de uma ponta à outra.
“Na altura ainda andava na escola e pedi-lhe para me levar àquele sítio, porque tinha a certeza que não ficava longe de onde moro, em Cascais”, salienta. “É bastante raro encontrarmos locais assim aqui. Normalmente ficam sempre no norte ou centro no País.”

A primeira vez que lá foi, recorda-se que um dos corredores da escola ainda tinha luz, mesmo passados dois anos após o abandono. “Tinha supostamente um alarme também, mas não funcionava”, sublinha.
“Lembro-me que tinha absolutamente tudo lá dentro. Mesas, trabalhos de educação visual, a parte da creche tinha brinquedos de criança e aquilo nem sequer parecia abandonado. Mas depois percebia-se que foi deixado para trás porque a parede estava toda verde por causa da humidade”, conta à NiT.
No gabinete do diretor, que também estava equipado com uma secretária, cadeiras e armários para arrumação, João encontrou vários documentos e papéis com dados pessoais dos antigos alunos, como o nome completo e a morada. “Não é muito correto abandonar um lugar e deixar lá informações pessoais dos alunos todos”, explica.
Mais recentemente, regressou à escola, que se encontra completamente degradada. “Estava tudo partido, o espaço quase vazio e havia grafittis nas paredes. Roubaram os ferros e tudo”, partilha.
João explica que esse é um dos motivos pelo qual nunca partilha a localização exata dos lugares abandonados que visita. Afinal, é esta também uma das regras do urbex. No entanto, é mais difícil manter o sigilo quando estão localizados em zonas centrais e, por este motivo, não demora muito até serem completamente vandalizados e terem os bens roubados.
Desde os 12 anos que João se dedica ao urbex. Além de Portugal, também visita sítios em outros países, como Espanha. Vai sempre acompanhado com um amigo e para encontrar lugares poucos comuns, explora o Google Maps de ponta à ponta, focando sempre em locais afastados e com vestígios do passado. O jovem está também à procura de uma oportunidade para expor as imagens que tira. Pode acompanhar as aventuras no Instagram.
Leia também este artigo da NiT para conhecer a história de João.
Carregue na galeria para ver algumas imagens da escola abandonada em Mem Martins.