Entrar no carro, apertar o cinto e deixar-nos dormir, aproveitar para ver o que se passa nas redes sociais ou simplesmente relaxar com a paisagem de fundo. Dito assim, isto parece algo possível para todos os passageiros de um veículo, menos para o condutor. No entanto, o futuro quer mudar isso para que todos os condutores possam ficar longe do volante.
Se este cenário pode ainda parecer longínquo, a verdade é que aconteceu pela primeira vez em Portugal, a 14 de setembro. O veículo autónomo completou um percurso em ambiente real e até atravessou a Ponte Internacional Valença-Tui. O shuttle fez o caminho sem que nenhum dos passageiros interviesse na condução, usando a rede 5G da NOS, que permitiu, graças à alta velocidade e ultra baixa latência (tempo de resposta a qualquer comando) da rede, que o veículo transmitisse e recebesse informação de sensores instalados noutros veículos, na ponte e num centro de controlo, garantindo-se a segurança e sucesso da viagem.
Mas este veículo não se limitou a andar numa linha reta dentro de um circuito. Isso já é uma ideia do século passado. Hoje, quando procuramos carros autónomos, pensamos em veículos com capacidade de resposta em caso de imprevistos. Num futuro próximo, um veículo verdadeiramente autónomo terá de ter em conta a imprevisibilidade daquilo que é conduzir num cenário real, onde há pessoas e outros condutores em movimento.
Com isso em mente, a equipa do projeto europeu 5G-MOBIX estudou o potencial do 5G enquanto facilitador da condução autónoma conectada, em que os veículos estão ligados entre si, bem como a sensores localizados nas vias de rodagem ou nos pedestres. E nesta iniciativa transfronteiriça, colocaram o shuttle em algumas situações reais para testar a tecnologia.
Num caso, um pedestre foi colocado no percurso num ângulo morto em relação ao shuttle que, graças a um sensor na ponte, recebeu a informação em tempo suficiente para impedir uma colisão que causaria danos graves na realidade. Noutro caso, foi colocado um obstáculo na estrada. Ao ser detetado, o veículo passou o controlo para o centro de tráfego, onde um técnico assumiu a condução, remotamente, usando uns óculos de realidade virtual.
“Hoje, assistimos a um momento determinante na preparação do futuro da Condução Autónoma. Tivemos oportunidade de participar em demonstrações em ambiente real e com obstáculos verdadeiros, algo nunca antes feito em Portugal. E tudo isto num corredor transfronteiriço, onde foi necessário ultrapassar vários desafios relacionados com a interligação das redes dos dois países”, explica Jorge Graça, administrador executivo da NOS.
A empresa adianta que a tecnologia já está disponível, ficando agora do lado das empresas a decisão de investir neste conceito. A iniciativa 5G-MOBIX reúne 13 países da União Europeia, juntamente com a Turquia e a Coreia do Sul, entre outros países, num total de 58 parceiros envolvidos. O seu principal objetivo é estabelecer a base para o desenvolvimento de corredores 5G e impulsionar o desenvolvimento de oportunidades aplicadas à mobilidade autónoma conectada.