Antes de haver um Parque das Nações ou uma Expo Internacional de Lisboa, a zona oriental da capital era um cenário completamente diferente. Eram dezenas de hectares suburbanos, industrializados e semi-abandonados, que pareciam saídos do set de um filme policial, onde tudo o que se vê são terrenos arenosos, fábricas, rio, betão, lama e contentores.
Entra em cena a Expo 98, um dos eventos mais marcantes da história da cidade e até foi considerada pela própria Bureau International des Expositions como a melhor exposição internacional de sempre.
Lisboetas, visitantes e turistas, pessoas de todas as idades e gerações, rumaram durante os 132 dias da exposição à capital e guardaram memórias marcantes. A cidade tornou-se o centro das atenções, movimentada, alargada em área e rejuvenescida.
Foram onze milhões de pessoas que visitaram a exposição construída para celebrar os 500 anos dos Descobrimentos Portugueses, uma ideia aparentemente megalómana que surgiu quase dez anos antes da cabeça de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura.
Diz-se que a ideia terá surgido durante um almoço, em que discutiam como assinalar os Descobrimentos e que ganhou força quando em 1992 Lisboa venceu, por larga e surpreendente maioria, à cidade de Toronto na luta por acolher a exposição.
Mas a Expo 98 foi muito mais do que as fotos com o Gil, os magníficos Pavilhão Chinês e de Macau, os concertos dos Morphine ou Ornatos Violeta, a animação constante, o teleférico, o fogo-de-artifício de encerramento — o maior alguma vez realizado em Portugal, a Praça Sony e as manifestação artísticas no rio.
Foi até mais do que o Oceanário, o Pavilhão Atlântico (da Utopia), o Pavilhão de Portugal e a sua Pala, os vulcões de água, as cascatas, os passaportes com carimbos, os trabalhadores e voluntários com as suas roupas azul-amarela-brancas, as noites quentes, a comer e a beber nas dezenas de restaurantes e bares espalhados pelo terreno.

Foi também uma reabilitação urbana sem precedentes na capital, que revolucionou esta parte da cidade e influenciou a requalificação em Portugal. Uma obra que começou do zero, numa zona degradada e que se transformou num caso de estudo internacional.
O espaço escolhido foi a zona oriental de Lisboa, delimitada entre a Doca dos Olivais e a Estação de Tratamentos de Resíduos Sólidos, que chegou a receber hidroaviões até estes deixarem de se usar. Nos anos antes da Expo, o que havia ali eram indústrias, contentores, refinarias, matadouros, espaços abandonados e terra.
Portugal conseguiu transformar estes 50 hectares. E ainda que com avanços e retrocessos, em apenas cinco anos (as obras começaram em 1993), estes terrenos formaram um recinto com o dobro do espaço, com pavilhões de todo o mundo, suportado por infraestruturas e transportes.
Há quem se lembre de ter sido tudo até à ultima, de haver pinturas e obras a ser feitas de véspera de 22 de maio de 1998, dia da abertura da exposição, mas foi um feito: desde o maior Oceanário do mundo, até a Gare do Oriente que abriu três dias antes da Exposição.
A Expo fechou na madrugada do dia 1 de outubro de 1998, com um fogo de artifício épico, na maior enchente da sua história. Os desafios começavam depois:

Durante a primeira metade desse mês de outubro, o espaço esteve fechado para ser reestruturado, para saírem os primeiros pavilhões e começar a desmontagem. A 16 de outubro reabriu já como Parque das Nações, recebendo nesse primeiro fim-de-semana mais de 100 mil visitantes.
Até ao fim de 1998, Oceanário, Pavilhão do Futuro e Pavilhão do Conhecimento mantiveram-se iguais à Expo. Em 1999, começou uma nova, porém mais lenta, revolução: a entrada principal, em frente à Gare do Oriente, foi transformada no centro comercial Vasco da Gama, inaugurado em abril desse ano.
O pavilhão do Futuro daria lugar ao Casino Lisboa, o Pavilhão do Conhecimento continua Pavilhão do Conhecimento Centro Ciência Viva com atividades constantes, a Torre Vasco da Gama num Hotel e o Pavilhão da Realidade Virtual foi demolido.
O Pavilhão da Utopia virou Atlântico, e agora Altice Arena. A pala do pavilhão de Portugal manteve-se e acolhe concertos de um festival. O teleférico ainda funciona e a maioria das zonas do Parque das Nações foram sendo vendidas para habitação e escritórios.
Criaram-se jardins, escolas, skate parques, a linha de restauração e bares teve dias menos bons mas aguentou os negócios e continua ativa. Empresas mudaram-se para lá.
O Parque das Nações foi oficialmente constituído como freguesia lisboeta em 8 de novembro de 2012 e hoje mais de 28 mil pessoas moram ali.
No passado mês de março, um grupo de especialistas reuniu-se em Lisboa a propósito do Ciclo de Conferências de Urbanismo “Expo 98 — 20 Anos”, uma vez que este evento conseguiu revitalizar uma zona totalmente degradada e torná-la uma das mais atrativas da cidade.
“Estamos a falar de uma zona que estava totalmente abandonada e marginalizada. A realização desta exposição não só deu a conhecer um território que era totalmente desconhecido, como o tornou numa referência”, frisou então a geógrafa Teresa Barata Salgueiro, citada pelo Dinheiro Vivo.
Na sua intervenção nessa conferência, a docente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) considerou que o sucesso obtido na revitalização de parte da zona oriental “contagiou e inspirou” intervenções noutros pontos da cidade, como as zonas da Praça do Comércio e do Cais do Sodré.
Carregue nas fotos para ver o antes, o depois e o durante da Expo 98: