A 16 de outubro do ano passado, Fábio Cameira e Ana Massano, mais conhecidos por Aloha Wanderlusters nas redes sociais, embarcaram numa viagem que recordarão para sempre. Ao longo de seis meses viveram centenas de vidas. “Tão depressa estávamos na selva como numa praia paradisíaca ou a dormir com uma tribo”, contam à NiT.
Leu bem: o casal viveu mesmo no seio de um grupo tribal na Indonésia. “Fomos para a tribo dos Flower Men. Foi surreal estar lá durante três dias. Olhámos um para o outro e ficámos emocionados”, recordam. Quando lá chegaram, o xamã (uma espécie de sacerdote) ainda não estava em casa porque tinha ido à floresta buscar o tronco de uma árvore.
Quando finalmente passou pela porta, olhou para os viajantes e recebeu-os “com o maior sorriso do mundo.” “Apertou-nos a mão bem apertadinho e não largava. Falámos disto durante o resto da viagem”, dizem. A certa altura, Fábio, de 27 anos, pilotava o drone. Curioso com aquela tecnologia, também o xamã pediu para o usar. “Estava super entusiasmado.”
Os momentos inesquecíveis na Indonésia não se ficaram por ali. Também fizeram mergulho onde encontraram tartarugas-gigantes, com mais de um metro e meio de comprimento, cabeças incríveis e olhos enormes e inacreditáveis”, recorda Ana, de 25 anos. Tudo isto decorreu entre 12 de janeiro e 25 de fevereiro deste ano, mas a viagem começou muito antes.
Chegaram ao Vietname a 18 de outubro, e foi lá que conheceram a Amelie e o Julian numa casa flutuante onde ficaram alojados. Apesar dos nomes poderem enganar, ambos falavam português. “Fomo-nos encontrando com eles ao longo da nossa viagem, em diferentes países. Foi incrível conhecê-los e ouvir a nossa própria língua”, dizem.
Depois do Vietname — país que abandonaram a 10 de novembro — seguiu-se o Camboja. Ali decidiram alterar a forma como viajavam. Quando partiram para o primeiro país, tinham tudo bem definido. No entanto, aperceberam-se que não valia a pena fazerem grandes planos. Em vez disso, deixaram-se ir “ao sabor do vento”. “Não queríamos estar presos a itinerários. Muitas vezes comprávamos os bilhetes de avião no próprio dia e decidíamos onde dormir no dia anterior“, revelam.
A 27 de novembro rumaram ao Laos, já com outra abordagem. Ali, voltaram a encontrar o casal que conheceram previamente, e conheceram grande parte do território com eles. Quando iam a algumas aldeias viam que as condições eram precárias. Havia um povo que vivia numa montanha, e quando saíram de lá sentiram um misto de emoções. “Não sabem o que se passa no resto do mundo, mas estão muito felizes. Nós é que acabamos por ser os ignorantes porque eles brincam descalços e vivem com toda a alegria, e nós às vezes chateamo-nos com coisas que pouco importam”, lamentam.
O destino seguinte do casal foi a Tailândia. Ali, sim, sentiram todas as emoções do espetro. Aterraram a 14 de dezembro e partiram a 11 de janeiro. Estas datas acabaram por coincidir com um dos dias mais importantes da nossa cultura: o Natal. “Foi um bocadinho diferente porque não sentíamos o espírito como em Portugal. A partir de dezembro normalmente já cantamos as canções”, brincam.
Até dia 23, nem se aperceberam a data estava cada vez mais próxima. No próprio dia, as saudades começaram a apertar, e a única coisa que puderam fazer foi uma videochamada à meia-noite de Portugal. Felizmente, não estavam sozinhos. “Estávamos novamente com a Amelie e o Julian”, explicam. Foram para um mercado de rua onde conheceram um senhor “muito simpático” que lhes preparou uma mesa improvisada feita com bancos. “Foi ali que fizemos a ceia de Natal.”
Não comeram peru ou bacalhau, mas camarões fritos. “Podíamos escolher a comida crua e depois eles grelhavam na altura.” O mais atípico de tudo? A temperatura. Lembram-se que no dia 25 acabaram por ir à praia graças ao calor que se fazia sentir. “É quase como se tivéssemos estado um ano sem Natal”, confessam. Foi naquela altura que mais saudades de casa sentiram.
Após terem estado na Indonésia entre 12 de janeiro e 25 de fevereiro, chegaram à Índia a 26. Entraram no país como namorados e saíram como marido e mulher — mais uma vez sem terem planeado esta mudança drástica de vida. Antes disso, porém, decidiram mergulhar num curso de ioga, modalidade que já os tinha conquistado em Portugal.
“Aprendemos a olhar para dentro, a cuidar de nós mesmos, da nossa mente e do nosso corpo. Agora estamos 100 por cento presentes”, dizem. Ao longo de um mês, aprenderam vários conceitos, desde a filosofia da prática às técnicas de respiração. “Tínhamos aulas seis dias seguidos e apenas descansávamos aos domingos. Mas valeu a pena porque agora somos professores de ioga”, revelam.
A cerimónia de casamento coincidiu com a festa de finalização do curso. “Os nossos professores ajudaram-nos a preparar tudo conforme a tradição hindu.” Ana usou um sari, um traje tradicional com cerca de seis metros de comprimento. Já Fábio vestiu uma kurta pajama, que também costuma ser usada nestas ocasiões.
Em vez das leituras, ali entoaram-se mantras e, segundo o que contam, “há muita interação com o casal”. “Tivemos de fazer muitas coisas, como levantarmo-nos e dar sete voltas ao altar. Cada uma destas voltas tem um simbolismo diferente”, destacam. Com eles tinham todos os colegas de curso que estavam tão entusiasmados quanto Fábio e Ana. “Num mês tornámo-nos numa família”, dizem.
“Na Índia também fomos fazer um trekking até aos Himalais, o que foi surreal. Andámos na selva, fomos a praias paradisíacas onde éramos as únicas pessoas, conhecemos tribos e chegámos a ir à neve”, apontam. Apesar de se terem apaixonado pelo país, sabiam que a certa altura teriam de sair. O próximo e último destino na bucket list? Sri Lanka.
Chegaram lá a 19 de abril e quase que se sentiram em casa. “Se tivéssemos de viver em algum destes países, seria no sul do Sri Lanka”, garantem. Quando conheceram a região, tudo lhes pareceu “incrível e muito agradável”. “Tem muito a vibe do surf e do ioga, e também uma forte componente cultural. Nós gostamos muito disso”, dizem.
A viagem chegou a um fim a 15 de maio, dia a que voltaram para Portugal. “O momento em que chegámos ao aeroporto foi lindo, porque as nossas sobrinhas pequeninas estavam à espera e correram para nós. Foi bom rever toda a gente, mas a verdade é que somos viajantes de alma e coração.”
Apesar de cá estarem há apenas duas semanas, já estão a planear o próximo roteiro. “Queremos passar duas semanas na América Central e depois rumar para a Austrália”, revelam. Esperam que a próxima aventura seja tão recompensadora quanto esta. Acreditam que agora são um casal mais unido e regressaram com um novo lema de vida: “Temos de fazer com que o presente valha a pena, e o amanha logo se vê.”
Aproveite para ler o artigo que a NiT fez sobre Fábio e Ana antes de partiram para o Vietname. A seguir, carregue na galeria e veja algumas fotografias da viagem do casal.