Farid Shovro estava à porta da loja de souvenirs que gere há mais de dois anos quando ouviu um som estrondoso do outro lado da Praça dos Restauradores, em Lisboa. Logo a seguir, viu uma nuvem de fumo e não pensou duas vezes até correr em direção ao acidente que tinha acabado de acontecer no Elevador da Glória, pouco antes das 18 horas desta quarta-feira, 3 de setembro.
Ao redor, várias pessoas que tinham presenciado o veículo a ir desenfreado contra um prédio estavam a gritar, mas quando chegou perto do ascensor destruído, com cadeiras viradas ao contrário e corpos imóveis, o silêncio tomava conta do local. Diz que não ouviu nada durante alguns segundos.
“Estava muito silencioso, ninguém estava a pedir ajuda”, recorda à NiT o bengali (natural de Bengala, região entre a Índia e o Bangladeche) de 32 anos. Pouco tempo depois, ouviu, entre o fumo, o choro de um bebé. O amigo português, condutor de tuk-tuk que tinha estacionado ao pé da loja de Farid, conseguiu chegar até à criança, que terá cerca de três anos e estava fora do elevador, para pegá-la ao colo.
“Ele estava a chorar muito e estava um pouco ensanguentado. Tinha cortes no rosto e na perna”, partilha. Naquele momento, várias pessoas juntaram-se ao redor do elevador. “Também ajudámos uma senhora que tinha a perna ensanguentada e estava sentada no chão.”
Apesar dos esforços, não conseguiram fazer muito. “Tentámos ajudar porque somos humanos. Mas as pessoas estavam encarceradas e não conseguíamos fazer nada”, conta.
A polícia “chegou na hora certa”, cerca de “sete ou oito minutos” depois do acidente e começou a tentar “controlar a situação.” Foi neste momento que Farid e o amigo entregaram o miúdo resgatado às autoridades.
O bengali chegou a fazer um vídeo do local, a que a NiT teve acesso, mas as imagens são demasiado violentas para partilhar. Neste, é possível ver a criança resgatada a chorar ao colo de um homem e várias pessoas à volta do ascensor, a tentar ajudar quem estava lá dentro, com corpos imóveis. Tentaram remover alguns pedaços de metal, mas sem sucesso.
“A maioria das pessoas dentro do veículo estava morta. Quando vi nas notícias iniciais que eram apenas três mortos, percebi que não era possível. Conseguíamos ver que havia muitos corpos sem vida”, recorda. “Comecei a chorar porque quando vês pessoas mortas à sua frente, não consegues controlar.”
O acidente envolveu 38 pessoas e o último balanço, feito na manhã desta quinta-feira, 4 de setembro, revelou que são 16 mortos. Há ainda 21 feridos, sendo que sete estão em estado grave. Estão agora a receber cuidados nos hospitais de São Jose, de Santa Maria, de São Francisco Xavier, de Cascais e Amadora-Sintra.
Os feridos são de, pelo menos, 11 nacionalidades. Além de quatro portugueses, há dois alemães, dois espanhóis, um coreano, um cabo-verdiano, um canadiano, um italiano, uma francesa, um suíço, um marroquino e um brasileiro.
A primeira vítima mortal identificada foi André Marques, o guarda-freio de 40 anos do veículo. O acidente terá sido causado por “um cabo que se soltou” na estrutura da composição do elevador, confirmou uma fonte do Regimento dos Bombeiros Sapadores de Lisboa ao “Observador”.
A tragédia foi também amplamente partilhada pela imprensa internacional. Vários meios de comunicação mostraram-se chocados com a tragédia, como a NiT mostrou.

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