Após o fenómeno do El Niño, que se caracteriza por temperaturas superficiais mais elevadas no Oceano Pacífico equatorial — e que foi um dos responsáveis por 2024 ter sido o ano mais quente já registado na Terra —, aproxima-se a chegada de La Niña. Com ela, vem também uma descida das temperaturas.
Os próximos meses deverão ser mais frios do que nos últimos anos devido ao regresso da La Niña, alertaram os cientistas norte-americanos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), na quinta-feira, 9 de janeiro. Este fenómeno, que é o oposto do El Niño, refere-se ao “arrefecimento anómalo das águas superficiais” do Oceano Pacífico Central e Oriental, descreve o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O La Niña dá início, assim, a um período em que as temperaturas médias globais tendem a ser mais baixas. Com o arrefecimento, este fenómeno pode gerar eventos climáticos extremos, como a ocorrência de furacões no Oceano Atlântico, secas na região oriental de África e inundações na Indonésia.
No entanto, estima-se que os efeitos de La Niña sejam de curta duração, uma vez que se manifesta num estado mais fraco e mais tardiamente do que se previa. As condições associadas a este fenómeno devem perdurar entre fevereiro e abril. Na última ocorrência, o La Niña durou três anos, terminando no início de 2023.
“Desde junho de 2023, temos assistido a uma série prolongada de temperaturas globais excecionais à superfície da terra e do mar. Mesmo que surja um evento La Niña de arrefecimento a curto prazo, não irá alterar a trajetória a longo prazo do aumento das temperaturas globais devido aos gases com efeito de estufa que retêm o calor na atmosfera”, explicou Celeste Saulo, secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
As previsões de temperatura para 2025 indicam que será um ano mais fresco do que 2024, o qual estabeleceu um recorde como o ano mais quente já registrado no planeta. A temperatura média global, ao longo do ano, ultrapassou os 1,5 graus de aquecimento relativamente aos valores pré-industriais.
“A humanidade está no comando do seu próprio destino e a forma como respondemos ao desafio climático deve basear-se em evidências”, defende o diretor do observatório europeu Copernicus, Carlo Buontempo.
Em 2015, durante a Conferência de Paris, quase todos os países assinaram um acordo comprometendo-se a tomar medidas para que o aumento da temperatura não excedesse os dois graus em comparação com a era pré-industrial, e idealmente, que esse aumento não chegasse aos 1,5 graus.
A principal razão para as temperaturas extremas, tanto do ar como da superfície do mar, é o aquecimento global causado pela atividade humana. Contudo, outros fatores, como a Oscilação Sul do El Niño (ENOS), que é uma alteração periódica do sistema oceano-atmosfera no Pacífico tropical, também desempenharam um papel nos valores atípicos observados em 2024.