Ir até à Ilha da Madeira e não fazer uma caminhada é quase como ir ao Porto e não comer uma francesinha. Mesmo para quem não gosta de andar muito, é uma das atividades imperdíveis no arquipélago e é uma das melhores formas de conhecer a paisagem natural da ilha. Umas mais difíceis do que outras, mas todas elas partilham uma característica comum: as vistas incríveis.
Levadas, subidas ao Pico Areeiro ou Ruivo ou a Vereda da Ponta de São Lourenço são sempre boas escolhas. Para quem não deseja uma caminhada particularmente difícil, esta última é uma das melhores opções.
A Vereda da Ponta de São Lourenço é um percurso singular porque, ao contrário do resto da paisagem insular, este território caracteriza-se por uma vegetação mais escassa, onde a presença de árvores é inexistente. Mas nem por isso deixa de ser incrivelmente belo. Falo por experiência própria.
Este trilho percorre a Ponta de São Lourenço, uma península de origem vulcânica situada mais a este da ilha da Madeira, batizada com o nome da caravela de João Gonçalves Zarco, um dos três descobridores do arquipélago. É um dos percursos pedestres mais visitados de sempre e, na minha viagem à Madeira, não consegui deixá-lo de lado. Caso também queiram aventurar-se por este trilho que tem uma extensão de oito quilómetros (ida e volta), não façam como eu: escolham um dia menos quente e cheguem bem cedo.
Foi por volta das 11h30 quando chegámos ao local onde se inicia o percurso e, por sorte, conseguimos arranjar lugar para estacionar não muito longe. O sol já estava quente e já estava a prever uma longa (e suada) caminhada.
No início do percurso o passadiço até estava bem tratado e era fácil caminhar por lá. Mais para a frente é preciso ter algum cuidado onde colocar os pés, até porque existem zonas que conseguem ser bastante escorregadias. Felizmente, encontrámos uma espécie de corrimão onde nos podíamos segurar. Caso contrário, acho que não estaria aqui hoje.
A Vereda da Ponta de São Lourenço é uma daquelas caminhadas que não podem ser feitas à pressa. Perdi a conta das pausas que fiz pelo caminho só para tirar fotografias às paisagens, cada uma mais bonita do que a outra. O contraste do azul do mar e do castanho das montanhas tornava tudo aquilo ainda mais bonito.
Dizem que ao longo do trilho é frequente avistar espécies de aves como o corre-caminhos, pintassilgos, o canário-da-terra ou o francelho, mas sinceramente estava mais preocupada em não cair no chão que acabei por não olhar muito para o céu. Em contrapartida, reparei nas imensas lagartixas que passeavam por ali.
Também evitava olhar para o caminho que ainda me faltava percorrer para não perder a coragem. No geral, o percurso até se fazia bem e foi um passeio agradável, com algumas subidas e descidas, mas nada que me tirasse o fôlego. Ou achava eu.
No fim da caminhada existe uma pequena construção denominada “Casa do Sardinha”, nome de família dos antigos proprietários, onde as pessoas podem parar para comer qualquer coisa. Quando se começa a avistar este café, existem duas opções: ir para lá diretamente e dar por terminado o percurso ou arriscar-se a subir a última montanha (e a mais íngreme) da Vereda.
Cada vez que olhava para a altura daquilo, apetecia-me desistir. E quanto mais subia, mais vontade tinha de voltar para trás. É a parte mais complicada de todo o percurso, não por ser íngreme (isso também, claro), mas porque o piso está muito mal tratado. No início da subida ainda existiam uma espécie de escadas que não eram, de todo, as mais seguras do mundo.
O pior foi mesmo quando essas escadas terminaram e, para chegar lá a cima, quase que tínhamos de escalar. Pronto, escalar talvez seja um exagero, mas a verdade é que fui o tempo todo agarrada ao corrimão para não correr o risco de escorregar. A culpa também foi minha, por não ter levado um calçado adequado a este tipo de trilhos.
Ao chegar ao topo só não suspirei de alívio porque estava demasiado ofegante, mas acredito que quem esteja habituado a fazer exercício físico regularmente não sofra tanto como eu. Ainda assim, o esforço valeu a pena: as vistas eram fantásticas.
A descida foi quase tão difícil como a subida e é mesmo importante andar devagar e com cuidado. Perdi a conta das pessoas que escorregaram ali (eu incluída). Concluída a parte mais complicada, chegou o momento mais esperado: dar um mergulho.
Depois de andarmos durante hora e meia ao sol, a única coisa que me apetecia era dar um mergulho no mar. E na Vereda da Ponta de São Lourenço isso é possível, por isso não se esqueça de levar o fato de banho.
Perto do café encontra-se o cais do Sardinha, onde é possível dar mergulhos e passar um bom tempo a descansar e a preparar-se para o caminho de volta. Ou, se preferir, pode sempre regressar de barco, que foi o que fizemos.
É possível comprar os bilhetes na Casa do Sardinha e existem vários passeios disponíveis. Nós escolhemos um da Madeira Sea Emotions — o que deu a volta maior — e pagámos 15€. A viagem durou quase uma hora e levou-nos até ao ilhéu do Farol (só é possível ir de barco) e a uma gruta que havia lá perto.
Apesar de a viagem ser incrível, com o guia sempre a explicar os locais por onde passávamos, o melhor momento surgiu de forma inesperada. Perto do ilhéu do Farol, conseguimos ver um lobo-marinho, a foca mais rara do mundo e uma espécie considerada em perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Em Portugal, só é possível vê-la na Madeira e tivemos a sorte de conseguir registar o momento.
De seguida, carregue na galeria para ver os melhores momentos desta incrível (e cansativa) caminhada pela Vereda da Ponta de São Lourenço.