O Natal não é o mesmo sem as visitas dos miúdos ao velhote de barbas brancas que assenta arraiais nos mercados e centros comerciais. Contudo, está cada vez mais complicado encontrá-los. Tudo porque este ano há uma escassez de Pais Natais em Portugal — parece que ninguém quer vestir o fato vermelho.
A falta de candidatos dispostos a assumirem o personagem foi confirmada pela Fixando, uma plataforma de prestadores de serviço, que admite que há poucos animadores dispostos a usar o traje. Em outubro, apenas 46 por cento dos clientes conseguiram encontrar um Pai Natal disponível, em comparação com os 67 por cento de 2022. O cenário agravou-se em novembro, com apenas 31 por cento.
A Fixando acredita que faltam cerca de mais de mil Pais Natais para dar resposta aos pedidos que o setor irá receber até ao final do ano. Um dos motivos para esta escassez de candidatos é, também, o aumento de eventos natalícios programados para o mês de dezembro, que aumentaram em 70 por cento em comparação com o ano anterior.
Esta é uma oportunidade única para muitos vestirem a pele do velhote de barbas brancas e conseguiram, assim, um rendimento extra. “Ser Pai Natal tornou-se uma oportunidade acessível, pois, com apenas um fato, uma barba e gosto por crianças, é possível prestar estes serviços, sendo uma forma de obter um rendimento extra durante a época festival”, explica Alice Nunes, diretor de novos negócios da plataforma.
O setor paga, em média, 130€ por serviço, sendo que estes ocorrem sobretudo ao fim de semana. Até ao momento, a data mais solicitada é 24 de dezembro, seguida dos dias 1, 15, 21 e 16 de dezembro [ordenados por número de pedidos].
A procura é maior no distrito de Lisboa, com 33 por cento, e no Porto, com 20. Em Setúbal (16 por cento), Braga (11 por cento) e Aveiro (sete por cento) também há falta de animadores.
No centro comercial Colombo, por sua vez, o Pai Natal tem sido sempre o mesmo há mais de 20 anos. Chama-se Severino Moreira e foi convidado para ser o animador de serviço durante a temporada das festas quando tinha 51 anos — e nunca mais parou.
O antigo funcionário bancário estava reformado há poucos meses e odiava passar os dias em casa. Ainda assim, quase rejeitou o convite naquela mítica reunião no início do milénio por “pensar que não ia gostar”.
Como sempre usou barba, que ficou branca quando ainda era novo, as parecenças com o Pai Natal não demoraram a ser notadas. Era ele quem fazia a personagem nas festas da família e da empresa, mas nunca podia imaginar que este se tornasse um fator tão determinante na sua vida.
As parecenças tornaram-se tão evidentes ao longo dos anos que Severino ouve constantemente a comparação onde quer que vá, seja na rua, no metro ou no supermercado. “É a graça de viver na última etapa da vida, e algo que me enriqueceu muito. É uma experiência fantástica que me emociona e realiza. Dá-me algum sentido à vida”, contou à NiT em 2019.
Aproveite e leia o artigo sobre a história comovente do Pai Natal do centro comercial lisboeta.