O fluxo crescente de imigrantes brasileiros está a provocar alterações nas dinâmicas de construção de imóveis em Portugal. A procura por apartamentos com serviços de luxo tem aumentado, especialmente entre os cidadãos oriundos do Brasil, adianta o “Público”. No entanto, as suas preferências diferem das dos portugueses: procuram condomínios que ofereçam ginásios, lavandarias, campos de ténis e outros serviços típicos de hotéis, como a possibilidade de contratar um chef de renome para preparar um jantar.
Os apartamentos com suítes e varandas amplas, adequadas para a instalação de churrasqueiras, são particularmente requisitados. As empresas de construção estão a adaptar-se às exigências dos brasileiros, embora o objetivo principal seja agradar a todas as nacionalidades.
A Incorporadora Invite é um exemplo dessa adaptação. A construtora planeia inaugurar, já em setembro, o seu primeiro empreendimento em Lisboa, que resulta da transformação de um antigo palacete em prédios residenciais com serviços hoteleiros. Os apartamentos do Camilo 25 variam entre 70 e 230 metros quadrados, com preços que oscilam entre os 999 mil e os 2,9 milhões de euros, e metade deles já foi vendida, principalmente a brasileiros.
O conceito inovador tem características particulares: alguns andares foram adquiridos por múltiplos proprietários, tendo até oito donos. Nestes casos, o preço foi repartido entre todos, garantindo a cada um 15 dias de utilização em cada semestre. Em algumas situações, a ocupação é permitida uma vez por ano durante 30 dias consecutivos.
“Trouxemos o conceito para Portugal, que tende a tornar-se uma tendência”, afirmou Cecília Zon, presidente da construtora, em entrevista ao “Público”. O empreendimento Camilo 25 ainda se destaca por incluir uma escultura inspirada na obra do escritor português Camilo Castelo Branco, realizada pela artista plástica Ana Paula Castro.
Apesar do crescimento da procura, a presidente da Incorporadora Invite avança que as burocracias portuguesas ainda dificultam o desenvolvimento destes projetos. Refere que, embora tenha chegado à reta final, foi um projeto desafiante de concretizar.
Nuno Coelho, diretor da Incorporadora Overseas, uma empresa com forte atuação em Lisboa, corrobora essa ideia, apontando que o setor da construção civil está a adaptar-se a um novo perfil de clientes, incluindo brasileiros e norte-americanos. “Estes dois grupos preferem imóveis novos, ao passo que os franceses tendem a valorizar a recuperação de património histórico”, sublinha.
Ainda que a procura esteja a aumentar, existem várias restrições que dificultam a implementação das características desejadas nos projetos. “Planeámos um edifício com elevadores privativos que levariam os moradores diretamente às salas dos apartamentos, mas não obtivemos a aprovação das entidades competentes, que alegaram a necessidade de um hall como forma de facilitar a evacuação em caso de incêndio”, revela.
A abertura a novas tendências no mercado imobiliário é impulsionada pelo aumento do número de cidadãos brasileiros que possuem um património líquido superior a um milhão de euros em Portugal.