Eram precisamente 10h37 desta quarta-feira, 27 de julho, quando um dos barcos da SeaEO Tours desligou os motores para assistir a um dos momentos mais bonitos da história da empresa. Entre as duas margens — Trafaria e Algés — um golfinho deu à luz.
“Hoje foi um dia difícil porque estava muito vento, mas fomos até à Margem Sul porque é onde os golfinhos têm sido avistados mais vezes”, começa por contar à NiT Bartolomeu Paes. O marinheiro estava a bordo da SeaEO Tours, uma empresa que, além do entretenimento de pessoas, preza pelo bem-estar e segurança dos animais.
Ao chegarem à zona da Trafaria, os tripulantes avistaram um grupo de cerca de oito golfinhos — uns meio escondidos debaixo da água, outros a saltar para verem a luz do dia. Estavam ali várias fêmeas com crias recém-nascidas, com cerca de três ou quatro semanas, até que perceberam que uma delas estava a agir de forma diferente.
“Vi um golfinho que estava muito mais tranquilo à superfície. Estava a vir ao de cima mas sem se movimentar muito, só com o movimento da respiração. Depois vi uma cria a sair de lá, mesmo muito pequenina”, recorda o marinheiro. Ao início, pensou que o pequeno mamífero tinha apenas uma semana e até comentou isso com os 12 clientes que estavam a bordo do barco. A verdade é que não tinha nem um dia de vida: tinha acabado de nascer.
“O meu espanto quando começo a ver uma coisa cor de laranja agarrada à fêmea. Primeiro pensei que estava ferida mas depois de observar melhor vi que estava presa à barbatana caudal. Foi aí que percebemos que se tratava da placenta”, lembra Bartolomeu, marinheiro há precisamente dois anos.
Assim que viram o golfinho à superfície, desligaram os motores para não incomodarem a fêmea com movimento ou barulho. “Faz parte do nosso código de trabalho observar os animais e ajustar o comportamento.”
O momento durou cerca de 10 minutos e ainda tiveram tempo de gravar um pequeno vídeo, onde se vê a “barbatana caudal com um movimento pouco natural porque estava a tentar livrar-se da placenta”. Depois, a recente mãe voltou a descer um bocadinho, mas sempre com a cria ao lado dela.
“Um dos comportamentos da mãe é empurrar a cria para a superfície para que ela respire e foi isso que me chamou a atenção na altura. Foi um momento muito especial”, diz. A fêmea que deu à luz já é residente no Tejo há algum tempo e é bastante fácil de identificar (pelo menos para quem percebe do assunto): tem um triângulo branco descolorido na dorsal. É através das barbatanas nas costas que conseguem identificar os golfinhos.
Com uma gestação que dura entre 11 a 12 meses, estes mamíferos que vivem no mar têm uma maior atividade sexual na altura do verão, entre junho e agosto. Segundo o biólogo marinho Sidónio Paes, irmão do marinheiro que ia a bordo nesta manhã, o facto de existirem mais fêmeas grávidas nesta altura do ano pode estar relacionado “com a disponibilidade de alimentos e a temperatura da água”.
Desde a pandemia que se têm avistado cada vez mais fêmeas grávidas, o que significa que o Tejo “poderá ser uma zona interessante para ter as crias, uma zona de refúgio”. Em parceria com o ISPA, a empresa está a estudar o motivo de se manterem por cá, mesmo depois de todas as atividades terem retomado ao normal. “Os golfinhos que vieram na altura da pandemia continuam aqui, por isso a razão pela qual se mantêm cá é mais forte, seja por disponibilidade de alimentos seja por uma zona de maternidade.”
A verdade é que há dois anos não havia nem metade dos golfinhos que existem atualmente. Após vários anos com poucos avistamentos, verificou-se uma maior afluência destes animais à beira de Lisboa e arredores, o que, para Sidónio Paes, tem uma explicação clara: “Antes de 2020 tínhamos avistamentos de cinco ou seis vezes por ano”.
Este recente fenómeno “pode ter acontecido por várias razões, mas certamente está relacionado com a drástica redução de atividade económica”, explica. “Ou seja, está relacionado com as embarcações que saem diariamente para ir pescar.” Com menos embarcações piscatórias, os golfinhos têm agora mais alimentos disponíveis.
Criada em 2018, a SeaEO Tours mostrou ser a oportunidade ideal para “juntar as pessoas à natureza”, com oportunidades de conhecerem as diferentes aves e os flamingos do Estuário do Tejo. Além das viagens realizadas para as observações de golfinhos — que custam 60€ para adultos e 40€ para os miúdos entre os 4 e os 11 anos — a SeaEO Tours tem disponíveis outras atividades: um passeio de barco cultural que passa por alguns monumentos emblemáticos de Lisboa; um serviço de Taxi Boat para atravessar o rio; um transfer para o Oceanário de Lisboa e Aluguer de Barco Privado.
Pode encontrar mais informações e fazer a sua reserva no site da empresa.