Na cidade

Pedro foi líder de uma viagem de barco histórica. Agora é piloto de girocópteros

O lisboeta de 51 anos bateu o recorde da travessia mais rápida entre o continente e os Açores. Agora sobrevoa os céus do Algarve.
Tem 51 anos.

Na terra, no céu ou no mar, pouco importa. Aos 51 anos, Pedro Cotovio quase já perdeu a conta ao número de veículos que experimentou, cada um mais inusitado do que anterior. Começou por organizar aventuras de todo-o-terreno, depois apaixonou-se por voos em balões de ar quente, fez passeios de barco e liderou a expedição oceânica que bateu o recorde da travessia mais rápida entre o continente e os Açores: 46 horas, 17 minutos e 27 segundos. 

Entretanto, aventurou-se pelo paratrike, uma combinação do parapapente com um trike (veículo motorizado), e agora é piloto de girocópteros, um equipamento cuja sustentação em voo é assegurada por asas rotativas. Fundou a empresa SkyXpedition em 2019 e, desde então, tem levado centenas de pessoas a sobrevoar os céus do sotavento algarvio — mas comecemos pelo início.

Tal como muitos outros adolescentes, Pedro Cotovio também não sabia bem o que fazer quando terminou os estudos secundários. Decidiu, então, formar-se em Ciências de Desenvolvimento e Cooperação, um curso abrangente que lhe “abria as portas para o universo”. Chegou a trabalhar num escritório, mas rapidamente percebeu que não era pessoa de estar sentada o dia inteiro. 

“Um dia fui fazer uma aventura de todo-o-terreno, em 1995, e percebi que não devia ser muito difícil coordenar um passeio deste género e fazer algo ainda melhor”, começa por contar à NiT o lisboeta. E assim foi. Começou a organizar este tipo de experiências e chegou a dar algumas formações, até que, de repente, surge o boom do todo-o-terreno. “Estavam todos a apostar no mesmo e pensei: o que posso fazer de diferente?”, recorda Pedro.

A resposta surgiu pouco depois, de forma completamente espontânea. Estava a ler uma revista quando reparou num anúncio sobre balões de ar quente, mesmo na última página. Sem pensar muito sobre o assunto, ligou para a empresa a perguntar como podia adquirir este veículo aéreo, o mais velho da história da humanidade. Na altura, tinha 27 anos e “acharam que era doido”, conta. Afinal, nunca tinha voado numa aeronave daquelas, nem sequer tinha visto uma de perto. “Perguntei-lhe se isso me impedia de o comprar, disseram-me que não. Então fiz um curso em França e comecei a voar, uma experiência encantadora”, conta. 

Durante 15 anos, foi piloto de balões de ar quente, em Alcácer do Sal. A determinada altura, começou a ter dificuldades devido às alterações climáticas: em dez voos, só conseguia voar uma vez devido à meteorologia. “Muitos clientes vinham de fora, de madrugada, e não havia condições para subir. Por isso, comecei a procurar alternativas”, explica. 

A solução que encontrou foi organizar passeios de barco, como forma de compensar os turistas nacionais e internacionais, quando tinham de ficar em terra. Aos poucos, foi ganhando o gosto — e decidiu ir ainda mais longe.

Em 2005, Pedro foi o líder da expedição oceânica que estabeleceu um novo recorde na ligação entre Alcácer do Sal e Angra do Heroísmo. A viagem aconteceu num semi-rígido, o Zoom-Zoom, em total autonomia e sem paragens, tendo sido cronometrada pela Marinha de Guerra Portuguesa. O piloto fez-se acompanhar de Venâncio Bicha, engenheiro mecânico, e Manuel Rosa, que serviu durante 20 anos na Marinha de Guerra.

Parte de Castro Marim.

“Batemos o recorde do mundo da travessia mais rápida sem reabastecer e sem parar. Curiosamente, foi aí que começou também a minha paixão pelos Açores”, recorda. Quando os três marinheiros regressaram, o semi-rigido ficou aportado na Doca de Belém e chamava a atenção de todos os que passavam por lá. “A determinada altura, apareceu malta da Roménia que queria comprar o barco. Ofereci-lhes um valor que me permitia ficar anos sem trabalhar, e eles aceitaram. Vendi-o e comprei um catamarã à vela, onde fiquei a viver durante sete anos”, conta. 

Contudo, o lisboeta nunca foi pessoa de estar parada muito tempo. Desta vez, voltou a trocar o mar pelo céu e decidiu experimentar uma nova modalidade: o paratrike, “um aparelho muito engraçado que parece um parapente com um triciclo em baixo”. Ao contrário das anteriores, não foi uma experiência agradável. “Fui para os Açores voar, estive lá sete meses a viver numa autocaravana. A meteorologia no arquipélago não era a melhor e não permitia voar tão facilmente, era mais perigoso”, confessa. 

Foi com esse “falhanço”, como lhe chamou, que surgiu o girocóptero. É semelhante ao helicóptero, mas a grande diferença está no funcionamento: no primeiro, o que move o rotor (conhecido como hélice) é o vento, enquanto no segundo é o motor. A primeira vez que teve contacto com esta aeronave foi em 2017, numa feira na Alemanha. No final desse ano, já tinha comprado uma para si e regressou a França para fazer os cursos que lhe permitiam pilotar “a máquina mais gira que existe para voar”. “Permite ir rápido, a 200 quilómetros por hora, mas geralmente é mais lento, anda a 80 quilómetros por hora. Além disso, consegue aterrar em qualquer lado”, explica. 

Criou a empresa de experiências SkyXpedition em 2019 e os girocópteros chegaram ao Algarve, mais precisamente a Castro Marim. A escolha da localização foi uma “questão poética”, uma vez que a mãe e o avô nasceram na região mais a sul do País. Além disso, era uma zona que permitia, em menos de uma horas, conhecer o Parque Natural da Ria Formosa, Reserva do Sapal de Castro Marim, rio Guadiana, a Mata Nacional das Dunas Litorais e até as Marismas de Ayamonte e da Isla Canela.

“Acaba por ser um turismo de conservação da natureza. Quando estamos a voar temos capacidade de observação exponencial e com bastante detalhe. Conseguimos observar as áreas protegidas, que assim têm vigilância a custo zero”, confessa. A concentração de aves locais e migratórias também contribuem para a beleza de todo o cenário.

Cada girocóptero tem capacidade para dois passageiros (o piloto e cliente) e as viagens podem acontecer a qualquer altura do dia. Os voos têm preços variados e sob consulta, porque também as experiências são variadas: os passeios duram desde os 15 minutos, perfeito para quem quer só experimentar, até aos 30 ou 60 minutos. Os valores começam nos 99€ e podem chegar aos 360€. As reservas podem ser feitas através do número de telemóvel 919 445 868, ou do e-mail skyxpedition@nullgmail.com.

A seguir, carregue na galeria para ver alguns dos passeios da empresa de girocópteros. 

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