Hilariante, mais curiosas, outras incrivelmente detalhadas. As imagens criadas por inteligência artificial estão um pouco por todo o lado, fruto do trabalho de centenas de programadores que puseram as máquinas a trabalhar — e potencialmente a tirar o emprego a uns quantos designers gráficos.
Era numa dessas ferramentas que Steph Swanson estava a trabalhar, quando se deparou com algo de muito bizarro. A sueca que se dá pelo nome de Supercomposite era apenas um de muitos a testar as potencialidades destes motores de inteligência artificial, que criam imagens a partir de palavras e ideias dadas pelos utilizadores. Em abril, decidiu inverter o processo e motivar o motor para, ao invés de criar uma imagem positiva que tente recriar a imagem proposta pelo utilizador, colocar a inteligência a criar o exato oposto do sugerido. Foi quando viu pela primeira vez Loab.
O processo começou de forma inocente, ao pedir algo que fosse o completo oposto do ator Marlon Brando. Ninguém percebe bem como, mas a inteligência artificial apresentou um logótipo de um negócio. E quando Swanson voltou a pedir nova imagem oposta a essa, recebeu uma imagem assustadora. Nela, surgia uma mulher de feições desfiguradas. E no passo seguinte, a mulher voltou aparecer. Ao fim de quatro tentativas, a mulher teimava em aparecer, e era sempre a mesma face.
“Se usas esses pedidos negativos ou opostos, muitas vezes recebes resultados muito variados. Portanto estranhei quando recebi uma série de imagens que mostravam aquilo que era visivelmente a mesma mulher”, explica a programadora à “ABC”. “Mesmo quando usamos as sugestões positivas, recebemos imagens que correspondem à descrição, mas nem por isso surge literalmente a mesma pessoa. Percebi imediatamente que se tratava de uma anomalia.”
Enquanto ia repetindo a experiência até à exaustão, as imagens de Loab iam-se sucedendo. A mulher, criação digital, foi batizada com esse nome quando, numa das imagens, um texto pouco legível parecia soletrar: Loab. A figura aterrorizadora surgia ora a chorar, ora triste. No fundo, quase sempre o mesmo cenário, uma casa de paredes escuras, esverdeadas, atulhada de lixo e brinquedos.
Afinal, tudo poderia não passar de um erro do motor de criação de imagens. Um erro que levava a que a mesma figura fosse replicada vezes sem conta. Essa crença levou Swanson a experimentar algo de novo: usou outro gerador para criar uma imagem radicalmente diferente e, novamente com a ajuda da inteligência artificial, pediu que as duas imagens fossem combinadas.

“Túnel de vidro comprimido, rodeado por anjos ao estilo de Wes Anderson”, escreveu na descrição da nova imagem, que pretendia que fosse o mais aleatória possível. Quando o resultado do cruzamento de Loab com a nova imagem começou a surgir, Swanson deixou de compreender o que se passava.
As novas imagens agarraram na figura de Loab e colocaram-na em cenários horripilantes. Algumas das imagens eram tão gráficas e violentas que Swanson preferiu não as divulgar. Nelas, vê-se Loab banhada em sangue, muitas vezes rodeada de crianças mutiladas, desfiguradas.
Por essa altura, Swanson queria tentar fazer Loab desaparecer. Conseguiu-o, ao fim de vários cruzamentos da imagem de Loab com novas imagens aleatórias. “Demorou muito tempo porque teimava em aparecer. Mas o mais interessante é que à medida que ia continuando a criar e combinar imagens dela, já depois de ela ter desaparecido, eventualmente esbarrava com uma nova imagem onde ela reaparecia. Ela é uma espécie de gene dominante.”
A reação estranha da inteligência artificial levou a que Swanson divulgasse o sucedido nas redes sociais. Houve quem dissesse que era “obra do demónio”, mas a autora sublinha que não acredita na tese do sobrenatural, “o que torna tudo ainda mais assustador”.
A figura assustadora de Loab tornou-se numa espécie de lenda da Internet e tem até direito à sua própria página na Wikipedia. Mas para lá da enigmática aparição, muitos procuram explicação na amálgama de informação que estes motores e geradores de imagens assentes em inteligência artificial usam para fazer as criações.
Ferramentas como o Dall-E ou o Midjourney têm feito sucesso na Internet, pela sua capacidade de pegar em descrições em texto e transformá-las em imagens detalhadas e originais. Mas será que é algo totalmente original?
Segundo os especialistas, estas ferramentas usam como sua base milhões e milhões de imagens da Internet, na sua maioria criadas por humanos, pinturas, obras de arte, fotografias comuns. E é a partir da descrição que esta inteligência artificial procura recriar o que lhe pedimos. Será uma adaptação? Uma cópia? Ou algo totalmente original? Por enquanto, ninguém sabe muito bem responder.
O que é certo é que também a imagem de Loab é algo nunca visto e que, por algum motivo, teima em continuar a aparecer.
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