Na cidade

“Mais do que ser visitado, é para ser vivido”. O CAM é o novo oásis da Gulbenkian

O Centro de Arte Moderna, que reabriu em setembro do ano passado, foi eleito pela NiT para o prémio de Abertura do Ano.
O novo jardim. Imagem: Joanna Correia

Mais de 110 mil pessoas. Foi este o número de visitantes que o Centro de Arte Moderna (CAM) da Gulbenkian recebeu desde a sua reabertura, em setembro do ano passado. O regresso do espaço museológico, agora num edifício completamente novo e que se enquadra perfeitamente naquele que é um dos jardins verdes mais adorados em Lisboa, não passou despercebido a ninguém.

Desde a sua inauguração que o público percebeu que se tratava de um projeto de arquitetura de excelência, que foi reimaginado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, em colaboração com o paisagista Vladimir Djurovic.

Depois de ter sido destacado como o Melhor Edifício do Ano na categoria de arquitetura cultural, nos prémios Building of the Year 2025, atribuídos pelo ArchDaily, o CAM é também distinguido pela NiT com o prémio de Abertura do Ano — uma das únicas distinções que resulta de uma escolha editorial e não de uma votação aberta ao público.

“Costumamos dizer que os prémios não têm importância, mas é um reconhecimento ótimo e estamos muito felizes. Sentimo-nos muito bem-vindos à cidade”, sublinha à NiT Ana Botella, diretora-adjunta do museu.

Com uma identidade visual completamente nova, o edifício “possibilita uma sintonia perfeita” com a sua envolvência. A arquitetura foi, desde o início, um dos pilares da renovação que arrancou em 2020, altura em que o museu foi encerrado para obras.

O projeto de arquitetura

“Fechámos portas, efetivamente, porque queríamos adequar o edifício às necessidades dos equipamentos contemporâneos do século XXI, e estabelecer uma maior ligação entre o edifício e a área alargada do Jardim Gulbenkian. E acho que o objetivo foi cumprido”, refere. Afinal, já se tinham passado mais de 30 anos desde que o edifício original de betão, concebido pelo britânico Leslie Martin, foi inaugurado, em 1983.

Para a transformação contaram com a ajuda do arquiteto japonês Kengo Kuma, que reimaginou completamente o anterior edifício. A grande pala coberta de azulejos brancos de linhas suaves e orgânicas, que agora marca a fachada do novo CAM, transformou a entrada principal numa zona de passagem entre o museu e o jardim.

Inspirado no conceito de Engawa — um elemento tradicional da arquitetura japonesa que estabelece uma ligação fluida entre o interior e o exterior —, o projeto pretende reforçar a relação entre o edifício, o jardim e a cidade. O conceito reflete-se em várias características, desde a conceção de novos espaços expositivos à abertura de variados pontos de acesso.

A transparência dos volumes e a luz natural que invade o interior do espaço faz com que o CAM seja um “centro de arte aberto”. O trabalho foi feito em colaboração com o arquiteto paisagista Vladimir Djurovic, o responsável por envolver o edifício com a natureza do jardim, que é uma “expressão da paisagem portuguesa e de uma cultura ecológica e poética”.

Com uma base naturalista, o desenho desta zona exterior integrou a vegetação existente, ao mesmo tempo que adicionou plantas autóctones. É através dos vários caminhos sinuosos que atravessam esta “mata urbana” que se chega ao CAM, espaço que abriga a extensão coleção de arte moderna e contemporânea acumulada pela Fundação Calouste Gulbenkian ao longo de 25 anos.

“Mais do que ser visitado, o CAM é para ser vivido. Vamos ter uma série de projetos de artes performativas, alguns de artistas emergentes, e há sempre algo de novo a acontecer”, sublinha a diretora-adjunta. Ali, a arte, a moda e a ciência andam de mãos dadas.

Os visitantes são recebidos no átrio, onde se encontra uma “espécie de uma cápsula”, concebida por Didier Faustino e de acesso gratuito. Chamada H Box, trata-se de uma sala de projeção móvel com aspeto de nave especial, na qual é projetada uma seleção de vídeos de artistas, que podem ser selecionados a partir de um ecrã tátil.

 
 
 
 
 
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A visita continua até à Sala de Som, que oferece uma “experiência imersiva de arte sonora”, já que é um espaço dedicado a ouvir em vez de olhar. Já no Espaço Projeto, é possível conhecer obras de jovens artistas.

Outras das salas são a Nave e o Mezanino, que apresentam projetos específicos de grande escala que incorporam uma seleção de obras provenientes da coleção do CAM. É aqui que são apresentadas as exposições coletivas temáticas de artistas modernos e contemporâneos.

No novo piso inferior, na Galeria da Coleção, encontram-se as exposições que vão permanecer em exibição durante dois anos. Outro destaque é a Sala de Desenho, que mostra as obras num ambiente mais informal.

As novas exposições

A 22 de fevereiro, foram inauguradas quatro novas exposições, que estarão patentes nos próximos meses. Uma delas é a “Ciguatera”, a maior instalação feita até à data pela artista visual Diana Policarpo. Com recurso a áudio e filme, criou uma experiência envolvente: “uma sensação de estarmos dentro do oceano e de o pensarmos através do seu interior”.

A instalação partiu de uma viagem de investigação às Ilhas Selvagens e, agora, as enormes esculturas em forma de rocha enchem a galeria com as vozes da ilha e dos seus habitantes.

 
 
 
 
 
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Já na Sala de Desenho é possível conhecer a primeira exposição individual de Tristany Mundu, uma artista multidisciplinar que trabalha entre a música, a performance e o filme. A instalação, intitulada “Cidade à Volta da Cidade”, reúne uma tripla projeção vídeo e um conjunto de objetos têxteis, que guardam as memórias vivas da cidade, desde os prédios e ruas às vivências das pessoas.

Francisca Rocha Gonçalves é outra das artistas que tem agora patente uma instalação sonora imersiva na nova Sala de Som. Inspirada no ambiente acústico subaquático do rio Tejo, a instalação é acentuada pela presença de sons de baixa frequência, como as ondas, o deslizar dos seixos, o movimento da areia, os estalidos dos camarões e a vocalização dos peixes.

Outra das exposições inauguradas em fevereiro foi “Coro em Rememória de um Voo”, que resulta das colaborações criativas que o artista Julianknxx desenvolveu em nove cidades europeias, onde recolheu histórias não contadas da diáspora africana.

A próxima novidade chega já esta sexta-feira, 14 de março, com a inauguração da “Arte Britânica”. A exposição mostra o impacto de artistas de diferentes geografias na configuração da arte do Reino Unido no século XX, reunindo um importante núcleo de obras de arte britânica da Coleção do CAM e da Coleção Berardo.

Já em abril, mais precisamente no dia 11, será inaugurada a exposição “Entre os vossos dentes”, que junta duas artistas de diferentes gerações: Paula Rego e Adriana Varejão.

A par das exposições, o CAM oferece uma programação diversificada todos os meses com uma série de atividades que aproximam a arte dos mais jovens. “Temos vários programas de famílias e está sempre alguma coisa a acontecer., É um centro super dinâmico”, reforça. Toda a programação pode ser consultada online.

O bilhete para visitar todas as exposições do CAM tem o custo de 10€ por pessoa. No entanto, é possível adquirir bilhete para uma mostra em específico, por 4€. Aos domingos, a entrada é gratuita.

Carregue na galeria para ver algumas imagens do novo edifício.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua Marquês de Fronteira 2
    1050-078 Lisboa

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