Apesar do nome, a Mata dos Medos não assusta ninguém — nem está envolta num qualquer mistério macabro. O espaço arborizado da Charneca de Caparica, em Almada, foi assim batizado devido ao antigo significado da palavra medo, que remetia para o conceito duna.
A designação deriva, portanto, dos montes de areia, tipicamente formados por ação do vento, junto ao mar. Foi precisamente devido à deslocação das areias das dunas existentes a oeste que o rei D. João V mandou plantar a Mata dos Medos, no século XVIII. Conhecida também por Pinhal do Rei, foi plantada para fixar as areias sobre a arriba e evitar que estas invadissem os terrenos agrícolas ou pequenas localidades próximas, como a Fonte da Telha.
“Terá sido mandada instalar pelo rei D. João V, entre 1689 e 1750, para impedir o avanço das dunas (ou medos) para as terras agrícolas. É atualmente o grande pulmão do concelho de Almada”, sublinha a Junta de Freguesia da Charneca de Caparica.
Situada na plataforma superior da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, a cerca de 20 minutos de Lisboa, ocupa uma faixa de cinco quilómetros ao longo da costa ocidental da Península de Setúbal. Com 338 hectares de superfície, foi classificada como Reserva Botânica de 1971 devido à riqueza e diversidade de espécies características do ecossistema de pinhal.
É o local ideal para fazer caminhadas, principalmente naqueles dias de sol de inverno, já que os caminhos estão indicados e assinalados. Já há muito tempo que os moradores (e não só) aproveitaram a mata nacional para passeios e piqueniques nos parques de merendas, mas os passadiços construídos recentemente, em 2023, atraíram ainda mais visitantes ao local.
Os passeios fazem-se ao som do mar, que se avista dos miradouros panorâmicos colocados ao longo dos passadiços. “Com vários miradouros e vistas de cortar a respiração para o oceano e Arriba Fóssil, são o local perfeito para um agradável passeio em contacto com a natureza. Pelo caminho vai encontrar espécies como pinheiros-mansos, medronheiros, espinheiros-pretos e zimbros-galegos”, refere a autarquia.
@steff.adri Passadiços da Mata do Medo … Opções agradáveis para caminhadas na Costa… ❤️ #foryou #portugal #fy #nature
Ao todo há três circuitos para descobrir, que somam quase cinco quilómetros e apresentam um baixo nível de exigência e acesso a pessoas de mobilidade reduzida: o Percurso Oceano, e o Percurso Arriba e o Percurso do Centro de Interpretação da Mata dos Medos.
Os dois primeiros têm áreas em comum e, no total, somam três quilómetros de passadiços. Já o Percurso do Centro de Interpretação estende-se ao longo de dois quilómetros. Todos eles têm início no parque de merendas.
A construção dos passadiços, contudo, esteve envolvida em polémica. A intervenção do Instituto de Conservação da Natureza (ICNF) que levou ao corte de pinheiros-mansos, abertura de clareiras e construção do passadiço levou a associações ambientalistas a apresentar queixa na GNR.
Na altura, em 2021, o ICNF argumentou que a intervenção servia para proteger a biodiversidade e evitar incêndios. A criação de percursos acessíveis seria para diminuir “o pisoteio em áreas sensíveis” e promover a visitação de forma ordenada e menos impactante.
“Na Mata dos Medos, como em muitas zonas protegidas de elevado interesse ambiental, estão previstos projetos que são alvo de várias críticas por parte de organizações ambientalistas do nosso País. Estas são zonas muito sensíveis que devem ser protegidas, as intervenções nelas realizadas têm de ser bem ponderadas, estudadas e avaliadas, sobrepondo-se a quaisquer interesses económicos”, lê-se no site da Junta de Freguesia.
A extensa área de pinhal destaca-se pelos seus pinheiros centenários e uma reserva botânica com espécies autóctones. O rosmaninho, a aroeira, a sabina-da-praia e o tomilho são alguns dos exemplares da flora que se pode encontrar. Na fauna ainda existente, persistem algumas rapinas como a águia-de-asa-redonda, o açor, o peneireiro-cinzento e o peneireiro vulgar.
Outra curiosidade é que a mata inspirou um livro infantil com o mesmo nome, que foi adaptado a teatro de marionetas e recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o quarto ano. Publicado em 2018, a obra “Contos da Mata dos Medos”, de Álvaro Magalhães, conta a história dos “bichos que falam” e que habitam nesta floresta junto ao mar, entre Almada e Sesimbra.
Com várias ilustrações, os contos narram as aventuras do ouriço, da toupeira, do chapim, do caracol e da pequenita (uma lagarta voadora), habitantes da Mata dos Medos, que vão crescendo e apoiando-se ao mesmo tempo que vêm a sua amizade solidificar-se.
Carregue na galeria para ver mais imagens da Mata dos Medos e dos seus passadiços.