Miguel Figueira estava a passar pelo Vale da Rosa, na Turquia, quando decidiu parar para montar a tenda e passar a noite na região. O ciclista já sabia que a zona é conhecida pelos passeios de balões, mas não estava à espera de acordar no dia seguinte e sentir-se dentro de um verdadeiro cenário de filme.
“Acordar e ver os balões por cima da tenda foi uma experiência incrível”, começa por contar à NiT o jovem de 29 anos. “Aquela paisagem foi dos sítios mais bonitos onde já estive. Devia ser quase obrigatório experienciar isso pelo menos uma vez na vida.”
Depois de desmontar tudo, continuou a viagem pelas estradas do Vale, sempre com a vista dos balões a sobrevoarem-no. A experiência, até à data, foi mais a especial que viveu desde que decidiu partir da cidade natal, em Tavira, no Algarve, para dar a volta ao mundo.
A ideia já era um sonho antigo, mas Miguel só teve coragem de a pôr em prática quando foi despedido em dezembro de 2024. Na altura, trabalhava como software developer, mas já tinha a vontade de deixar tudo para trás e ir desbravar o mundo.
“Quando fui despedido, pareceu-me a ideia certa e quando surgiu esta oportunidade, não a deixei escapar”, partilha. Nos meses seguintes, começou a preparar o percurso que pretendia seguir, sempre com a noção de que os imprevistos acontecem e que, provavelmente, teria de o alterar ao longo do percurso.
A 2 de junho partiu de Tavira em direção a Espanha, tendo passado, até agora, por França, Mónaco, Itália, Eslovénia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Bulgária e Turquia.
“Quando ainda estava a trabalhar, o que eu fazia muitas vezes era ver pontos de interesse de sítios que eu gostava de visitar e guardava esse local no Google Maps”, confessa. “Já nesta altura ficava a sonhar com uma possível rota. Depois, quando fiquei desempregado, comecei a preparar mais a sério e a pensar melhor os sítios por onde iria passar, tendo sempre atenção se as fronteiras estavam abertas ou não.”

Durante dois meses, preparou todo o material que precisaria para dar a volta ao mundo — a tenda, as ferramentas da bicicleta, um kit para primeiros socorros, uma câmara GoPro e um drone para partilhar as aventuras nas redes sociais.
Antes da viagem, chegou também a encomendar um fogão a álcool para conseguir cozinhar em qualquer lado, mas teve um grande azar: o produto só chegou horas depois de Miguel ter partido de Tavira em direção a Espanha.
“Fiquei este tempo todo sem fogão, mas comprei recentemente um na Turquia e agora, já tenho outra liberdade. Estou super contente”, diz, acrescentando que até então, aproveitava a comida pronta que encontrava nos supermercados por onde passava.
Em todos os países, Miguel também faz novas amizades. A 1 de agosto, estava na Bósnia quando se cruzou com quatro amigos sérvios que decidiram conversar com o português. Acabaram por lhe oferecer um pequeno copo de Rakija, uma aguardente potente (com 40 por cento de álcool) feita de ameixa.
“É uma bebida popular por aqueles lados”, explica. “Puseram-me a par da sua rotina que era beber, comer, trabalhar e dormir muitas vezes durante o dia. Foi uma das interações mais peculiares que já tive.”
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Já furou um pneu e salvou um pássaro em Espanha
O interesse pelo ciclismo surgiu quando ainda estava no oitavo ano, através do desporto escolar. Um amigo desafiou Miguel a fazer passeios de BTT (bicicleta de montanha) todas as quartas-feiras e, ao longo do tempo, o interesse cresceu, tendo participado em competições durante o secundário.
A volta ao mundo foi uma ideia que surgiu mais tarde. “Acho que qualquer aficionado do ciclismo tem este sonho”, confessa. Os primeiros dias da aventura foram eletrizantes. Isto porque no nono dia, quando estava em Granada, Espanha, teve de deixar a bicicleta na oficina após ter furado um pneu e escutar “barulhos estranhos.” Aproveitou o percalço para conhecer a região e à tarde pode continuar a aventura.
Dias depois, estava no interior do país quando ouviu um barulho numa árvore à beira da estrada. Assim que se aproximou, apercebeu-se que se tratava de um pássaro com a asa presa no tronco. Com uma pequena faca e ferramentas da bicicleta, conseguiu libertá-lo e vê-lo voar para longe.
“Para já, não tive nenhuma experiência terrível. Pode haver um furo, um problema mecânico ou algo do género, mas nada que me tenha feito andar quilómetros e quilómetros com a bicicleta a pé”, sublinha. “Também já dei uma queda, mas também nada de grave.”
Miguel tende a fazer entre 400 e 600 quilómetros por semana e todos os dias, dorme num lugar diferente. “Às vezes o parque de campismo já está fechado e também podem acontecer imprevistos. Mas isso era mais no início, agora já estou a habituar-me à rotina e fora da Europa é mais fácil de acampar em qualquer lado.”
Agora, Miguel está animado para percorrer o Sudeste Asiático, para ter contacto com a cultura da região, e também chegar à Austrália, que pode ser “um desafio engraçado para fazer de bicicleta.”
“Acabo de ficar entusiasmado com todos os países porque são muito diferentes e tenho sempre algo para me deixar entusiasmado”, partilha. Antes de partir na grande viagem, juntou dinheiro para não ter de se preocupar ao longo do caminho. O objetivo é concluir a viagem num ano e meio, mas não tem planos definidos.
“Há algumas restrições de orçamento e também tenho a minha namorada à espera na África do Sul”, partilha. “Além disso, há a questão das estações do ano. Sinto que estou com bastante pressa agora porque está a chegar o inverno no hemisfério norte e gostava de passar para o outro lado antes disso.”
Carregue na galeria para ver algumas fotografias da viagem de Miguel.

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