Não sei bem como nem porquê, mas a verdade é que nunca tinha colocado os pés no famoso Festival de Chocolate de Óbidos, ainda que tenha feito planos quase todos os anos para ir até lá. Acho que, inconscientemente, estava a tentar resistir à tentação — logo eu, que podia comer chocolate todos os dias sem me fartar (com exceção do negro, esse dispenso). Em 2023, deixei as desculpas para trás e fui finalmente até à pitoresca vila conhecer este paraíso de doces que todos falam.
A 19ª edição do evento arrancou na passada sexta-feira, 10 de março, e o tema deste ano é a banda desenhada. Como é que era suposto resistir às personagens mais emblemáticas dos livros aos quadradinhos cobertas de chocolate? Impossível. Foi precisamente por esse motivo que fui logo no segundo dia do festival, ainda que com algum receio que estivesse a abarrotar de gente por ser o primeiro fim de semana. Cheguei por volta das 15 horas e, felizmente, não fiquei nem cinco minutos na fila para comprar os bilhetes, que custam 10€.
Logo na bilheteira, é-nos dada uma pulseira amarela que nos dá acesso aos vários espaços do recinto e um mapa (que funciona como um passaporte) com tudo o que podemos encontrar. O engraçado é que toda a visita é feita como se fosse uma espécie de desafio: por cada “casa” com uma estrela que passamos, os colaboradores carimbam o nosso passaporte. Quem tiver, no mínimo, quatro carimbos, tem direito a uma “poção mágica”, como lhe chamam, que é servida no Kids Play, situado no Miradouro do Jogo da Bola, onde os mais pequenos vão encontrar um contador de histórias inspirada no universo de Astérix e Obélix — mas já lá vamos.
Basicamente, a pulseira dá-nos acesso a todos os espaços do recinto. Começámos por percorrer o Largo Porta da Vila e passámos por uma street food que já nos deixou com água na boca: havia salames de chocolate, bombocas, bolos cheios de creme, suspiros enormes, waffles e muito mais.
Sobrevivemos a este corredor sem cair na tentação (afinal, ainda tínhamos um dia inteiro pela frente) e o primeiro spot com estrela foi o Auditório Municipal Casa da Música, onde os melhores chefs demonstram as suas técnicas, habilidades e segredos para trabalhar chocolate. Naquele dia, foram os chefs Tiago Ferreira, Rui Mota, Madalena Santos, Fábio Bernardinho e Jennifer Carvalho. Contudo, um dos showcooking mais esperado tem lugar a 18 de março, com o Francisco Siopa, que vai mostrar os tabletes de chocolate feitos com insetos.
Depois, seguimos caminho para as Esculturas de Chocolate, onde recebemos mais um carimbo no passaporte. Aqui, a fila já era ligeiramente maior, mas andou bastante rápido. Dentro do Óbidos Chocolate House, já no interior das muralhas, estavam criações pormenorizadas de várias personagens famosas das bandas desenhadas: foram criadas pelo chef Abner Ivan e as oito obras de arte demoraram 2.160 horas até estarem concluídas. Os detalhes são incríveis e, à primeira vista, nem parece que são feitos de chocolate. Os famosos gauleses Astérix e Obélix, a personagem principal da Turma da Mónica, o cowboy Lucky Luke, o Homem-Aranha, o Tom & Jerry e o Pateto são as personagens que vai encontrar por lá.
No final da exposição, ainda passámos pela Óbidos Chocolate House, que é um verdadeiro paraíso — e já não consegui resistir mais. Nas montras, estavam os bombons (2€ cada) e as tabletes de chocolate (12€) mais bonitas que já tinha visto na vida, de todas as cores e sabores, deste pistacho, avelã, maracujá e framboesa. Acabei por levar uma caixa com seis (e comprei outro para comer pelo caminho).
À medida que íamos andando, a animação na rua não parava. Nesta edição, as personagens de banda desenhada (como o Batman e a dupla Astérix e Obélix) ganharam vida e foram espalhar sorrisos pelas ruas. Já no Largo de São Pedro, onde os visitantes podem aproveitar para descansar e beber um café (ou chocolate quente), um grupo estava a dar um espetáculo de dança.
Depois de descansarmos um bocado e de bebermos uma ginjinha de Óbidos (não podia faltar), seguimos para a Cerca do Castelo, onde estavam mais quatro locais com estrela: a Casa do Chocolate by Dots; a Estação Melgão Cacau e Chocolates; o Wine & Chocolate Joaquim Arnaud; e o Salão de Chocolate. Começámos por ir à Estação Melgão, um pequeno corredor que nos leva a conhecer todo o processo de fabrico do doce mais popular do mundo.
Logo em baixo fica o Salão do Chocolate, que foi um dos sítios que mais gostei. Basicamente é um espaço premium, onde é possível ver a criação de esculturas de chocolate ao vivo, conhecer várias marcas e encontrar expositores com produtos exclusivos — um deles tinha uma tablete com larvas, que custava 9€. Optei por deixar os insetos de lado e acabei por comprar uma tablete de chocolate branco por 5€ e ainda dar 2€ por um “jogo”: tínhamos de bater com uma bastão num dos círculos que estava na parede até cair uma bola, que nos dava um prémio consoante a cor. No meu caso, recebi mais um copo de ginja de Óbidos (até porque nunca é demais).
Ainda antes de sair do Salão, deram-me a provar uma pasta de azeitonas pretas — a parte boa é que pode ir experimentando vários produtos ao longo da visita — e ainda comprei um brigadeiro de chocolate branco por 1,20€.
O próximo destino foi a Casa do Chocolate by Dots, que tinha a maior fila de todas: estivemos à espera para entrar durante cerca de meia-hora mas, para quem gosta destes donuts “originais”, vale a pena. Assim que entramos, dão-nos um tabuleiro com um Dot e depois podemos escolher dois toppings. Havia gomas marshmallow, granola, smarties e pepitas de chocolate. Depois disso, entramos para uma outra sala, onde podemos decorar o donut à nossa maneira — e, claro, comê-lo.
Com tudo isto, já tínhamos conseguido cinco carimbos e estava na hora de ir até ao Miradouro do Jogo da Bola para receber a poção mágica a que tínhamos direito. Nesta área, há ainda uma carreira de tiro com arco, uma catapulta, um alvo pendular e três torres de obstáculos que ajudam a passar o tempo enquanto estamos na fila à espera da bebida que é, nem mais nem menos, chocolate quente.
Como já estava a ficar de noite, acabámos por não ter tempo de conhecer todos os espaços do festival, ficando a faltar a Exposição BD e o Grand Place du Chocolate, uma “elegante esplanada de inspiração francesa”, na Praça de Santa Maria. Tendo em conta que temos direito a um Dot e um chocolate quente, o bilhete não está caro, mas convém irem com mais tempo para verem tudo com calma.
Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteira do evento ou no site da BOL. Custam 10€ para aqueles com 12 anos ou mais, e 8€ para os miúdos entre os 4 e os 11 anos. As portas estarão abertas entre sexta-feira e domingo das 11 às 20 horas.
Carregue na galeria para ver como está a edição deste ano do Festival de Chocolate de Óbidos.
