Prometiam um “resgate inédito no mundo” aos três cães presos entre a lava incandescente do vulcão de Cumbre Vieja em La Palma. A história que emocionou os espanhóis e o mundo parecia estar mais próxima de um final feliz depois do salvamento com drones ter sido autorizado pelas autoridades. Mas o súbito desaparecimento dos animais colocou tudo num impasse dramático.
Localizados há cerca de uma semana num dos locais mais inacessíveis da ilha, as autoridades ficaram boquiabertas com a forma como os cães, visivelmente fragilizados, conseguiram escapar aos rios de lava. Dos quatro, apenas três sobreviveram — e esses foram sendo alimentados por pequenos drones que transportavam água e comida pelo ar.
Sem forma de lhes chegar por terra, essa era a única alternativa que tinha quem assistia ao lento definhar dos animais. Da Galiza chegou, a 15 de setembro, uma nova esperança.
Uma empresa de drones estaria há dias a trabalhar numa solução para transportar os cães por via aérea. “É uma manobra sem precedentes que nunca foi feita. Mas é isso ou deixá-los morrer”, explicou ao “El País” Jaime Pereira, CEO da empresa.
A solução dependia de drones de grandes dimensões — com mais de dois metros de diâmetro e capacidade para carregar até 24 quilos —, usados para transportar mercadorias até aos barcos que atravessam o estreito de Gibraltar. Mas mesmo que os drones pudessem concretizar a operação em segurança, a Aerocamaras precisaria de obter uma autorização especial das autoridades para sobrevoar a zona de exclusão criada à volta do vulcão.
Mais: utilizar drones para transportar humanos e animais é, segundo a lei espanhola, ilegal. Felizmente, esta terça-feira, 19 de outubro, o comité responsável pelo plano de emergências vulcânicas das Canárias deu a tão aguardada autorização especial para o resgate na localidade de Todoque.
No terreno, estava quase tudo pronto para dar início ao plano que, claro, envolveria vários testes antes da derradeira tentativa. Na manhã desta quarta-feira, 20 de outubro, os operadores de drones tentaram replicar as condições do voo de salvamento.
Os drones — que irão usar uma rede resistente para atrair os cães e depois prendê-los — concluíram um voo de 1.200 metros com uma carga de 15 quilos. Voltaram a fazê-lo numa segunda tentativa, dessa vez num percurso de 1.400 metros, com mais um quilo de carga e apenas 35 por cento de bateria.
🚀La prueba requerida consistió en un #vuelo de 1.200 metros de trayectoria con el #dron soportando una #carga de 15 kg. Nuestros técnicos la han realizado con #éxito superando esta distancia en 200 metros, con medio kilo más de carga y un 35% de batería. pic.twitter.com/iB75i8nNcQ
— Aerocamaras Especialistas en Drones (@aerocamaras) October 20, 2021
As máquinas foram personalizadas e redesenhadas para aguentarem até 23 quilos de carga. Na sua base foi colocada uma rede que se abre na descida e terá comida para atrair cada um dos cães. Assim que estiverem no centro da rede, ela fecha-se e o drone levanta novamente voo. “Se houver algum problema, temos previsto um sistema de libertação rápida para colocar o animal de novo no solo”, avisam os responsáveis.
O percurso obriga a percorrer perto de mil metros de ida e volta — e o tempo e bateria são escassos, por isso o operador terá apenas quatro minutos para apanhar cada animal e outros quatro para regressar à base. Apesar de ser uma tarefa complicada, estava tudo preparado para o resgate. Ninguém contava com um imprevisto.
À chegada dos primeiros drones ao local e ao contrário do que é habitual, os cães não apareceram. Habituados aos drones e atraídos pela comida que lhes traziam habitualmente, a situação intrigou os responsáveis. Sem sinal dos animais, deu-se início às buscas a partir das 11 da manhã.
Sempre através dos drones da Aerocamaras, a prioridade da operação passou a ser a localização dos cães. Nem com recurso a câmaras térmicas e a sons de outros cães foi possível encontrá-los. Ninguém sabe o que se poderá ter passado: se optaram por se manter refugiados nas pequenas edificações que restaram, abrigados das altas temperaturas; ou se poderão, no pior dos cenários, estar mortos.
As operações deverão, segundo a empresa galega, continuar até às 22 horas da noite. “Vamos continuar a usar as colunas. Temos 80 baterias, um gerador, trouxemos todas as equipas, o drone de resgate, a rede e muito pessoal que nos está a ajudar como os veterinários”, explica Jaime Pereira.