O Trash Traveler está de volta com um novo projeto, e desta vez planeia limpar Portugal do verdadeiro flagelo das beatas de cigarros: com amigos, voluntários, por um País mais limpo e um melhor ambiente, uma beata de cada vez.
Andreas Noe, um biólogo molecular de 33 anos, começou em 2019 — há uma pandemia atrás — a apanhar lixo em Portugal. Isso mesmo: toneladas e toneladas de lixo, pela costa mas não só, com um espirito positivo e de consciência ambiental que o tornou também num fenómeno das redes sociais: que o digam os muitos seguidores do seu YouTube e Instagram.
Por lá, o alemão auto intitula-se TheTrashTraveler, partilhando as aventuras por Portugal e países vizinhos e a sua saga para apanhar o lixo que os outros deixam. A NiT falou primeiro com o biólogo que se apaixonou pelo nosso País no início de 2020, quando em apenas 117 dias já tinha recolhido quase 400 quilos de lixo, a grande maioria por cá.
A viajar numa caravana, acompanhado de um cão e um ukelele. Andreas falava então da sua paixão e determinação em literalmente limpar o mundo, a mesma que o move agora num novo projeto: a guerra às malfadadas beatas, terríveis poluidores que deixam um rasto ambiental infinitamente maior e mais prolongado no tempo do que a sua aparente dimensão.
Antes disso, dentro do seu projeto mais geral e mesmo em plena pandemia, o biólogo alemão criou outro desafio: a guerra ao plástico, em modo caminhadas de recolha: ou num conceito, a sua Plastic Hike, Esta terminou em outubro do ano passado com números impressionantes: 1,6 toneladas de plástico recolhidas numa caminhada de 1150 km durante 58 dias sem interrupção, por exemplo.
O Trash Traveller percorreu então cada metro da costa portuguesa e conheceu mais de 100 ONG, iniciativas, ambientalistas e empresas para falar sobre problemas e soluções para a crise do plástico. 580 pessoas aderiram às limpezas diárias da praia.
Agora, chega o projeto The Butt Hike. “É um movimento incrível e avassalador” adianta Andreas à NiT, e uma ação que acabou de chegar à região de Lisboa.
Até agora, Andreas, amigos e voluntários já recolheram 240 mil beatas de cigarro. O objetivo é chegar a um milhão e talvez até bater simbolicamente um recorde mundial. Todas as pessoas se podem juntar. Todas as informações, incluindo um mapa da caminhada, estão na plataforma entretanto criada para o efeito.
Por lá, se explica que “o oceano começa nas nossas casas e nas nossas cidades. Portanto, muitas ações serão realizadas este ano em vários centros das cidades, à medida que mais pessoas forem alcançadas”.
Todas as pontas de cigarro serão salvas ao longo da jornada para criar peças de arte cada vez maiores. “Com o projeto The Trash Traveler, não quero apenas limpar o mundo do lixo, pois isso não é possível se continuarmos a não valorizar o lixo o suficiente. Portanto, estou mostrar soluções e tento inspirar outras pessoas a pensarem na reutilização de materiais e entrarem numa economia circular. Todas as pontas de cigarro serão desintoxicadas e como contêm principalmente plástico, serão transformadas em novos produtos”, adianta Andreas.
O alemão explica à NiT que a ideia do novo projeto surgiu enquanto terminava o anterior, “das 1,6 toneladas de plástico em 58 dias”, feitos sem intervalo.
“Juntamente com ONG e o público para aumentar a conscientização sobre a poluição por plástico, percebi: vemos a poluição por plástico na praia, mas como é que ela chega lá? Por ações longe do oceano. Nas nossas ruas, nas casas das nossas cidades. Um pequeno ato como colocar uma beata no chão é um exemplo de que pequenos atos importam se milhões de pessoas o fizerem”, conta o biólogo.
E lembra: “as beatas contêm plástico e toxinas e chegam à natureza, ao oceano e, por exemplo, aos peixes e, portanto, voltam à nossa cadeia alimentar. Este projeto tem como objetivo mostrar que nossos pequenos atos do dia a dia são importantes e todos nós podemos fazer a diferença tentando, todos os dias, proteger nossa natureza”.
Sobre se os portugueses estão atentos às questões ambientais, o jovem acredita: “Portugal tem uma costa tão extensa e, por isso, a ligação ao oceano e ao ambiente é forte e está a aumentar. Estou a trabalhar com muitas ONG, ambientalistas e iniciativas e o litoral está cheio de pessoas que cuidam e trabalham para ele. Este projeto é um projeto comunitário”.
No ano que vem, vai surgir mais uma aventura sobre a poluição do plástico, pela sustentabilidade e sobre o lixo. “Não posso lançá-lo ainda, mas será novamente uma aventura extraordinária para abrir os olhos em Portugal. De novo com toda a comunidade e quem quiser juntar-se”.
A sua incrível viagem começou há apenas poucos anos, quando se mudou da Alemanha para Lisboa em trabalho. “Sou um biólogo molecular e tenho trabalhado aqui [em Portugal] num laboratório”.
Em 2018, Andreas decidiu mudar-se para a sua caravana, enquanto mantinha o emprego de escritório. “A minha vida junto da natureza aumentou. Comecei a surfar mais, a estacionar a minha casa em belas falésias e praias da zona de Lisboa. No entanto, em todos os lugares que estacionava, encontrava lixo”, relata.
Plástico, vidro, latas, beatas de cigarro, papel higiénico, etc.. Durante dois anos foi assistindo e acumulando frustrações. “Não estava feliz com a situação, mas nunca fiz nada contra isso e apenas pensava “caramba, tanto desperdício”. Sou vegetariano desde os quatro anos e sempre tive consciência do que comia e do que consumia, e não conseguia entender”.
Em 2019 participou no desafio mundial ´Julho sem plástico”, um momento que o fez pensar e questionar ainda mais: “o que estamos a fazer com o nosso planeta?”. Todos estes pontos e momentos levaram-no progressivamente a um estilo de vida mais consciente e até estas missões já com uma enorme escala.
E quem se quiser juntar pode fazê-lo: quer aderindo às caminhadas como simplesmente recolhendo beatas até ao final de setembro, mesmo na sua zona, por iniciativa própria, e trazendo-as para pontos de coleta — basta mandar um email para thebutthike@nullgmail.com para saber detalhes.
Uma montanha de beatas recorde, será depois criada no início de outubro em Lisboa, adianta Andreas. “Tão bonito, termos pessoas a organizar eventos de limpeza adicionais em Portugal para atingir a meta. Todos juntos somos mais fortes.”, conclui.