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O “oásis verde” que já foi refúgio de monges agora é uma floresta terapêutica

As propriedades da Mata Nacional do Bussaco trazem vários benefícios ao bem-estar e à saúde. É a primeira a ganhar este estatuto na Península Ibérica.
Tem 106 hectares.

Para muitas pessoas, deambular por um bosque, onde a rede móvel é instável e o tempo parece desacelerar, funciona quase como uma forma de terapia. Embora o poder regenerador das árvores não seja uma novidade, nem todas as florestas podem ser verdadeiramente consideradas terapêuticas. É necessário apresentarem características específicas, como a capacidade de oferecer proteção contra o ruído e um ambiente o mais natural possível. Felizmente, já existe um espaço verde em Portugal que possui estas qualidades.

Com 105 hectares, a Mata Nacional do Bussaco foi, no final de outubro, oficialmente classificada como floresta terapêutica pelo Gabinete Internacional de Certificação de Florestas Terapêuticas. Criada em 1993, em Toronto, no Canadá, esta iniciativa que junta várias organizações ambientais dedica-se a promover a gestão responsável das florestas em todo o mundo.

Com esta distinção, o Bussaco tornou-se a primeira floresta do género em toda a Península Ibérica, aguardando apenas a tradução do diploma que comprova o reconhecimento internacional. “Quem conhece, sabe que esta é uma floresta extraordinária, com propriedades botânicas e culturais únicas que fazem dela o sítio ideal para a cada vez mais conhecida terapia de floresta”, refere a Fundação Mata do Bussaco. 

É no extremo da Serra do Bussaco, no Luso (Mealhada), onde a montanha atinge os 547 metros de altitude, que se encontra aquela que é uma das matas nacionais mais ricas em património nacional, arquitetónico e cultural a nível nacional. Refúgio de monges e de reis, foi plantada pela Ordem dos Carmelitas Descalços no primeiro quarto do século XVII após ser doada pelo então bispo de Coimbra, D. João Manuel.

Corria o ano de 1628 quando ali se instalaram os monges pertencentes à ordem e começaram a plantar diversas espécies endógenas e exóticas. Em agosto desse ano, procederam também à construção do convento e da sua cerca, cujas obras só terminariam em 1630, altura em que começou a vida monástica regular. O legado desta passagem ainda hoje é visível, não só na organização do espaço, como também nas várias espécies presentes, como o cedro-do-buçaco.

Além desta variedade, nestas serranias encontram-se vivas as memórias da batalha que opôs as tropas anglo-lusas comandadas por Wellington às tropas francesas, segundo o Turismo Centro de Portugal. Afinal, a 27 de setembro de 1810, a mata foi palco da Batalha do Bussaco, um dos episódios sangrentos das invasões napoleónicas em Portugal. O convento serviu de base de operações ao duque, no confronto entre as tropas.

Pouco depois, em 1834, a extinção das ordens religiosas decretou o fim da presença dos Carmelitas Descalços no local, segundo a Fundação. Durante cerca de 20 anos, a mata ficou sem qualquer gestão, até transitar para a Administração Geral das Matas do Reino, em 1856.

Daí em diante, passou por uma fase de melhoramentos, incluindo a construção de espaços verdes ajardinados, como o Vale dos Fetos e o Lago Grande, bem como um palácio real de estilo neomanuelino, cujas obras ficaram concluídas em 1907. Foi mandado construir pelo rei D. Carlos I como pavilhão real de caça, tendo sido palco da última cerimónia oficial da Monarquia Portuguesa.

Desenhado pelo arquiteto italiano Luigi Manini, abriu ao público como Palace Hotel do Bussaco em 1917 e conservou a decoração dos tempos da monarquia. Com mais de 100 anos de história, os 64 quartos já acolheram monarcas, chefes de Estado, atores e escritores de todo o mundo. Dias antes do encerramento do concurso para a nova concessão de exploração, a unidade hoteleira conquistou, a 31 de outubro, três prémios nos World Luxury Hotels Awards de 2024, uma estreia. O hotel, contudo, não será o único a ganhar um novo ar.

 
 
 
 
 
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Com o estatuto de floresta terapêutica serão “instalados alguns equipamentos ao longo da mata” com o intuito de dotar o espaço com melhores condições para a saúde pública. As propriedades botânicas e culturais únicas fazem deste local o sítio ideal para a chamada Terapia da Floresta, uma prática ancestral cujos benefícios no bem-estar e na saúde têm sido comprovados por vários estudos científicos.

Esta certificação, atribuída pelo Gabinete Internacional de Certificação de Florestas Terapêuticas, é, também, o reconhecimento do trabalho que tem sido feito ao longo dos séculos para preservar e defender o local, rodeado por árvores de porte e exemplares únicos. O estatuto deverá abrir portas a um novo tipo de turistas através da oferta de experiências que promovem a saúde e a melhoria da qualidade de vida.

“Está expresso, na entrada da Mata com a Bula Papal, que é proibido cortar árvores. Elas são só tiradas quando morrem ou após alguma tempestade que faça com que caiam. Até lá, são frondosas”, sublinhou o presidente da Fundação Mata do Bussaco, Guilherme Duarte, durante a apresentação do Guia de Ecoturismo do Turismo Centro de Portugal, no dia 30 de outubro.

O Programa Regional de Ecoturismo propõe um modelo de turismo sustentável e culturalmente consciente, onde o visitante usufrui de um maior contacto com a natureza e contribui para a sua preservação, minimizando os impactos negativos no território, ao mesmo tempo que se envolve com as comunidades locais.

Apesar de não ter a mesma extensão das grandes florestas da Europa, esta área protegida destaca-se sobretudo pelas cerca de 400 espécies nativas da faixa atlântica portuguesa e outras 300 provenientes de outros climas. Com seis percursos pedestres devidamente identificados, todos são convidados a partir à descoberta da botânica deslumbrante.

O próximo passo é ser considerada Património Mundial da UNESCO, um processo que deverá demorar algum tempo, mas o presidente acredita que, eventualmente, será uma realidade. A entrada na Mata do Bussaco pode ser feita através de uma das 11 portas espalhadas pelo perímetro e é gratuita entre as nove e as 19 horas se for feita a pé ou de bicicleta. Para veículos de duas rodas com motos, o valor de entrada é de 3€, enquanto os veículos ligeiros pagam 7€.

Carregue na galeria para ver mais imagens da Mata do Bussaco, a primeira floresta terapêutica da Península Ibérica.

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