Na cidade

O “pequeno santuário natural” com um miradouro a 883 metros de altitude

Com mais de dois mil hectares classificados e protegidos, é um dos segredos mais bem guardados do norte de Portugal.
Foto: Green Trekker.

Quando as árvores começam a ficar despidas das folhas que ganham diferentes tonalidades no outono, há um lugar no Norte de Portugal que se transforma num verdadeiro cenário de contos de fadas. É muitas vezes descrito como um “pequeno santuário natural” por ser uma das maiores áreas de floresta de carvalhos do País.

A Paisagem Protegida do Corno de Bico, situada em Paredes de Coura, ocupa mais de dois mil hectares e é um dos segredos mais bem guardados do Norte de Portugal. Este espaço é um testemunho do impacto da ação humana na natureza, demonstrando que o ser humano pode transformar uma paisagem granítica, outrora caótica, num cenário verdadeiramente idílico.

Antes da intervenção humana, o Corno de Bico era caracterizado por blocos arredondados de granito, especialmente nas zonas de maior altitude, resultantes de sucessivos levantamentos tectónicos. Esses blocos, dispostos de forma isolada ou sobrepostos, conferiam um “aspeto caótico à paisagem”, descreve a Natural.pt, uma marca promovida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

A transformação começou no século XX, quando foram construídas calçadas, moinhos, espigueiros e fontanários. Na década de 1940, durante o Estado Novo, as campanhas de arborização e valorização florestal iniciadas pelos serviços florestais mudaram o panorama de um espaço verde que até então era ermo, devido à intensa atividade pastoral. Essas iniciativas resultaram na densa floresta de carvalhos, castanheiras, faias e ciprestes que hoje podemos observar.

Atualmente, a vasta área de carvalhal, resultado das arborizações dessa época, é um dos principais destaques do Corno de Bico, classificado como Paisagem Protegida em 1999. Os vestígios de civilizações passadas, como povoados fortificados, monumentos funerários do neolítico e marcos miliários (indicadores da milha romana), são testemunhos de outros tempos.

A ocupação humana começou pelos topos das montanhas, onde foram erguidos monumentos como o complexo de mamoas de Chã de Lamas e o Castro de Cristelo. Com o passar do tempo, as pessoas desceram para as áreas ribeirinhas, convertendo-as em terrenos agrícolas. Assim surgiram as levadas, escavadas a partir de riachos e ribeiros, que transportavam água das montanhas para o vale.

Os indícios da influência humana na paisagem são evidentes e refletem “a ainda vigente ruralidade e o esforço do povo que tem habitado esta região”, detalha o ICNF. O carvalhal é a formação vegetal predominante, representando cerca de 25 por cento da paisagem, embora existam outras comunidades vegetais de igual relevância, como os bosques ripícolas que acompanham os cursos de água, dominados pelo freixo-de-folha-estreita.

A fauna da região é igualmente diversificada e é possível encontrar por lá mamíferos como o lobo-ibérico, e uma vasta gama de aves. No total, já foram identificadas mais de 188 espécies de vertebrados e 439 espécies de plantas.

Uma das melhores maneiras de apreciar a grandiosidade desta paisagem é a pé, existindo diversos percursos disponíveis. Um deles é o Trilho do Corno de Bico, que se estende por 7,5 quilómetros e começa no lugar do Túmio, na freguesia do Bico, onde a estrada asfaltada dá lugar a um caminho de terra.

Em pouco tempo estará no interior da floresta e o caminho irá conduzi-lo pelo Alto do Espinheiro até chegar ao miradouro natural do Corno de Bico, que se ergue a impressionantes 883 metros de altitude. “Localizado num dos pontos mais altos do concelho de Paredes de Coura, oferece uma vista panorâmica sobre a região e as principais serranias circundantes”, salienta a autarquia.

Deste miradouro natural, rodeado de blocos graníticos, a paisagem abre-se para os vales dos rios Coura, Vez e Lima. A subida até ao topo é marcada pela abundância de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas, que criam um habitat incrível para a variada fauna local.

O percurso prossegue por uma estrada florestal, acompanhada por pequenos cursos de água que descem a encosta em socalcos. Apesar do circuito estar sinalizado, é necessário ter atenção às marcas, uma vez que muitas se encontram camufladas pelo arvoredo.

Carregue na galeria para ver mais imagens deste “santuário natural” no norte do País.

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