“Obrigada a ti, Lisboa, que ficarás na memória destes jovens como casa de fraternidade e cidade de sonhos”. As palavras foram do Papa Francisco na última vez que esteve em Portugal, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no verão de 2023. O Sumo Pontífice, nascido na Argentina, faleceu esta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos.
Mais de 1,5 milhões de fiéis deslocaram-se à capital portuguesa, entre os dias 1 e 6 de agosto de 2023, para viver aquele que é considerado o maior acontecimento da Igreja Católica.
“Deus ama-nos como somos, não como queríamos ser ou como a sociedade queria que fôssemos. Cada um na sua língua repita comigo: Todos, todos, todos”, disse o líder da Igreja Católica durante o evento, naquela que se tornou uma das frases que marcou esta edição da JMJ.
Milhares de peregrinos escolheram pernoitar no Parque Tejo para marcar presença na missa de encerramento do líder da Igreja Católica no seu último dia de visita ao nosso País. Para o Papa Francisco, a Jornada Mundial da Juventude realizada em Lisboa foi “a mais bem preparada” que já viu, além de ter sido uma “celebração muito bonita”.
Foi, também, um momento inesquecível para quem o viveu, como a jovem espanhola Jimena, que diz ter recuperado a visão durante a JMJ, depois de rezar em Fátima, e para Lara, de seis anos, que foi diagnosticada com uma doença grave e rara, e que foi benzida por Francisco.
Lisboa recebeu pessoas de todo o mundo, desde Omã, país do Médio Oriente, à Micronésia, uma nação insular da Oceânia. Todos os visitantes falavam línguas diferentes, mas gritavam, numa só voz: “Papa Francisco!”. Cantavam e dançavam ao som das mesmas músicas e explodiam de emoção quando viam chegar o Sumo Pontífice.
Durante o evento, o Papa Francisco, que ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos, presidiu a celebrações no Parque Eduardo VII, no Parque Tejo e no Passeio Marítimo de Algés, mas também teve oportunidade de visitar alguns bairros da capital portuguesa e de se reunir com vítimas de abusos na igreja.
No regresso a Roma, o líder da Igreja Católica não escondeu o orgulho e a satisfação relativamente à JMJ, afirmando que a edição — a quarta desde que é Papa — foi também “a mais numerosa”. Durante a cerimónia, partilhou a sua maior ambição: “o sonho de paz, o sonho dos jovens a rezarem pela paz, a viverem em paz e a construírem um futuro pacífico”.
No Airbus A320 da TAP, que partiu do aeroporto do Figo Maduro, em Lisboa, com destino à capital italiana, foi servida uma refeição especial ao Papa Francisco e à sua comitiva, criada especialmente por Vítor Sobral. O objetivo do chef foi criar uma última recordação de portugalidade, pelo que optou por produtos portugueses de vários pontos do País, como presunto bísaro, queijo Serra da Estrela e compota de figo.
A única exigência do Papa Francisco foi mesmo a de serem servidas pequenas doses — à semelhança do que aconteceu em todas as refeições realizadas em Portugal. Afinal, o Papa não gostava de desperdício, nem que se estragassem alimentos. De resto, e apesar da preferência de Francisco por fruta como a banana, não existiu qualquer imposição à criatividade do chef Vítor Sobral, que teve toda a liberdade para criar esta refeição especial para o voo da TAP, que levou o Papa de regresso a Roma.
“No meu regresso a Roma, no final da minha viagem apostólica, quero, uma vez mais, expressar a minha profunda gratidão a sua excelência [Presidente da República] e ao povo de Portugal, pela receção calorosa e hospitalidade que recebi durante a minha visita”, leu-se num telegrama que Francisco enviou a Marcelo Rebelo de Sousa.
A primeira visita do Papa Francisco a Portugal
A JMJ não foi a estreia do Papa Francisco em Portugal. Já em 2017 o líder da Igreja Católica foi seguido por milhares de fiéis em Fátima, quando visitou o País para as celebrações do Centenário das Aparições de Fátima, de 12 a 13 de maio. A visita ficou marcada pela canonização oficial dos dois pastorinhos ainda vivos, Jacinta e Francisco Marto.
O Papa chegou ao Santuário a bordo do papamóvel, tendo sido saudado por milhares de pessoas ao longo do caminho, que lançaram pétalas de rosas para marcar a sua primeira presença em Portugal.
No primeiro momento do programa oficial na Cova da Iria, Francisco rezou em silêncio, durante oito minutos, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, na Capelinha das Aparições, após ter colocado um ramo de flores junto à imagem da Virgem. A oração foi repetida pela multidão de centenas de milhares de pessoas, que acompanhou o pontífice em silêncio, um momento que emocionou o Papa.
“No Santuário de Nossa Senhora, comoveu-me a solidez da fé, a indómita esperança e a ardente caridade que anima o caminho humano e cristão daquele povo santo fiel de Deus”, escreveu depois da visita.
O silêncio de um milhão de peregrinos, o “mar de luz feito por um milhão de velas acesas a noite da vigília”, a “ovação elevada por dois milhões de mãos aos novos Santos Francisco e Jacinta” e o “acenar de lenços brancos à Branca Senhora” foram, para o pontífice, um momento especial.
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