Não é a primeira vez que ocorre em Portugal, mas continua a surpreender. Na noite de segunda-feira, 29 de julho, as ondas da praia de Vila Chã, em Vila do Conde, no distrito do Porto, apresentaram uma surpreendente cor azul fluorescente. Este espetáculo natural, que voltou a ser registado pelo fotógrafo Bruno Costa pelo quarto ano consecutivo, foi partilhado por ele nas redes sociais.
A bioluminescência, o nome dado a este fenómeno, resulta de uma reação química gerada por um gene que emite luz. Esta reação ocorre em diversas espécies, tanto vertebrados como invertebrados marinhos, bem como em alguns fungos e insetos, como os pirilampos. O brilho observado na água é provocado por milhões de algas unicelulares, conhecidas como Noctiluca scintillans, que pertencem ao plâncton vegetal.
“Graças a temperaturas elevadas e à presença de azoto na água, as algas Noctiluca scintillans reproduzem-se, apresentando-se brilhantes e fluorescentes quando agitados pelo mar”, esclarece o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental (CMIA) de Vila do Conde.
A luz que estas algas emitem é conhecida como luciferina e apresenta um tom azul devido ao processo de oxidação que ocorre à noite. Durante o dia, podem surgir indícios da aproximação das ondas luminosas: quando ocorre a floração das algas, elas acumulam-se e colorem a água de um tom castanho-avermelhado, fenómeno designado como maré vermelha.
O fotógrafo Bruno Costa, que reside na área, tem documentado nos últimos quatro anos. Já sabe que, se durante o dia avistar uma maré vermelha, pode esperar a ocorrência da maré luminosa à noite. Os pescadores também costumam observar esse fenómeno no mar, onde podem encontrar tanto a maré vermelha durante o dia quanto a azul à noite. No entanto, como aconteceu na noite de segunda-feira, por vezes as ondas luminosas chegam muito perto da costa.
Este tipo de bioluminescência é encontrado em pouco mais de 1.500 espécies do ecossistema planetário atual. Os cientistas acreditam que a emissão de flashes serve para afastar predadores, mas não representa uma ameaça para os seres humanos.
“É um organismo que devora outras espécies e, portanto, quando há uma elevada quantidade de Noctiluca scintillans, agem como aspiradores, alimentando-se de outros plânctons”, explicou ao jornal “ABC” o professor de botânica aquática na Universidade da Tasmânia, Gustaaf Hallegraeff.
O fenómeno foi documentado pela primeira vez no porto de Sydney, em 1860, e, desde então, tem sido avistado em várias partes do mundo. Em 2018, uma praia em San Diego, na Califórnia, ganhou atenção global devido a este fenómeno, que revelou luminosidades de néon elétrico.
No ano seguinte, o País de Gales fez manchetes pelo mesmo motivo — a “BBC” noticiou que até existem grupos de observação dedicados a este fenómeno, semelhantes a caçadores de auroras boreais, mas focados na bioluminescência marítima.
Carregue na galeria para ver as fotografias captadas por Bruno Costa durante o fenómeno, em Vila do Conde.