“À felicidade não digas que não, a natureza está na tua mão”. Não há dúvidas de que a letra de uma das canções do novo espetáculo do Zoomarine, no Algarve, fica na cabeça — e tem, como todas as outras apresentações do parque, um significado. O musical UPBEAT é uma das grandes novidades da temporada de 2024 e juntou-se à programação do Zoomarine logo no dia da reabertura, a 21 de março, com duas sessões diárias. É o primeiro espetáculo deste género no parque, cheio de música, luz, cor e energia positiva.
“Crescemos a visitar parques como a Disney e já há algum tempo que queríamos implementar algo deste género, mas que fosse só nosso. Temos uma produção própria e desenvolvemos coisas que são únicas”, explica à NiT Hugo Brites, diretor de comunicação e marketing do parque.
O logótipo dá-nos logo a entender quem são os protagonistas desta nova exibição: uma arara, uma borboleta e um camaleão, todos animais com personalidades bem distintas. O objetivo era mesmo esse. Se, por um lado, a arara é uma ave que “gosta de se mostrar” e que passa o dia a cantar, a berrar e a saltar, a borboleta é um inseto mais sensível e delicado, que está em constante mutação. “É a borboleta quem incentiva à mudança e tenta mostrar à arara que, por vezes, é demasiado espalhafatosa e nem sempre é o momento certo para o ser”, sublinha.
Depois surge o camaleão, um réptil que gosta de estar escondido e não dar muito nas vistas. Vive no tempo dele e muda de cor quando quer fugir ao perigo. Com as duas companheiras, percebe que, em determinados momentos, é preciso sair desta fase estática.
“A ideia é perceber como estes comportamentos do mundo animal podem ser um exemplo para o humano. Tem que existir uma mudança no comportamento para preservarmos a natureza, estar ciente do que precisamos de fazer”, refere.
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Não são precisas grandes palavras para expressar a ideia que o UPBEAT pretende transmitir, pelo que os cerca de 25 minutos do espetáculo são repletos de momentos de dança, música e energia contagiante. O elenco é composto por oito atores e dançarinos e o responsável por dar vida ao novo espetáculo do Zoomarine foi Paulo Oom, que já trabalha com a vertente artística do parque há vários anos.
A novidade, apesar de ser ligeiramente diferente de tudo o que existe espalhado pelos 36 hectares do parque, segue a mesma linha de pensamento de todas as outras apresentações e até mesmo atrações: mais do que divertir o público, procura passar uma mensagem importante sobre os animais, a conservação, a sustentabilidade e a natureza. Afinal, esse foi, segundo os responsáveis, o principal propósito do Zoomarine desde a sua abertura a 3 de agosto de 1991.
Como tudo começou
O impulsionador deste projeto foi o argentino Pedro Lavia, agora com 83 anos, que começou no mercado de trabalho a fabricar carrosséis e equipamentos de diversão, com muitas digressões pelo meio. Tudo mudou em 1969 quando, numa feira internacional da Liga Naval Argentina, em Buenos Aires, teve o primeiro encontro com golfinhos. Foi um amor à primeira vista que o levou a aprender tudo sobre estes mamíferos marinhos, como transportá-los, alimentá-los e, acima de tudo, cuidar deles.
Sem dar conta, nasceu o desejo de ter um parque. Viajou até ao Brasil, Itália e França à procura do lugar certo para concretizar o sonho, mas foi em Portugal que aterrou e por cá ficou.
Começou por inaugurar o delfinário do Jardim Zoológico de Lisboa, que já existia, mas ainda tinha a ambição de construir um parque de raiz. Foi nessa altura que se deparou com o Algarve, o destino perfeito para avançar com a ideia. 22 meses após a primeira visita ao terreno, o Zoomarine abria portas. Já foi há mais de 30 anos, mas Pedro Lavia continua a visitá-lo todos os dias, com a mesma paixão do início.
“Numa primeira fase era para ser apenas um parque zoológico, mas queríamos trazer um conceito diferente, trazer consciencialização dos problemas no meio aquático e dos oceanos, bem como os problemas com espécies em extinção”, explica Hugo Brites. Já existia o Jardim Zoológico e a Feira Popular, em Lisboa, mas ainda não existia nenhum espaço que juntasse tudo isto. Até que chegou o Zoomarine, um parque aquático, zoológico e de diversões. “A ideia sempre foi proporcionar um bom dia aos visitantes, mas oferecer também educação ambiental de forma divertida”, diz.
Ao longo dos anos, têm vindo a ganhar reconhecimento especialmente na área da investigação científica. Foi o primeiro parque a fazer inseminação artificial do golfinho e daí nasceu a Alfa, em 2006, a primeira bebé-proveta do mundo. Em 2011, o espaço foi distinguido com o Prémio IAAT por terem criado um equipamento inovador de diagnóstico que permite avaliar as condições médicas nas patas das aves, independentemente da sua espécie. Trata-se de um podoscópio, uma espécie de caixa retangular com um espelho invertido no interior, que foi distribuído gratuitamente pelo mundo inteiro.
Porto d’Abrigo
Ainda antes, em 2002, o Zoomarine inaugurou o Porto d’Abrigo, o primeiro centro de reabilitação de espécies marinhas em Portugal, devido à ausência de uma estrutura física no nosso País. Há mais de 20 anos que a equipa zoológica se dedica ao resgate, reabilitação e devolução ao meio natural de animais marinhos e aquáticos.
Ainda em recuperação está a Voldetort, uma tartaruga que foi encontrada arrojada numa praia em Grândola, a 12 de fevereiro. “Costumamos batizar sempre os animais por ordem alfabética. Este ano é o V. O nome surgiu porque a tartaruga apresentava várias feridas distribuídas ao longo do corpo, nomeadamente o osso do nariz que estava exposto, daí o nome da personagem de Harry Potter”, explica o biólogo marinho Yohann e a responsável pela área da conservação Isabel Gaspar. Assim que recuperar totalmente, voltará a ser devolvida ao mar.
As rotinas dos animais
Desde 2017 que o Zoomarine tem a certificação da American Humane, uma organização de cariz humanitária dos EUA e uma das mais relevantes organizações de certificação de práticas de bem-estar animal. Foi um dos primeiros zoos da Europa a obtê-la e tem vindo a renová-la desde então.
Contudo, a discussão sobre a forma como os golfinhos, as focas, os leões marinhos e todos os outros animais são tratados em espaços como este continua bem acesa. É um tema de debate que é impossível de ignorar: muitos defendem que estes animais devem viver livremente no seu habitat; outros acreditam que é ali que conseguem viver uma vida longa e feliz.
A NiT foi conhecer um pouco do dia a dia dos tratadores e dos animais para perceber como é a sua rotina. Ainda antes de se entrar para o complexo de lagoas com cerca de 10 milhões de litros de água do mar, num habitat com uma profundidade que varia entre um a cinco metros, é impossível não reparar na estátua que se encontra logo à frente: uma homenagem ao golfinho Sam, que foi considerado o mais velho de sempre até à data da sua morte. Viveu 51 anos e foi o grande responsável por criar a grande família de golfinhos roazes (os que têm mais afinidade com o ser humano) que existe atualmente no parque aquático.
A Missy, de 44 anos, é a mais velha do parque. O mais novo da família é o Neo, com quatro anos. Ao longe parece ser impossível distingui-los, mas os tratadores já conhecem bem as características (e os sons) de cada um. A maneira mais fácil de os reconhecer é olhar para a parte de trás da barbatana dorsal, que tem recortes naturais.

Apesar de tentarem criar uma rotina diferente todos os dias, a base principal acaba por ser sempre a mesma. O dia começa com sessões de alimentação, que são também sessões de treino, onde os golfinhos comem e brincam ao mesmo tempo. São alimentados várias vezes ao dia, sempre a horas diferentes e quantidades variadas. Por norma, comem entre 8 a 12 quilos de peixe por dia, apesar de cada um ter uma dieta personalizada. “É como se fossem atletas profissionais”, brinca Vitor Estanqueiro, responsável pela área.
Apesar de terem cerca de 100 dentes, não funcionam exatamente como a dentição humana: utilizam-nos apenas para capturar as presas e não para comer. Outra diferente é o facto de não terem dentes de leite, o que significa que vão perdendo alguns ao longo do tempo. “Vão sofrendo desgaste com a idade, tal como acontece connosco. É por isso que temos golfinhos com a dentição completa e outros não”, conta.
É no momento da alimentação que os tratadores conseguem perceber se está tudo bem com o mamífero. “Somos os primeiros olhos dos veterinários. Conseguimos perceber que algo se passa se tiverem uma natação mais lenta, um olhar mais reprimido. Tudo isso são indicadores de que algo pode não estar bem”, explica.
Outra curiosidade é o facto de não dormirem como nós. Na verdade, dormem com um olho aberto e o outro fechado. Quando o hemisfério direito do cérebro descansa, é o olho esquerdo que fica fechado e vice-versa. “Percebe-se que uma das partes está a dormir quando a natação é mais lenta ou estiverem mais parados”, refere o responsável.
O dia a dia das focas e leões marinhos
O tema de debate também se estende às focas e aos leões marinhos que, ao contrário do que costuma acontecer no mar, vivem em perfeita sintonia no Zoomarine. Há quem tenha dificuldades em distingui-los, mas é bastante fácil: as focas não possuem orelhas e usam as barbatanas posteriores para nadar e rastejar, um pouco como as lagartas, enquanto os leões marinhos têm orelhas e apoiam-se às barbatanas peitos para andar em terra.
São conhecidos como os lobos do mar e bastou uma primeira interação com um dos leões marinhos para perceber porquê. O Anúbis, um macho californiano de 22 anos (uma das quatro espécies presentes no parque), é o verdadeiro galã do Zoomarine. Adora atenção e está sempre pronto para brincar— prova disso era o brinquedo que estava no chão depois de ser entusiasmado com as brincadeiras na água.
Assim que viu os tratadores, não escondeu a felicidade e tentava “segui-los” para onde quer que fossem. É pai de dois meninos: o Pancho, com 11 anos, e o Tuga, com oito, que nasceu precisamente no ano em que Portugal ganhou o Europeu.

Assim como acontece com os golfinhos, os tratadores procuram “criar uma rotina diferente dentro da rotina”. Há, contudo, algumas diferenças no que diz respeito aos comportamentos de bem-estar. Isto porque, todos os dias, os responsáveis escovam os dentes — como são mamíferos marinhos criam bastantes cáries — e cortam as unhas. Por norma, os leões marinhos comem cerca de 10 quilos por dia e as focas entre quatro e cinco. Mais do que comer, o que mais gostam é de ficar a apanhar sol durante os meses de verão.
A preservação das rolas de socorro
Não são só animais marinhos que se encontram no Zoomarine. As diferentes espécies de aves também são protagonistas do parque, com um espaço próprio para eles onde interagem umas com as outras. Desde cucos, garça estriada, araras, papagaios, caturritas ou corujas, é impossível não ficar encantado na zona Américas. Mais afastadas destas aves, escondidas numaa gaiolas grandes só para elas, estão as rolas de socorro. Quase que passam despercebidas, mas o mesmo não se pode dizer do trabalho que o Zoomarine tem feito para preservar esta espécie que está extinta na natureza desde 1972.
Juntamente com outros zoos espalhados pelo mundo, o Zoo faz parte de um número restrito grupo com a tarefa de reintroduzir a espécie na natureza, mais concretamente na Ilha do Socorro, do arquipélago mexicano de Revillagigedo.
As primeiras rolas de socorro chegaram ao parque em 2021 e, um ano depois, já tinham nascido duas crias. “A nossa função em particular é a reprodução para que as crias futuras possam depois ir para outros parques e, eventualmente, preparar tudo para a sua reintrodução na natureza. É um processo longo. ”, explica Vasco Alves, responsável pela área.
Por ser uma espécie que já não existe no meio selvagem, a sua reintrodução tem de ser feita num número elevado, para evitar que sejam apanhados por eventuais predadores. Atualmente, só existem 170 indivíduos desta espécies, distribuídos por 35 zoos pelo mundo.
A nova atração do Zoomarine
Mais do que educar os visitantes para temas relacionados com a conservação, proteção dos oceanos e sustentabilidade, o Zoomarine é também um espaço de entretenimento. Quando abriu, em 1991, tinha pouco mais do que uma piscina, mas agora há diversões para todas as idades.
A cada ano que passa acrescentam uma novidade ao catálogo — e todas elas têm um propósito relacionado com a temática. “Todos os anos fazemos um questionários aos visitantes para perceber o que é que eles gostavam de ter aqui. Ao início pediam-nos mais atrações familiares, agora procuram também atrações com mais adrenalina”, explica.
Em 2013, por exemplo, inauguraram a Baía dos Piratas, um espetáculo acrobático com heróis de pala e espada que descobrem o maior tesouro de todos: uma planta. Dois anos mais tarde, após um incêndio numa das áreas do complexo, abriram o Jurassic River, um rio lento onde os visitantes passam por dinossauros à escala real pelo percurso. Já em 2023, a grande novidade foi o Quetzal, um escorrega cheio de adrenalina inspirado na ave mítica da América Latina, que é azul e verde e tem uma cauda enorme. O equipamento de diversão aquática tem mais de 178 metros.
Este ano, preparam-se para inaugurar, no mês de junho, mais uma atração: o Iguaçu, inspirada nas cataratas do parque nacional homónimo situado na fronteira entre o Brasil e o rio Paraná. O trajeto inspirado nas famosas quedas de água vai ter descidas empolgantes e uma “névoa refrescante”.
Tal como nos anos anteriores, o Zoomarine continua a destacar o compromisso com o ambiente e promoção do bem-estar animal. “É prioridade máxima a defesa e garantia do bem-estar animal das espécies que compõem a família zoológica. A componente de promoção da educação ambiental é indissociável da missão do parque e, como tal, fará parte da oferta disponibilizada”, asseguram.
Cada visitante, além de ter a oportunidade de aproveitar o momento e as inúmeras atrações, estará a apoiar projetos de conservação e reabilitação animal. Isto porque parte das receitas dos bilhetes serão doadas para as várias causas que o parque temático apoia, como a Yaqu Pacha, o World Parrot Trust e a Marine Mega Fauna Foundation.
Os bilhetes podem ser comprados online e custam 27€ para adultos e 18€ para miúdos até aos 10 anos durante a época baixa, enquanto os bilhetes para os meses de verão custam 33,50€ e 24,50€.
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